maio 20, 2013

A posta que pró ano é que é


Ser adepto deste ou daquele clube é resultado de tantos factores aleatórios e acontece em tão tenra idade que raramente nos lembramos do momento, do tempo e das circunstâncias, em que decidimos abraçar para a vida um emblema e uma cor.
Não nascemos adeptos, mesmo quando nos inscrevem como sócios ainda antes de nos imporem outra canga que é a do baptismo. Fazem-nos adeptos ou apenas embicamos para este ou aquele amor à camisolaporque sim.

Podemos questionar ou mesmo alterar a nossa opção partidária, a nossa relação amorosa e repensar inúmeras escolhas de caminhos ao longo da vida. Porém, o clube que é o nosso agarra-se à pessoa como uma cor de olhos ou um sinal de nascença.
Perca ou ganhe, é o nosso clube. Por ele gritamos, por ele choramos, por ele torcemos uma vida inteira. E a cada novo jogo, a cada nova época, a cada nova etapa, a esperança de vencer é renovada e não existe martírio suficiente para nos vergar nessa paixão.

É impossível de explicar este apego a uma colectividade de forma racional. É mesmo de um amor que se trata, braço dado com uma fé tão inquebrantável que mais facilmente a pessoa deixa de acreditar em Deus. Sobretudo quando este último nos prega partidas tão dolorosas como as duas seguidas que o meu Benfica sofreu.
Tivemos dois pássaros na mão e ambos os casos a ave, mesmo à beira de uma daqueles voos dignos de uma águia, morreu.
Dói imenso, por quão ridículo possa soar a quem passe ao lado destes fenómenos tão estranhos como a loucura da paixão por um clube e acima de tudo, numa hierarquia inquestionável, pela sua equipa de futebol. É coisa para fazer um homem chorar, de alegria como de tristeza, sem que alguém ouse questionar por isso a sua dureza e masculinidade como ainda acontece e muito quando essa manifestação surge associada a outro tipo de emoções.

Ser benfiquista, o meu drama pessoal, é coisa de uma intensidade quase insuportável de tão perturbadora do estado normal de consciência de uma pessoa. É toda uma montanha russa de emoções arrebatadoras, jornada após jornada, taça após taça, títulos conquistados e outros, sempre demasiados, a escaparem para um qualquer dos rivais do costume.

Ser benfiquista é uma pessoa deitar as mãos à cabeça mergulhada num desalento esmagador quando se enfrenta uma derrota.
Mas também é uma constante renovação desse amor que tanto nos trai, é um renascer das cinzas, permanente, depois de perdoados todos os desgostos, de ultrapassadas todas as arrelias. Cerramos os punhos numa gana danada de pró ano é que é e defendemos a nossa dama contra tudo e contra todos, sem ponderar sequer a hipótese de uma desistência por muitas que sejam as ocasiões em que saímos a perder.

Há casamentos que resistem com muito menos do que isto para dizer.

2 comentários:

  1. Bem, caro Shark, se esta paixão clubística tivesse incidências similares, mesmo remotas, em casamentórios e outros enlaces conjugados, cedo acabaria o negócio dos divórcios, carais!

    Fidelíssimos, até que a morte os separe e nem os fora-de-jogo contariam...

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