No visível desespero dos próprios apoiantes dos partidos da coligação que nos governa, cada vez mais desarmados para acudirem em seu auxílio e com a perda de audiências da presença televisiva de Sócrates a privá-los do renascer das cinzas de um culpado mesmo a jeito para a argumentação fácil, percebe-se o quanto as sondagens até acabam por não reflectir na sua verdadeira dimensão o esboroar absoluto da base de legitimação do actual Executivo.
Sejamos claros: já nem a malta de Direita acredita nas hipóteses de sucesso deste grupo heterogéneo de pessoas a quem o poder foi confiado nas circunstâncias que se sabe e de entre a mesma falta de alternativas que nos aguarda em futuros plebiscitos.
Falha-lhes o talento para o jogo político, a credibilidade para a mobilização popular em torno das suas medidas bizarras e, em muitos casos, simplesmente cruéis, a consistência para consolidar uma imagem de força que colmate as várias debilidades da sua forma de controlar o poder e, acima de tudo (e nem quatro Poiares bem maduros conseguem apagar o rasto de imbecilidade deixado pelo inenarrável Relvas), falta-lhes a inteligência que nos poderia valer.
Depois de assente o pó da desilusão inicial, os portugueses agitaram-se e quase roçaram a revolta chegando a haver quem temesse uma nova Grécia nas nossas ruas. Claro que foi sol de pouca dura e depressa a população acabou enfraquecida pelo próprio efeito de uma governação desastrada e desastrosa que nos obriga a centrar atenções nas questões mais elementares da sobrevivência. Quase um milhão de desempregados mais outro milhão de reformados (com pensões sistematicamente alvejadas pelos snipers da rapina estatal) a sustentarem famílias inteiras deixam pouca margem de manobra para a contestação.
Agora, encravados entre um Governo muito incapaz e uma oposição pouco convincente, oscilamos no quotidiano entre o encolher de ombros resignado, a gestão in extremis de recursos financeiros depauperados e os fenómenos quase diários de estupefação perante as asneiras, as tiradas idiotas e as medidas controversas (ou mesmo inconstitucionais) de que a Comunicação Social e o seu batalhão de notáveis desertores analistas, maioritariamente da mesma área política da quadrilha liderada por Passos Coelho, nos dão conta.
O banana no topo do bolo é uma velha glória dos dias felizes do esbanjamento dos milhões que a Europa nos ofereceu como contrapartida para abdicarmos de boa parte do controlo económico sobre o país. O Presidente da República, esse colosso do anedotário político, deveria constituir a maior esperança para uma solução mas acaba por ser uma das faces mais evidentes do problema: a triste realidade de um poder meio senil que ameaça a Democracia, destruindo-a aos poucos neste caldo em lume brando, num banho-maria de impunidade despudorada, de desorientação mal disfarçada e de um esforço concertado de estupidificação das massas por todos os meios ao alcance da seita de chicos-espertos e de palermas instalados nos diversos poderes.
Entregues a uma corja de oportunistas e de mercenários, mergulhamos aos poucos nas trevas da lei da selva, do salve-se quem puder.
E ninguém faz a mínima ideia do quanto neste período negro Portugal já deitou a perder.
É tão triste que tenhas razão...
ResponderEliminarGrande Shark! Um retrato desabrido e triste e, ainda assim, inpirdor. Boa malha!
ResponderEliminarOlho para a história dos meus excelentíssimos progenitores e olho, depois, para os cem metros com (muitas) barreiras do meu filho... e apenas me ocorre adquirir uma caçadeira de canos cerrados e começar a abater cirurgicamente algumas personagens deste corropio lamentável até eu próprio ser abatido ao balanço desta contabilidade canhestra em que estamos envolvidos.
E - repare-se! - nem sequer referi ainda o meu sequencial olhar para a minha própria vida, pois então o destempero poderia cair em desespero.
Pelo menos, pelo menos, tentemos TODOS lembrarmo-nos em quem NÃO devemos votar.
Faltou-me ali um «s» no inspirador, claro. Deve ser porque a inspiração, ela própria anda pelas ruas da amargura...
ResponderEliminarEnquanto inspirarmos e expirarmos sucessiva e alternadamente, não estará mau de todo.
EliminarFaltou-te um "s" e um "a", deduzo que já foste taxado pelos parasitas. :)
EliminarReceio estarmos a fazer parte de um dos períodos mais negros da nossa História, ainda apenas no princípio do que nos espera.
E garanto que vou saber exactamente em quem não votar, disso não tenhas dúvidas.
Ai isso também tenho como certeza!
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