dezembro 18, 2013

«A prova que nada prova» - Antonino Silva

Antonino e Lurdes Silva
Acontece hoje mais um episódio da novela ‘A montanha que pariu um rato.’
Os argumentos de uma e outra parte mantêm-se e não há dúvida de que a teimosia é o único que valida a realização da prova. Até porque os outros caem deitados ao vermos a natureza e os objetivos da dita.
Somos um povo que gosta muito de dar opiniões, porque as temos para dar e (alguns opinion makers) vender. Quem não conhece faz as avaliações congeladas, pouco assertivas e começa logo por falar do poder enorme dos professores, que são uma classe inerte e refém dos sindicatos, etc., etc. Por favor, não insultem a minha inteligência! Eu também não opino sobre profissões que não conheço; não sei se é justa ou injusta a posição dos juízes, dos militares, dos médicos, dos enfermeiros, …
Para mostrar a enorme (in)utilidade da prova que não prova, deixem-me narrar um episódio que vivi há uns anos (e recentemente) neste mundo da formação de professores.
Tive um professor estagiário num núcleo que me escuso de nomear e que, por diversas vicissitudes, já tinha uma idade superior à média. Já tinha viajado pelo mundo, tinha sido emigrante e falava a língua de um outro país com exímia proficiência. Era também nessa língua, além de português, que estava a fazer a profissionalização. As suas aulas eram canais unidirecionais, de monólogo, onde os alunos não intervinham e o estagiário se perdia entre si mesmo e o livro. Ou seja, a sua competência científica muito boa era totalmente anulada pela incompetência pedagógica. Como resultado, não permitimos que fosse professor e, a meu ver, muito bem. Quantos grandes cientistas e homens de sageza são um desastre como professores? Ser professor é ESTAR e SABER FAZER; não é só saber-saber. Esse ex-estagiário conhecia os livros, as teorias da pedagogia e as correntes do saber, mas não era professor; não podia ser professor; não sabia ser professor.
Pois bem, é exatamente a dimensão do SER PROFESSOR que a prova não avalia. Pode avaliar tudo o resto, (até parece que vai ser muito acessível) mas um professor só é avaliado como o é um atleta, pelo seu desempenho na sala com os alunos.
Não sei se sabem, mas os professores contratados são avaliados no seu desempenho todos os anos; se não tiverem avaliação positiva ou não se submeterem a essa avaliação da sua prática real não poderão ser contratados no ano subsequente.
Como ontem li no DE, este ministro perde tempo com o acessório e esquece-se do essencial; até porque ele próprio admite que o problema do ensino não está na qualidade dos professores que temos. O seu grande medo é que não pode marrar nos rubicões reais da qualidade do ensino e vai bater então no elo mais fraco.
Grave, grave é que atrás dele e dessa ideia de libertar os pecados através do bode vai uma parcela larga de cidadãos de bem que, sempre que podem, espumam a sua sanha em cima de uma classe que os formou, que configurou e tenta continuar a configurar a coluna vertebral deste país que não merece os professores que tem.

Antonino Silva

5 comentários:

  1. Olá, Antonino! Estou contigo.

    Do pior do Crato, dir-se-ia, esta dos exames para professores que, aliás, já medraram em tempos da inefável Maria de Lurdes de má memória.

    O que considero mais repugnante é a baba hipócrita do senhor ministro quando pretende legitimar o exame para todos através das presuntivas impreparações de alguns... Esses, aliás, que quando não provêm do ensino privado que ele tanto protege, provêm de politécnicos oficiais que NÃO são «filhos menores» do nosso sistema de ensino público e lhe devem merecer outro respeito.

    Como cúmulo da criação de clivagens sociais, Crato revela-se, assim, exímio. Daí que eu considere, até, que a posição da UGT foi muito tíbia e pouco transparente neste contexto... Um verdadeiro frete ao senhor ministro.

    No fundo, a grande chatice é não podermos (ainda?) nós cidadãos fazer exames de admissão a tanto ministrozeco empalhado que nos vai calhando em sorte.

    E logo este sacripanta...! Onde terá ele metido o livrinho vermelho do tempo da oriental Revolução Cultural?

    Se não se instalar, rapidamente, uma trituradora, vamos ver-nos aflitos para nos livrarmos de tanto lixo da nossa História, ai vamos, vamos!

    Grande abraço.

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  2. Já agora e para bom esclarecimento: não se trata aqui de se ter algo contra avaliações de conhecimentos reais de professores ou de qualquer outro grupo profissional de cidadãos, ainda que muito mais interessante fosse cuidar, neste caso, das capacidades pedagógicas dos docentes.

    Trata-se, sim, de separar as águas. São os professores que não servem ou é o sistema de ensino que nos merece grandes reticências? De tal modo duvidoso será ele que dá azo (?) ao senhor ministro para duvidar das competências de professores com formação específica. Ou seja: Crato quer, afinal, apurar se os cursos ministrados e por ele reconhecidos merecem confiança ou não... O que é estranho. E os diplomas serão credíveis? Outro mistério.

    Gostaria de o ter visto tão prazenteiro e seguro de si quando aceitou sentar-se ao lado do hiper-diplomado Relvas na manjedoura do Estado.

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    1. Esta malta do desGoverno é cá de uma coerência!...

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  3. Os professores sempre me foram caros.
    Desde criança que me habituei a "venerar" quem transmite conhecimentos.
    São - os que o fazem com entrega de alma - de algum modo o prolongamento do meu pai.
    As lembranças mais temporãs a cerca dele remetem para as primeiras palavras, os primeiros passos, o começar a andar de bicicleta, o aprender as primeiras letras e a ajuda a construir a primeira biblioteca, o respeito pelo trabalho e pelos livros, pelas pessoas e por mim mesmo, e nesta esteira, pelos professores.
    Nunca gostei da forma como o governo anterior fazia a tábua-rasa sobre esta classe e o Nuno Crato foi então uma das vozes de referência na luta pela dignidade.
    Qual não foi a desilusão quando esta figurinha se revelou aquilo que nem precisa de mais adjectivações.? Pior do que o intragável Relvas, que esse nunca enganou ninguém... :(


    Permito-me com uma profunda vénia a propósito de quem se entrega a transmitir o maior tesouro que o Homem pode possuir, o conhecimento, e a forma como esta gentinha trata, não só os professores mas - aparte a sua própria fauna- todas os outros cidadãos, as linhas que a seguir se espraiam e que tudo dizem

    Perguntaram-me um dia
    Se eu sabia
    O que era ser Cristão

    Fiquei atrapalhado
    porque, coitado
    Creiam que vi então

    Que muita gente
    Não diz o que sente
    Nem sabe o que diz

    Por isso o mundo
    É tão imundo
    E tão infeliz!

    Quem vê um amigo
    No seu inimigo?
    - Respondam-me a isto

    E francamente
    Presentemente
    Só creio em Cristo.


    Prof. Rogério

    Caria, 8-81984


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    1. Chiça, pá, que me deixaste sem fala!

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