setembro 05, 2014

O caso Dreyfus Português?


 

Emílio Zola, e a carta aberta enviada à presidência
O caso Dreyfus, como ficou tristemente célebre para a História, é uma tragédia a nível pessoal mas integrada num processo político complexo que a França viveu nos finais do Séc XIX e princípio do XX

Alfred Dreyfus foi condenado por alta  traição e só anos mais tarde reabilitado. O mediatismo da sua perseguição, o seu processo e condenação nada teve a ver com quase silêncio e o posterior regresso e integração. Sem que tivesse sido condenado à morte, o processo foi uma morte em vida que nunca mais voltou a ser a mesma.

Dreyfus foi condenado com base em documentos forjados, falsos testemunhos e um remoinho devastador de ocorrências politicas que tinham como charneira a luta pelo poder. Monárquicos,  Clero, Exército e novos movimentos xenófobos não hesitavam em recorrer a todos os golpes, mesmo os mais baixos  para levar por diante os seus projectos.
Valeu a Dreyfus ter sido “apenas ” condenado à prisão perpétua na llha do Diabo, -a mesma que Papillon haveria de imortalizar-, e o prestígio de Emílio Zola que levou a cabo a hercúlea tarefa de lutar contra a máquina terrível da inércia. Poderia ter sido condenado à morte por alta traição, mas coube-lhe em sorte a prisão perpétua e a persistência do escritor.
Pesasse embora a reabertura do processo e a reabilitação de Dreyfus, este, previamente condenado com base em provas fraudulentas, continuou ainda preso durante bastante tempo enquanto Zola, já acompanhado de outras figuras de prestígio lutavam contra a monstruosidade de um homem inocente ter que continuar , - segundo os tribunais-, detido.
Mais de um século se passou sobre o caso Dreyfus, um homem que teve direito a uma obscura estátua numa praceta escondida em Paris como descarga de má consciência. Na prática nunca foi reabilitado. Não recuperou o seu lugar no exército nem beneficiou de qualquer indemnização, acabando por pedir mais tarde a aposentação. Condenado à morte e continuar vivo....
 
Em Portugal seria possível um caso Dreyfus?
Pessoas julgadas e condenadas com base em processos fraudulentos, falsos testemunhos e um ambiente favorável à condenação?
Não só em Portugal, como em todo o lado, há muitos processos Távoras e Dreyfus. Os bodes expiatórios estão aliás há muito institucionalizados e imortalizados no livro mais lido do Mundo, a Biblia. Velho como o mundo, o cordeiro sacrificado para a Gloria dos Senhores…
Por cá, se calhar teremos um dia para a nossa vergonha colectiva, o nosso caso Dreyfus.

Para ver, o curto vídeo embebido  e em silêncio fazermos o nosso juízo, o julgamento e condenação, esses já estão feitos....
 

4 comentários:

  1. Bem hajas, Charlie!

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  2. Agora, hoje mesmo foram todos condenados.
    Nada contra nem tenho que estar. A justiça fez o seu trabalho e ao que consta, a julgar pelos opinadores de serviço, bem feito.
    Concordo, o mundo político e o outro precisam de uma limpeza profunda.
    O crime de colarinho branco tem finalmente o fim que merece: castigo.
    Só que não deixa de pairar uma desconfiançazita no ar.
    Os condenados, tal como no caso que no post relato, são todos de uma mesma área política.
    De inúmeros casos de igual teor ou ainda mais graves, há umas dezenas a correr os corredores do esquecimento.
    Outros foram absolvidos e os arguidos / réus ainda exigiram indemnizações pelo desaforo do Estado se ter atrevido a embrulhar as desconfianças com a impolutez das suas pessoas....
    Outros ainda mexeram muito mais fundo na porcaria da corrupção e apanharam uns arranhões, coisa de dois anitos, os quais por bom compartamento dão umas férias sabáticas de uns meses...
    Os colarinhos brancos são todos iguais, mas continua a haver uns mais brancos do que os outros.
    Se assim não é, parece.
    Máquinas de lavar, precisa-se senhores....

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  3. Ora lá foram absolvidos mais alguns de uma mega embrulhada que envolve milhões no caso Bragaparque / Feira Popular / Parque Mayer.
    Foi o tal caso em que um denunciador, o Sá Fernandes, ainda arranjou um problema por ter tido a ousadia de lembrar-se de levar um gravador escondido nos bolsos do casaco.
    A escuta / gravação, tal como no caso do Apito Dourada foram consideradas ilegais, e o Sá Fernandes quase que era condenado por corrupto, por ter denunciado um corruptor.
    Fantástico, KAFKIANO!
    Se fosse agora, bem poderia avançar na tecnologia: em vez de um gravador de cassetes, um telemóvel em directo para a TVI ou SIC ou CMTV, qualquer coisa assim tablóide, e repito, em directo para o páis ou mundo inteiro.
    Estou para ver que consequências é que uma divulgação desta magnitude teria sobre a apreciação do assunto pelos que dessas matérias têm competência.
    Mas ainda espero ouvir com as minhas próprias orelhas aí num YOUTUBE qualquer, o conteúdo da gravação, já que ao que consta, as maningâncias que encontraram travão em Sá Fernandes, não pararam e arranjaram outros veículos para atingir os objectivos que se sabem, e que tristemente, no que toca à Feira Popular, não se vêem...

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