Verão de 1997... (...) Tocaram à campainha, eu calma, estranhamente calma, espreitei pelo óculo para ver o que me calhava e... e... era um sapo! Um sorridente sapo! Um sapo com um sorriso de orelha a orelha, tão contente que quase saltitava ao perceber-me espreitar! Abri-lhe a porta. Entrou, contente, contente, agarrou-me, deu-me duas beijocas e disse-me o nome. Não sei como fomos parar à cama, não sei se tomámos banho, não me lembro. Sei que continuava com a estranha calma de quem está a ver um filme. Lembro-me do sapinho deitado em cima da cama, de barriga muito redonda para cima, de óculos na cara, sempre de sorriso feliz, feliz! Lembro-me das mãozinhas sapudas e desajeitadas que me agarravam o peito com a pontas dos dedos e o abanavam. Lembro-me de estar de quatro, ele a gemer muito, os lençóis escorregavam, terminou assim, feliz e contente. No fim, quando saí um pouco da sensação de filme, percebi: esqueci-me de usar preservativo!!! O homem, já vestido, estendia-me o dinheiro, agarrei-o na mão, deu-me duas beijocas e levei-o à porta. Fui tomar banho, vesti-me, tirei o lençol da cama, meti lençol e toalhas na roupa suja. O telefone toca, atendo, era a Glória a avisar que a hora tinha terminado. Contei o dinheiro, eram vinte cinco contos, lembro-me que pensei que era imenso dinheiro. Não ter usado preservativo ainda na minha cabeça, a cansar-me, o filme persistia e voltei a flutuar. Saí, voltei ao escritório das apresentações. Entreguei o dinheiro, sentei-me na sala e nem tive de pensar, "meninas, apresentaçããããão!", lá fui, desfile, sala, mais duas vezes quase seguidas se repetiu esta cena: "meninas, apresentaçããããããão!", "Joana, vem, rápido", chamava-me a Ana, é meia-hora no apartamento x, toma a chave, o senhor paga aqui, já vai lá ter. O autómato Joana agarrou na chave e na mala e lá foi. Porta do prédio, elevador, porta do apartamento, entro, não sei quem lá vem porque foram várias apresentações seguidas e não fixei nenhum dos homens, aliás, nem sequer os vi, tinha o olhar desligado. Batem à porta, espreito pelo óculo e...
Li e não sei o que comentar...pena dela ou dele ...rotinas amassadas pelo desejo...consumo ...desejo sem paixão...
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