junho 18, 2014

«A cigarra e a formiga (adaptação aos dias de hoje da fábula de La Fontaine com o mesmo nome)» - por Rui Felício

Era uma vez uma formiga que, sob o sol escaldante de verão, construía a sua casa e acumulava suprimentos para o longo inverno que se aproximava.
A cigarra passou o verão a cantar e a dançar. De si para si comentava que a formiga era uma idiota. Não aproveitava a vida, esforçando-se sem descanso na sua labuta diária de transporte de alimentos para a toca.
O inverno entretanto chegou, rigoroso, gelado, chuvoso... Os alimentos escasseavam... A cigarra cheia de fome e a tremer de frio, armou uma esburacada tenda à entrada da casa da formiga e convocou toda a imprensa para que fosse dada noticia da tremenda injustiça que era a formiga estar confortavelmente instalada a deliciar-se arrogantemente com as melhores iguarias, enquanto ela, pobre cigarra, ia morrendo aos poucos, sem abrigo e sem comida!
As televisões mostraram em imagens dramáticas e sádicas os sinais de desnutrição da cigarra cambaleante, contrastando com as cores rosadas e saudáveis da formiga! Os espectadores, perplexos e chocados debitavam os mais díspares comentários. Enviados especiais de todo o mundo cobriram a notícia no próprio local, difundindo-a através das mais prestigiadas cadeias de TV.

O Governo mandou apurar os antecedentes e contornos da situação e descobriu que a cigarra tinha sido durante oito anos, autarca e depois deputada.

Fora acusada de crimes de corrupção mas o Tribunal acabou por deixar prescrever os alegados crimes.
Como, porém, tinha sido indiciada, durante todo o tempo que demorou o longo processo, não lhe tinha sido nunca atribuida qualquer pensão.
O primeiro ministro veio à RTP informar que já tinha mandado proceder à imediata correcção do erro.
A cigarra agora tem uma pensão vitalícia.

Quando vier o verão, tudo se repetirá: A formiga trabalha e a cigarra canta e dança...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

4 comentários:

  1. Dificilmente vejo Duartes Limas, Oliveiras e Costas, Ulrich's e Salgados, como formigas trabalhadeiras e eu, cigarra, cigarra, sou a dizer que há anos que não fumo....
    Ah, e sobre autarquias, há as para todos os gostos.....

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    1. Está a custar-te efabular a realidade do nosso Portugalito, Charlie...

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    2. Temos uma realidade fabulosa, isso temos.
      Mas se lermos " "Místérios de Fafe" e "A Queda de Um Anjo" do imortal Camilo, vemos que essa realidade já vem de longe.

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