janeiro 23, 2011

Crónica de uma votação atribulada ou do estado de um país a que não devíamos ser obrigados a ter direito


Mais cedo do que tarde, lá fui hoje exercer a minha cidadania. Presente na minha mesa de voto «tradicional», sou confrontado com duas novidades, a saber:
- o facto de ser detentor de um novo cartão de cidadão alterou o meu número de eleitor;
- as mesas de voto não dispõem de meios para apurar qual o novo número atribuído.
Perante a minha estupefacção, solícitos, os meus concidadãos presentes na mesa, informam-me de que disponho de um número para onde posso enviar um sms, informando do número de cartão de cidadão e data de nascimento, o que fiz de imediato.
Supostamente receberia indicação do actual número de eleitor – que julgava eu já constar do cartão de cidadão, o tal que não consegue ser lido em lado nenhum... – e, de posse desse precioso elemento, os membros obsequiosos da mesa dir-me-iam para que mesa da mesma freguesia eu teria sido remetido.
Se aguardasse pela resposta da mensagem, ainda agora, passadas que foram duas horas, estaríamos a olhar uns para os outros, à espera de melhores dias.
Então, apurei que havia, também, três números de telemóvel 91, 96 e 93, para os quais poderia ligar... No entanto, os dois primeiros estavam indisponíveis e apenas no terceiro pude apurar o novo número de eleitor, preciosa informação da qual tomei nota num guardanapo do café, não vá esquecer-me nas próximas eleições... e esperando, também, não perder o guardanapo, agora não menos precioso.
Pronto, agora já votei. Mas poderemos imaginar o efeito desta circunstância aí pelo país fora?
Para além do efeito fácil de passarmos a vida a dizer mal de tudo e de todos, alguém consegue explicar-me porque cargas de água é que eu sou detentor de um extraordinário cartão de cidadão, muito mais caro e de muito menor período de validade que o anterior bilhete de identidade, que não serve para nada nem para ninguém, sendo até preenchido com caracteres tão minúsculos que, sem as respectivas cangalhas, ninguém com mais de 35 anos consegue ler?
Bem dizia o poeta, ai os ais deste país...
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E agora, que já são 21h30 e temos Aníbal Cavaco Silva como Presidente da República, gostaria de congratular José Sócrates pelo excelente resultado eleitoral, que tanto o beneficia e ao seu projecto político.

Depois, o bom povo português queixa-se, o pobre.

3 comentários:

  1. Vês? Vês? O meu velhinho cartão de eleitor funcionou.

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  2. Podia o Povo ter dado, ao voto, o sentido supremo da Nobreza. Algo que fosse Defensor dos valores que a História, ela própria qual Deusa, tivesse Alegremente assente no barro do qual se faz o Povo.
    Mas não...
    Mais uma vez se adiou o sonho. Chego a pensar se terá sido por engano ou avaria que o Ovni do 25 do A teria poisado neste canto do mundo, ou se apenas teria sido um instante de devaneio, um salto tão fulgurante quanto efêmero de Coelho a escorregar para a ilusão do refúgio seguro que na verdade é o estômago do lobo: "aquiLO, PESe embora julgares ser uma toca, é a boca que te come...."
    Assim, perante Nulos e Brancos que somam mais de 6% e dariam segunda volta, vence o Bolo Rei, esse onde eu jamais votaria, (nem votei) por mais sugestivo que tivesse sido o tabalho dos opinion makers ao transformar o seu mais que vetusto bolor discursivo em amena Cavaqueira...

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  3. Charlie, que tal vocês passarem a "transformar" estes vossos comentários em posts? Aqui ficam um bocado perdidos... e é pena.

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