setembro 24, 2014

Casa dos segredos ao léu com tudo a meter a «mão no pote»

Hoje está a apetecer-me dar uma de moralista… ou de ético, ou de qualquer coisa, por aí, perante alguma despudorada prostituição que transpira do ideário e da prática dos nossos pequenos políticos caseiros.

Nada que sirva para alguma coisa, claro. Mas é sempre um exercício de terapia ocupacional, profiláctica e desentupidora de vias respiratórias que, com uns laivozinhos de esperança agarrados, até pode ser que seja lido e entendido por um ou dois companheiros desta caminhada de não sabermos por onde vamos, nem para onde.

E não preciso de ir muito longe. Basta-me recuar até ontem. Vejamos:

- Passos Coelho demitir-se-á se ficar provada, por parte da Procuradoria Geral da República, alguma irregularidade na sua conduta, nomeadamente tributária e mesmo se prescrita, …  Aproveita para fazer esta extraordinária declaração na presença de Martin Schultz, presidente do Parlamento Europeu, com tradutor à ilharga, para que não subsistam dúvidas e, quiçá, para suscitar em Martin Schultz a hesitação quanto à importância do pagamento dos impostos, em Portugal, desde logo começando pelo seu primeiro ministro, tendo em vista a concelebrada retoma económica.

Quantos pontos de exclamação mereceria o parágrafo anterior? Trinta e oito? Quarenta e cinco?

Andaremos todos ébrios, anestesiados, emparvecidos para não darmos especial relevo a isto, embotados que estamos com tanta iniquidade?

Ou seja, eu cometo um ilícito qualquer. Mas nem tenho a certeza… é só um se-calhar. O tempo passa e ainda bem, como lhe compete. Como a vida é difícil e complicada, eu, que tendo a esquecer-me daquilo que almocei ontem, que direi de uns milharzitos de euros mensais que abichei há uma data  de anos. O ilícito prescreve. Eu continuo a não me lembrar. Mas se a PGR confirmar o ilícito, eu, homem acima de qualquer suspeita e sério até dizer chega, demito-me. Mas só se sim. Se não, isto é, se a PGR não for capaz de provar, então é porque o ilícito não lembra a ninguém.

Não quer dizer que não exista. Quer dizer apenas que já não lembra a ninguém… e pronto, está tudo fixe!

Mas, afinal, há (houve) ou não o ilícito? Bastará confirmar nos extractos bancários, pois parece-me que a coisa se traduzia na minudência de uns milhares de euros por mês, à data. Depois, cruzam-se esses dados com a documentação arquivada na Assembleia da República, a quem Passos Coelho tinha o dever de prestar contas - isto já para nem falar da competentíssima Autoridade Tributária, que deve ter por lá alguma coisa arquivada, também… - e já está!

- António José Seguro afronta António Costa, atirando-lhe à cara em debate televisivo com o facto de um seu (dele, António Costa) apoiante de vulto ser um daqueles ignóbeis portugueses que vivem no e do caldo da promiscuidade da política com os negócios, à mistura com organizações inconfessáveis… e que, assim ao correr da pena e por inusitada circunstância, também é militante do PS.

António José Seguro terá «dado no produto» na preparação do debate. Será essa a única explicação plausível para tamanha e tão contundente denúncia… que, enquanto actual Secretário-geral do PS, o atinge a ele, António José Seguro, em primeiro lugar e com a força toda.

Então ele tem conhecimento da existência de um tal ente promíscuo no seio das hostes e não lhe move, sei lá, qualquer coisinha: uma averiguaçãozita interna, uma auditoriazeca discreta, um inqueritozinho subtil, a bem da preservação do bom nome e dos valores éticos do partido?   

E denunciá-lo-ia se tal militante, afinal, o apoiasse a ele, António José?

Não! Esgrime, apenas, tal domínio do conhecimento contra o seu adversário político interno, todo ufano em confrontá-lo com essa singularidade de todos coabitarem num pântano que fede e onde, pelos vistos, os fedorentos sobrevivem e convivem alegremente. É o que transparece, pelo menos...

Do tipo: «- Vê lá tu, António, que estás a ser apoiado pelo Godinho Matos, que, vê lá tu a pouca vergonha, é fundador do PS, militante e tudo, promíscuo da política e dos negócios e até paga as quotas deste partido de que sou Secretário-geral…nha-nha-nha-nha-nha…!».

E ninguém lhe perdoará: os promíscuos porque ficarão inseguros à espera da próxima denúncia; os não-promíscuos porque não perceberão o porquê de Seguro ter retido tal informação até lhe ser útil divulgá-la.

Há, nesta atitude, uma tal dose de incongruência e de nonsense que, em boa verdade e assumindo as minhas abissais limitações, me transcende.  

São, então, estes os «dirigentes» dos dois maiores partidos do «arco do poder», eleitos pelos seus apaniguados para, respectivamente e se o bom povo português continuar a votar como vota, encabeçarem os destinos da nação?


Não vejo como distinguir estes fulanos daqueles outros que se vão prostituindo nas casas dos segredos expostos… E o Canadá é um destino actual para viver que a idade não me recomenda, ainda que pense nisso.

10 comentários:

  1. Tu queres é andar com Canadianas...

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    1. rsss agora eu ri, com o teu comentário...

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    2. Sim, sim... tu topas-me. Mas daquelas com furinhos variáveis. Só para se adaptarem à altura de cada um, claro...

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    3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. OrCa, meu Mestre, ri do comentário da São, ok?

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  3. És uma moça risonha, hehehe
    Orca, será "Arco dos Poderes", ou antes "Arco dos Podres"?

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    1. Temos um amigo comum que diz antes que se trata do Arco dos P(h)oderes... O que se obtém, tecnicamente, puxando a comissura do lábio com o dedo mindinho e articulando depois o termo.

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    2. A falta de dentes dá um resultado semelhante hehehehehehe
      Só p(h)ode :D

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