janeiro 15, 2011

lá vai uma, lá vão duas, três pombinhas a voar...

Aprecio sobremaneira dedicar alguma atenção ao que se vai passando pelo mundo, não de forma sistemática, academista ou erudita, mas assim ao correr da pena das opiniões, que cada um tem a sua, e nada como uma saudável esgrima das mesmas para mantermos os neurónios funcionais.

É apenas por isto que estou a partilhar convosco duas ou três, muito fresquinhas, quais brancas pombas no ar voando, que respigo do jornal que hoje acompanhou as torradas da manhã acinzentada deste sábado.

Lá vai uma: Carla H. Quevedo, opinativa no jornal Metro, em artigo que intitula Homofobia e Liberdade de Expressão, arrepia-se, a partir do recente caso passional (?) ocorrido nos States com protagonistas portugueses, com os comentários homofóbicos que pululam, a propósito, em tudo que é caixa de comentários. E chega a questionar-se se Portugal não será um país de homofóbicos, em extrapolação abrangente e perturbadora.

Claro que se imagina que a pergunta seja retórica. Mas também retórica, ainda que algo infeliz, é a sua afirmação, supostamente em defesa da liberdade de expressão, pela qual nos faz saber que, em sua opinião, «a balbúrdia inerente à democracia é preferível à compostura própria do politicamente correcto».

Esta da «balbúrdia inerente à democracia» é que não lembra ao demo. Foge-nos, assim, de quando em vez o pezinho para o achinelado dos conceitos e tudo se estraga e tudo se revela. Será que a nossa senhora opinativa terá querido referir-se à diversidade e, canhestramente, lhe chamou balbúrdia? Ou desconhecerá o significado do termo que, ingenuamente, assim achincalha a democracia? O tempora     

Mas louvo-lhe a apreciação inicial desassombrada, ao referir o caso como sendo (mais um) de violência doméstica. Na verdade terá sido apenas isso o que motivou uma morte, quaisquer que sejam os outros contornos. Uma banalidade, pois, se atentarmos à quantidade de mulheres mortas em cada ano que passa, também por violência doméstica, sem um milésimo da projecção mediática, em todos os casos somados, que este lamentável incidente imerecidamente teve. O mores

Lá vão duas: televisão e jornal encresparam-se de novo com notícias sobre um estudo da Universidade de Trás-os-Montes versando a possível incidência do radão como causa de cancro e com especial incidência na região de Amarante, já que o radão existe no granito e este, como é sabido, tem larga aplicação habitacional com especial incidência no Norte do país.

Já não é a primeira vez que tal informação nos assalta, não sei se com o intuito de criar mais um mito urbano, ou se, na verdade, para nos alertar para qualquer coisa que não se sabe bem o que seja…

E digo isto porque não me consta que exista algum estudo que, em paralelo, nos demonstre, no terreno, a incidência de casos de cancro que o tal radão esteja a ocasionar.

Uma coisa sem a outra, pode ser muito bem intencionada, mas há-de ir parar ao inferno das lixeiras tóxicas porque não nos serve para nada.

Ou o estudo da respeitável Universidade está incompleto, ou o filtro da nossa comunicação nos está a esconder o essencial, promovendo uma vez mais o medo, o pavor irracional como modo de dominação das consciências.

Então, como é? A malta de Amarante deve começar já a demolir as casas e o património, com ou sem apoios de Bruxelas, ou isto é só a gente a falar?

Três pombinhas a voar: Cascais e Oeiras fedem graças à existência da estação de tratamento de lixos de Trajouce. Coisa grave, de saúde pública, e que, para além da pestilência inerente, cheira pior porque tal pestilência já se verifica há cerca de vinte anos.

Já há uma data de anos atrás, quando confrontado com a evidência, em deslocação oficial às instalações para verificação do seu alto nível de sofisticação mas perante as queixas dos cidadãos – chegou a dizer-se que haveria uma unidade idêntica no andar inferior de um restaurante no Mónaco, salvo erro – Mário Soares, projectando abdominalmente a opinião, qual Galileu dos tempos modernos, afirmou perante o óbvio: «- E, contudo, fede!».   

Ora, desta nova queixa generalizada por parte da população, o senhor Domingos Saraiva, apresentado como responsável por tal unidade e depois de referir que «todas as instalações da Trtatolixo estão muito degradadas», avançou com esta piramidal evidência: «- Nós percebemos que o mau cheiro existe, mas não conseguimos alterar enquanto não fizermos obras»…

Querem melhor certificado de honestidade, de probidade, que a deste ilustre cidadão? Ora, vá lá, deixem-se disso!

Deve ser esta – digo eu – mais uma prova cabal da tal «balbúrdia democrática» a que a Carla Quevedo se referia.

Continuemos, então, tranquilamente a fazer o favor generalizado de sermos felizes.

7 comentários:

  1. Esse cheiro do lixo não será causado pela balbúrdia?

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  2. E é por causa de alguém ter dito "Eppur si muove" que adoro andar de, (mas tenho um medo imenso ao andar de) avião...
    E é pelo mesmo motivo que não quero por cá centrais nucleares, por mais perfeitas e garantidas absolutidades que os pseudo-independentes-dos-poderes-politico-económicos dêem sobre essas monstruosidades tecnológicas. ( e sei do que falo, pois estou na área da tecnologia) É pelo mesmo motivo, que não quero que me prometam uma reforma espectacular se me desviarem os descontos dos anos melhores da vida para os confins do esquecimento, Eden das promessas.
    Porque nada é perfeito, mas a mais imperfeita das imperfeições é essa que promete o bem futuro, apresentando a insatisfação imediata como moeda passageira; um investimento para o bem a alcançar, elevado assim ao plano da transcendência mítica.
    As lixeiras, (centros de tratamento de resíduos urbanos sólidos) apresentadas como superhipers da tecnologia e garantias ambientais, apenas o são se receberem dinheiro para serem o que deveriam ser por si mesmas, de forma natural e sem hipotecas aos mecanísmos que levam a Humanidade a dispender uma tonelada de resíduos por cada ervilha que consome.

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  3. A propósito de ervilhas, já vos falei do meu invento da máquina de embalar ervilhas? Não tem quaisquer resíduos! É assim: uma haste segura por um tripé. Da parte de cima dessa haste, sai uma calha de secção semicircular em espiral, descendo até perto da base. Pega-se numa ervilha e coloca-se no topo da calha. Larga-se... e ela desce, cada vez mais depressa... zzzz.... zzzzzz... zzzzzzzz... e sai embalada!

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  4. Um enorme hahahahahahaha

    e se for bem embalada, basta estar de boca aberta na extremidade da hélice descendente.
    Sem resíduos desnecessários, o único senão e a possibilidade dum engasgue... por falta de pedalada, digo, gargantada nos desembalar ;)

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  5. Vá, vá... não me tires mérito ao invento!

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  6. gostaria de publica-se o texto na integra do livro da luisa dacosta la vai uma la vai duas - felicidade é o que temos é o que somos.
    fico no aguardo
    01/02/2011

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  7. Se eu conhecesse esse livro, a sua autora e o autor deste comentário, ainda tentaria responder...

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