Exercitemos o contraditório:
Ricardo Araújo Pereira aproveitou a presença no programa Governo Sombra (TSF) para falar de Martim Neves, o miúdo de 16 anos, que ficou conhecido por intervir no Prós e Contras da RTP e rebater todas as ideias da investigadora Raquel Varela relativamente a salários baixos. [via Dinheiro Vivo]
E o Jorge Castro opina:
"Que a senhora doutora foi burra, não tenho dúvidas nenhumas. Burra, preconceituosa e - o pior de tudo - anti-pedagógica.
Agora, desculpar-me-eis, caros amigos, como eu desculpo ao moço, atendendo à idade, mas, para além da agilidade da resposta a argumento tão estúpido, não posso subscrever a tese de que vale mais um salário mínimo do que salário nenhum.
O que valeria mais seria dar cabal cumprimento àquilo que toda a legislação do país consubstancia - nomeadamente com a extinção dos «falsos recibos verdes», esse cancro social com que vamos contemporizando e que hipoteca o futuro deste nosso país...
Temos tendência a dar de barato que um estado de direito é... isso mesmo. Um estado onde as leis são para cumprir por todos e não apenas aquelas que dão jeito e àqueles a quem dá jeito.
É a lógica do «vale mais um salário mínimo do que salário nenhum», sem inspecções oficiais que regulem actividades - como cumpriria ao estado - que levam a que os nossos filhos sejam pornograficamente explorados por tudo quanto é chico-esperto, de maior ou menor peso, seja um Belmiro chuleco, seja um merceeiro de esquina. Seja, aliás, o próprio estado, como as «grandes» empresas deste país.
Não. O nosso trabalho não pode ser vendido arbitrariamente, ao desbarato e sem preço tabelado. Isso, meus amigos, sempre se chamou uma coisa só: escravatura. E creio que ela terá sido abolida - lá está: na lei - vai para uma mão-cheia de anos.
Ao moço faltar-lhe-á crescer, para além do seu indiscutível mérito empreendedor. Ah, e outra coisa, depois preencher a sua primeira declaração de IRS, à séria, e efectuar os descontos para o IVA, gostaria de ouvir, de novo, a sua opinião. Claro, se entretanto não tiver já emigrado, levando a sua capacidade de iniciativa com ele para novas paranças. :-(»
Gostaria de clarificar uma coisa: neste meu comentário não existe qualquer crítica ao moço, da minha parte. Ele faz o que muitos de nós tentam: safa-se e tenta sobreviver.
O que é lamentável é que todos nós, cidadãos adultos e supostamente produtivos, tenhamos permitido que os nossos «governantes» façam gato-sapato das nossas vidas, das nossas esperanças, das nossas ambições, dos nossos anseios e nos tenham a todos bem agarrados por uma espiral de taxas, impostos e desregulamentações de tudo, que nos mantêm reféns de nós mesmos. E, ainda para mais, com medo de tudo e de mais alguma coisa.
O que o moço nos diz, convictamente, é afinal o que todos sabíamos e sempre soubemos. O nosso grande problema é que a nossa experiência de vida mostra que isso não é exequível neste Portugal em que nos tornamos, o tal da bandeira às avessas.
Mas vêem, camaradas e amigos, como até o Ricardo Araújo Pereira - que se aproxima perigosamente da minha tese, aliás, pelo que com o que ele diz me identifico - omite ou se esquece da questão tributária.
É que o grande problema do tal «empreendedorismo», em Portugal, e logo depois da burocracia, cujas demoras levam a que algumas empresas vão à falência antes mesmo de abrir portas, é a questão tributária.
Ou seja, depois de pagar as T-shirts, a restante matéria prima, os equipamentos necessários para a impressão e as despesas de envio; depois, ainda, de tirar o necessário para o seu sustento diário e o que mais for imperativo (seguros, etc.) o jovem Martim tem, ainda o IVA e o IRS. Terá, porventura o IMI ou a renda de casa quando não forem os pais a sustentá-lo. Vai ter a electricidade e a água e o gás; a gasolina ou o gasóleo e as taxas que sobre eles incidem. E as portagens, o contrato com a MEO ou qualquer outra.
E quando chegar ao fim de tudo, talvez apure - como tantas vezes está a acontecer - que o custo final da T-shirt transformou-a num produto tão caro que poucos ou nenhuns lhe chegam. Ou, se as coisas correrem de outro modo, que na loja do chinês mais próximo se vende uma coisa idêntica por um terço do preço.
E aí terá poucos caminhos pela frente: o suicídio é um, que creio não ser o ideal. A emigração é outro, e até tem apoio governamental. A teimosia idealista um terceiro, onde engrossará as hostes dos indignados, dos precários ou outro grupo qualquer de des(en)graçados e desenganados.
Ah, claro, há outra possibilidade: ter uns pais politicamente bem colocados e, aí, a estrada da vida pode ser um paraíso e, muito provavelmente, aos 25 anos já foi administrador de dez empresas públicas e de mais cinco privadas (que vai dar ao mesmo).
E isto não tem nada a ver com o Marxismo (... ou tem tudo). É, apenas o senso comum e a tal experiência da vida.
Daí que eu vá conhecendo tantos pais que, em desnorte e desespero, obriguem os filhos de tenra idade a irem aprender futebol e as filhas a treinarem em alguma passarela da moda, para se alcandorarem a um putativo futuro de sucesso. O que, se virmos bem, será uma outra espécie de suicídio: o do bom senso."
Sem pretender diminuir a análise do Orcastro, com a qual estou de acordo (às vezes há geminações de opiniões...), no entanto a minha mente por vezes dada a algumas considerações laterais, não é que ao olhar a cara do Araújo Pereira no vídeo acima, vi em cima do nariz do dito, um nariz de palhaço, vermelho e tudo, só que não era uma bola, mas tinha os cantos arredondados, e uma seta, para a direita...pensei logo: lá estão estes gajos mais uma vez numa indirecta, a chamar nomes ao iluminado de Boliqueime... Ai se ele dá por isso, Ai, Ai!!!
ResponderEliminarÉ mesmo!
EliminarEu tenho aqui uma grande ideia para uma marca de chapeus e sapatos, ja tenho o logotipo e tudo... Agora preciso é de dinheiro, é que os meus pais trabalham na fabrica onde o martim faz as camisolas e nao teem dinheiro para investir...
ResponderEliminarMas vêem, camaradas e amigos, como até o Ricardo Araújo Pereira - que se aproxima perigosamente da minha tese, aliás, pelo que com o que ele diz me identifico - omite ou se esquece da questão tributária.
ResponderEliminarÉ que o grande problema do tal «empreendedorismo», em Portugal, e logo depois da burocracia, cujas demoras levam a que algumas empresas vão à falência antes mesmo de abrir portas, é a questão tributária.
Ou seja, depois de pagar as T-shirts, a restante matéria prima, os equipamentos necessários para a impressão e as despesas de envio; depois, ainda, de tirar o necessário para o seu sustento diário e o que mais for imperativo (seguros, etc.) o jovem Martim tem, ainda o IVA e o IRS. Terá, porventura o IMI ou a renda de casa quando não forem os pais a sustentá-lo. Vai ter a electricidade e a água e o gás; a gasolina ou o gasóleo e as taxas que sobre eles incidem. E as portagens, o contrato com a MEO ou qualquer outra.
E quando chegar ao fim de tudo, talvez apure - como tantas vezes está a acontecer - que o custo final da T-shirt transformou-a num produto tão caro que poucos ou nenhuns lhe chegam. Ou, se as coisas correrem de outro modo, que na loja do chnês mais próximo se vende uma coisa idêntica por um terço do preço.
E aí terá poucos caminhos pela frente: o suicídio é um, que creio não ser o ideal. A emigração é outro, e até tem apoio governamental. A teimosia idealista um terceiro, onde engrossará as hostes dos indignados, dos precários ou outro grupo qualquer de des(en)graçados e desenganados.
Ah, claro, há outra possibilidade: ter uns pais politicamente bem colocados e, aí, a estrada da vida pode ser um paraíso e, muito provavelmente, aos 25 anos já foi administrador de dez empresas públicas e de mais cinco privadas (que vai dar ao mesmo).
E isto não tem nada a ver com o Marxismo (... ou tem tudo). É, apenas o senso comum e a tal experiência da vida.
Daí que eu vá conhecendo tantos pais que, em desnorte e desespero, obriguem os filhos de tenra idade a irem aprender futebol e as filhas a treinarem em alguma passarela da moda, para se alcandorarem a um putativo futuro de sucesso. O que, se virmos bem, será uma outra espécie de suicídio: o do bom senso.
E lá me fazes acrescentar isso.
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