setembro 18, 2014


Tradução minha deste artigo da revista espanhola «el Jueves»:

"A tradicional festa do Toro de la Vega vai em frente apesar da controvérsia. Este ano, algumas centenas de manifestantes tentaram impedir a que se celebrasse esta... Aham ... «Fiesta» em Valladolid, em que um touro é cercado, espancado e finalmente morto a golpes de lança na presença de uma multidão de 30.000 pessoas. Sim, pessoas. O tipo de pessoas que mutilam um animal à morte, mas não permitem que os seus filhos joguem Grand Theft Auto, porque "os videogames são violentos."

A feira é defendida por aqueles que gostam de touradas, para a grande maioria da classe política e da União Europeia, que prefere manter uma posição equidistante. Eles usam o mesmo argumento: El Toro de la Vega é uma tradição medieval e, portanto, deve ser respeitado. Malditos génios da dialéctica, que nos prendem na sua teia pegajosa do relativismo cultural!

Como pude ser tão cego? Nós estamos a perder a oportunidade de proteger todos os tipos de merdas muito sérias. Privilégios medievais! Abaixo está uma lista de actividades que eram tradicionais no final da Idade Média e que iremos pedir para serem declarados património da UNESCO: Cagar no campo, ter um rato morto como animal de estimação por causa da praga, cagar na rua, matar indígenas, estuprar indígenas, cagar à mesa, ensinar os nativos o verdadeiro sentido da bondade, através da palavra de Deus, cagar na porta da frente da casa do seu inimigo mortal, não se lavar, lavar-se com um rato morto por causa da peste, acreditar que a legitimidade para se ser chefe de Estado é uma qualidade que é passada de pai para filho através de uma espécie de fusão bizarra de magia divina e herança genética. Oh, não, que o último ainda é feito em Espanha ..."



12 comentários:

  1. É um atavismo humano, esta coisa da expiação dos males do mundo, centrando-os num objecto bem definido.
    Um bode, um boi, um cordeiro ( de Deus para salvar os pecados do mundo) , um simbolo, mas e ainda mais dramático, num outro ser ou seres humanos, o outro, o diferente, o habitantes das faixas sejam Gazas ou outras.
    Repare-se como na celebração da missa católica, a comunhão com Deus é feita através do acto de comer deus, ele mesmo "santificado" na hóstia, corpo do próprio cujo filho foi sacrificado e mutilado de forma bárbara e fundamentalmente, injusta.
    As festas com touros, são uma reminiscência viva e dramática de muitos cultos religiosos que se fundiram no Mitraísmo onde a celebração da nova vida, é feita através da morte do touro.
    Expia-se o mal do homem velho através do animal (desgraçado) que recebe a fúria purificadora da turba em êxtase. Depois, celebra-se a vida comendo o animal, já livre de todo o mal que pela morte (tal como a morte de Cristo) liberta o Homem.
    É assim, mesmo, uma tradição que vem das noites dos tempos, onde a imensa maioria dos participantes desconhecem a génese de tais práticas que deveriam ser, uma vez - pensamos nós- ultrapassados determinados estágios civilizacionais, apenas referências históricas.
    Vivas sim na tradição oral e escrita, mas completamente banidas na prática pela sua desumanidade.
    Mas podes dormir descansado, ou não que isto do boi, ou bode expiatório não acaba aqui.
    Todos os dias há gente a ter o papel do boi, do bode, da hóstia.
    Todos os dias há quem pague atrás das grades o mal-estar colectivo cobarde e silencioso.
    Não me esqueço do caso Druyfus e temos por cá alguns.
    A pena de morte com que as sociedades expiam pela morte do individou, muito das culpas colectivas: um crime de sangue é sempre um filho de todos.
    Somos maus, mas Deus fez-nos assim, e por isso a gente pendurou-o na cruz, no talho, para que depois de o comermos ficarmos melhores.....

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  2. Isso me fez lembrar a piada do bêbado que vai à Missa. Na hora da comunhão, lá está o bêbado , na enorme fila (aí em PT deve ser bicha), à espera da hóstia, que, segundo a Religião, representa o Corpo de Cristo.

    Quando chega a vez do bêbado, o padre pega uma hóstia do cálice e, ao levar a hóstia até a boca do bêbum, repete a frase Corpo de Cristo, e o cristão engole a hóstia.

    O bêbado volta ao banco, para rezar, mas... menos de 2 minutos depois, se dirige ao Padre e pergunta, naquele tom alcoólico:

    - Padre, isso é mesmo o Corpo de Cristo?
    - Sim, meu filho!
    -Putz! então o senhor me meu o pior pedaço...

    Mas, desde quando essa matéria foi colocada, aqui, resisti a vê-la. Dói-me, em demasia, essa atrocidade, por puro prazer.
    Por isso que torço pelo touro, e aplaudo quando é ele que "ganha" essa peleja.

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    1. Aprendi com o meu Pai, desde pequenito, a ser adepto do touro, "o único que está ali obrigado".
      E quando alguém leva uma marrada, chamo-lhe sopa de corno... e aplaudo.

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  3. E a "arena", lotada de humanos(?)
    Que desumano!
    :-\

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  4. Quando estudava, fiz um desenho com a legenda «Homem e homem, mundo imundo». Ainda hoje acho que diz muito.

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    1. Sim, porque essas atitudes são antigas, como bem escrito pelo Charlie. Sacrifício de cordeiros em nome de não sei quem....
      Ainda hoje, ninguém tem culpa. A culpa sempre é do cachorro.

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  5. O argumento da «tradição medieval» é curioso e sintomático de refinada demagogia. Que tal reinstalarmos (constitucionalmente, claro), o direito de pernada, a exposição em pelourinho, mimos como a roda, o enforcamento e a pena de morte à mão de qualquer suserano, etc., etc., etc., tudo a bem da manutenção das boas e velhas tradições medievais?
    Ainda se, em cultos de modernidade, se «politicassem» (ao contrário do termo toureassem) os governantes (e outros) relapsos, aldrabões e comprovadamente gatunos, com a turba ululante a cravar farpas, aguilhões e naifadas por cada imposto abusivo, escola mal encerrada ou medicamento em falta... isso sim, seria pós-moderno c'umò caraças! E violência por violência, quem sabe esta não seria mais profilática...

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  6. Há, aliás, um apelo à selva por parte de actuais governantes. Vejam bem: quando algum diz que «os enfermeiros estão a vulgarizar a greve» o que é que se deixa implícito? Que os enfermeiros adoptem novas formas de luta e mandem, em alternativa, uma arrochada ao ministro... Claro, só para não prejudicarem os utentes, como este invoca. Aqui, sim, seria um verdadeiro bode expiatório e não se prejudicava ninguém com as greves. Assunto a pensar bem...

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    1. Tal qual: oferecer em vez de greve um ou dois ferros curtos no cachaço e depois mandá-los para a fila, ou bicha melhéres, esperar a sua vez depois de filtrados pela tal coisa que dizem ser de Manchester...

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  7. O meu Pai adorava quando o touro dava uma cornada a alguém. Chamava-lhe sopa de corno. Esta malta está a pedir sopa...

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  8. Concordo com essencialmente com tudo o que o ORCA e a São dizem tal como a nossa Mamãe.
    Nem sequer é preciso acabar com as tradições, basta humanizá-las.
    Eu gosto de touradas, é algo que tem uma força simbólica poderosa, mas não gosto de ver o animal ferido, mexe comigo, é a componente que dispenso completamente.
    Em Portugal acabou-se com os touros de morte, um avanço histórico na época
    Mas pode ir-se mais longe, e não ferir o animal e institucionalizar pela lei, mais um avanço.
    Há tecnologia para isso.
    Lembro-me duma ocasião em que numa corrida de touros exemplificativa no estrangeiro, os touros foram mimoseados com farpas munidas com uma espécie de ventosa munida naõ sei se de cola ou coisa que valha.
    Pode argumentar-se que o touro não fica suficiente "amansado" para a pega.
    Mas ai podemos ser criativos, e fazer o animal correr mais um pouco, ou acrescentar jogos entre o toureiro e o animal etc,
    Não se deve cortar com coisas que são da nossa História, do nosso património, para o bem e para o mal e nas touradas à Portuguesa, as pegas são únicas a nível mundial.
    E não é necessário ferir o animal para que se faça uma boa pega.
    Sobre as velhas práticas, bárbaras e desumanas, é bom que estajamos sempre conscientes dos ganhos civilizacionais que se atingiriam.
    Não se deve lavar o passado, ele está ali a um passo de cada um de nós que no fundo tem sempre a besta a espreitar e sabemos que tal como no caso de uma doença, ignora-la não ajuda á cura, antes pelo contrário.
    Sou pelas touradas, sem a exibição da barbárie.

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