dezembro 31, 2013

Assim a modos que fazendo votos de um ano de 2014 menos estúpido…

Conhecem aquela anedota, que aqui deixo com um agradecimento especial ao capê:

Hoje fui a um restaurante gourmet!
 - Ah sim e então?
 - O meu almoço foi camarão envolvido em molho béchamel, com pequenos apontamentos de salsa frisada em cama de massa fina, banhada com partículas de pão crocante e confitada em óleo vegetal.
 - O quê? Mas afinal o que é que tu comeste, pá?
- Olha, comi um rissol...

Ora aí está mais uma coisa que se me vem revelando como altamente indigesta, ainda que colha ninho em tudo que é meio de comunicação com grande alarde e intenções apologéticas: a alimentação gourmet. Coisa interessante, hão-de convir, para este momento festivo (?...!) que estamos a atravessar.

Para já, deixem-me dizer-vos que me chateia aquela mania de andarem a mexer com as mãos em tudo quanto eu vou comer, dali a pouco (já depois de cozinhado). Eu sei lá por onde andaram aquelas mãos…

E é curioso que a ASAE, zelosa cuidadosa do interesse público encerre uma fabriqueta de queijos tradicionais porque o pequeno casebre onde são confeccionados tem ervas daninhas encostadas às paredes exteriores – o que, como se sabe, é susceptível de provocar as mais hediondas e fatais epidemias – mas nem sequer se pronuncie quando uma imensidão de chefs – que é outro termo que me enerva um pouco, pois ele havia os cozinheiros, que mereciam toda a respeitabilidade mas, enfim… - mexa e remexa, conspurcando-os, em alimentos já confeccionados e que eu vou ingerir, sem se apurar previamente e no mínimo, se o chef está constipado, se tem indícios de alguma pneumonia, se fez testes recentes de hepatite, se tem o hábito de tirar macacos do nariz, ou de cuspir nas mãos quando mete mãos à obra, etc., etc.

Depois, mesmo sabendo que os olhos também comem ou talvez por isso mesmo, chega-nos um prato originalíssimo, cheio de desenhos mas parco de conteúdo, ainda que requintadíssimo e de nomenclaturas indecifráveis, pelo qual se paga um balúrdio e o que torna este tipo de alimentos porventura no mais caro do mundo, ainda que cheio de graça.

Esta alimentação, muito do agrado e assim destinada a moradores altamente de condomínios fechados, tem por isso um lado segregacionista que também não me deixa indiferente e desenvolve alergias tremendas. De facto, se a escassez alimentar de que tantos enfermam fosse suprida com estes pequenos arremedos de comida artística, mas ao alcance de todas as bolsas, mesmo as totalmente depenadas, vá que não vá.

Agora, cobrar-se por uma refeição gourmet o que Picasso ou Dali cobrariam por um esboço original – o que, aliás, já de si sofre da irracionalidade instalada pela sociedade de consumo – é coisa que não cessa de me espantar.  

Enfim, se calhar estou a ficar assim a meio caminho entre o Zé Povinho pacóvio e o Velho do Restelo razinza. Mas que hei-de fazer…?

Olhem, façam o favor de ser felizes em 2014 e, logo mais, por aí fora, que a malta há-de ver-se um destes dias. E, se possível, com um belo cozido à portuguesa de permeio.

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