junho 01, 2013

Ainda a propósito de Raquel Varela, do jovem Martim, do empreendedorismo de trazer por casa e outros bancos alimentares contra a fome e a favor da vontade de comer

No seguimento das minhas pobres reflexões sobre o episódio caricato que correu iutubes e quejandos – conforme aliás ouvi dizer, com o alto patrocínio do BCP, porque isto anda tudo ligado… – e em troca amena de galhardetes com amigo preocupado com o bom nome e a reputação da investigadora Raquel Varela, gostaria de acrescentar um ponto ao que deixei dito, para mais clara interpretação dos meus improváveis leitores:

Eu disse e volto a dizê-lo que Raquel Varela foi burra. Não digo que o seja, que já o tenha sido ou que venha voltar a sê-lo. Utilizei uma expressão coloquial que nos ocorre quando alguém comete uma episódica burrice.

Raquel Varela escorregou numa parada-resposta frente a essa coisa mortífica que é uma câmara de televisão e a sua interrupção intempestiva do discurso do jovem Martim teve mau resultado. Porventura que Raquel Varela não merece, pois abonam a seu favor outros e muitos créditos.

Mas o facto é que daquela escorregadela não se livra e o mais certo é ter de carregar a cruz dos entendimentos apressados por muitos e penosos anos.

Fica o aviso à navegação. Que a ela lhe há-de servir para enriquecer a experiência.

De resto vale o que fica por mim dito na entrada do dia 27 de Maio.

E porventura pelo que poderá parecer estranho efeito de carambola, a ideologia que quer sustentar este «empreendedorismo» é a mesma que subjaz à filosofia dos bancos alimentares.

Desta matéria delicada, em que cada um deve mexer só com pinças e de luvas cirúrgicas calçadas, duas ideias fulcrais me assaltam, a saber:

1 – se é inegável que graças aos bancos alimentares contra a fome se tem dado forte contributo para estancar a vergonha nacional que é, no Portugal do século XXI, haver quem passe fome, não é menos verdade que o modus faciendi, através das grandes superfícies, traz às mesmas um acréscimo de vendas absolutamente fabuloso que sai, uma vez mais e como sempre, do bolso do portuga abnegado.

2 – graças também a esta beatífica e aparentemente solidária atividade está a contribuir-se com fortíssima machadada na dignidade pessoal de quem precisa de esmola para comer, sem se promover qualquer outra espécie de saída social, com o argumento, pesado como pedras, de que a fome não se compadece com demoras.

Pelo caminho ficam os empregos perdidos, os empregos que não existem, a desregulamentação brutal do mercado do trabalho e tudo sob o olhar complacente, quando não cúmplice e, tanta vez, actuante, do próprio governo.

Com papas e bolos se enganam os tolos, já lá diziam os nossos avós. A almofada social e o tampão da revolta que representa esta «solidariedade a martelo» é, talvez, não mais do que a outra face da moeda da destruição da nação e do país em que alguns parecem tão apostados…


Porque a um povo pode faltar quase tudo, que ele há-de encontrar no fundo de si mesmo as sementes e reservas do seu renascimento. Mas se lhe faltar a dignidade… já nem povo é. E, então, a nação deixa de ter razão de ser.  

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