junho 20, 2013

Nuno Crato, parágrafo menor, por Baptista Bastos

Uma vez mais e sempre, com a devida vénia, desta feita a Baptista Bastos, o seu parecer avisado - e que eu tanto subscrevo! - acerca da «deriva» governamental de Nuno Crato ( até tu, Crato!). Aqui vai:

19 Junho 2013

Nunca deixei de me espantar com a desfilada insana de certos homens para o abismo da sua perdição moral e intelectual. Nuno Crato é um deles. Li o admirável "O Eduquês", que definia uma maneira de pensar e reduzia a subnitrato os mitos propostos à nossa preguiça mental. Se o estilo é o homem, ali estava um estilo e um homem que nos diziam ser toda a espécie de carneirismo a negação da inteligência crítica. Assisti, depois, com o alvoroço de todas as curiosidades, ao programa de Mário Crespo, na SIC Notícias, Plano Inclinado, e no qual o nomeado e o prof. Medina Carreira discreteavam sobre os embustes incutidos por esse nada abissal da hipocrisia política. Um aparte: ainda não percebi o que provocou o desaparecimento abrupto do programa e, também, o eclipse de Alfredo Barroso da antena, cuja lucidez era idêntica à informação que nos fornecia, mantendo-se na conversa a senhora que emparceirava com ele. Teias que o império tece.

Voltando ao Crato, a vontade de ser ministro de um desprezível Governo como este parece tê-lo obnubilado. Ou, então, a dubiedade já estava instalada e a falta de carácter era congénita. Como pode o autor de "O Eduquês" e de tantas intervenções televisivas marcadas pelas prevenções contra as evasivas e os ardis ser o cúmplice de um projecto ideológico que visa mandar para o desemprego muitos milhares de pessoas, e desmantelar pelo esvaziamento a escola pública; como pode?

Diz-me pouco, mas talvez diga alguma coisa a circunstância de Crato ser proveniente da extrema-esquerda, aquela contra o "revisionismo" e os "sociais-fascistas." O combate, afinal, era outro, e a "convicção" constituía um investimento futuro.

O braço-de-ferro do ministro e dos professores nunca foi por aquele decentemente esclarecido. A verdade é que os professores, ameaçados, aos milhares, de ser "dispensados", apenas lutam pelos seus lugares e pelo trabalho a que têm direito. E a utilização dos estudantes como estratagema político é sórdida. Crato desonrou-se ainda mais do que o previsível. Ao aceitar ser vassalo de uma doutrina doentia, arrastadora de uma das maiores crises da nossa história, ele não só volta a perjurar os ideais da juventude, como o que escreveu e disse.

É preciso acentuar que esta situação não se trata de uma birra do ministro. O despejo de milhares e milhares de pessoas faz parte de um programa mais vasto. Crato é um pequeno parágrafo num acidente histórico preparado ao pormenor por estrategos ligados à alta finança. Outra face do totalitarismo que, sob o eufemismo de "globalização", tende a uma hegemonia, a qual está a liquidar os nossos valores morais e os nossos padrões de vida. A emancipação das identidades, que formou a tradição universalista e a democratização social, está seriamente intimidada por gente ignóbil como Nuno Crato.

Aqui e assim se conclui o artigo de Baptista Bastos.  Vê lá tu, Crato, «gente ignóbil»... Tu, ainda há dias, uma referência para tantos dos que não estávamos dispostos a aparar  os pornográficos golpes dos políticos de pacotilha.

É bem verdade que o poder corrompe. E, também, que o poder absoluto corrompe absolutamente.

4 comentários:

  1. Já tinha lido e fizeste muito bem em pôr aqui.

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  2. É.... e já tinha comentado num post anterior a grande desilusão que este homem me causou e certamente a muitos milhares de admiradores seus.
    A queda de um anjo? ou o deslumbre dos insectos pelos candeeiros....
    Seja qual for a resposta, acaba sempre por ficar sem as asas...

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  3. Creio que acertaste, Charlie, com essa coisa dos insectos. Vestimentas a preceito, para a função do dia a dia, mas uma inelutável atracção pelos candeeiros (acesos, claro...). Afinal, há tanta coisa de que até os bichinhos gostam...

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