maio 08, 2015

«Economia e Finanças para totós» - António Pimpão

Economia e finanças são conceitos distintos mas que andam ligados.
São como que as duas faces de uma mesma moeda!
A economia tem a ver com os recursos, com os bens e os serviços que se produzem, armazenam, distribuem e vendem.
As finanças têm a ver com o dinheiro e com o crédito (obtido e concedido).
A economia sempre existiu e continuará a existir, uma vez que está ligada às necessidades humanas e, sobretudo, aos meios para as satisfazer.
As finanças só apareceram mais tarde, quando surgiu a moeda. Sem moeda, sem trocas comerciais, sem mercado, não há finanças.
A compra de alimentos, de vestuário, de serviços de cabeleireiro, de matérias-primas, de automóveis, de serviços de transportes, etc., tudo isto pertence à esfera da economia. Trata-se de bens e serviços que se transacionam.
Onde entram as finanças?
Numa economia de mercado, não há trocas de bens económicos sem que o seu fornecedor/prestador não exija dinheiro em troca. Sem que intervenham as finanças. É sempre preciso dispor de dinheiro – e abrir mão dele – para se obterem bens económicos. E o valor de ambos é sempre igual.
Quem comprar uma camisa obtém, dessa forma, um bem económico, para a obtenção do qual tem que despender dinheiro, ou seja, ver diminuídas as suas finanças: para se poder ter mais bens económicos fica-se com menos recursos financeiros, com menos dinheiro. Pela mesma quantia. Como Dupond & Dupond.
Para o vendedor da camisa, a operação apresenta-se de formam inversa: abdicou de um bem económico para, em contrapartida, aumentar a quantidade de bens financeiros, o dinheiro (ou crédito).
A economia lida com bens e serviços essenciais à nossa sobrevivência, tem caráter de indispensabilidade; as finanças são um instrumento que permite agilizar a economia.
O princípio básico exposto tanto se aplica à esfera doméstica, como das empresas, como dos países, como do mundo.
O problema apresenta, porém, algumas nuances.
Por vezes, as trocas entre bens económicos e financeiros não é simultânea: intervém o crédito, que também releva da área financeira. Neste caso, a movimentação dos bens económicos antecede, duma maneira geral, a movimentação dos bens financeiros, ou seja, do dinheiro.
Mas o processo nunca se encerra sem que ocorra o correspondente movimento financeiro, pois é este que regulariza a operação.
O crédito facilita o processo económico, pois permite transações económicas sem exigência imediata da contrapartida em dinheiro.
O crédito como que fornece alguma autonomia à área económica, permite a esta tratar da sua vida sem o imediato desembolso de dinheiro. Mas isso será sol de pouca dura, logo terá que ser feito o pagamento.
Na atualidade, são frequentes as operações financeiras autónomas, ou seja, sem ser em resposta a uma operação económica. É o caso da contração de um empréstimo bancário. Na sua sequência, há a sensação de uma maior abundância de dinheiro, porque este foi obtido sem sacrifício de bens económicos. No entanto, mais cedo ou mais tarde o empréstimo tem que ser reembolsado. E lá se vai a sensação de abastança de dinheiro.
Apesar de o empréstimo obtido e do seu posterior reembolso constituir uma operação estritamente financeira, ele não se realiza sem algum sacrifício de ordem económica: a empresa teve que suportar juros (custo do serviço do financiamento, aspeto económico) e que os pagar (aspeto financeiro). Ficou mais pobre em resultado desta transação financeira autónoma (o pedido de empréstimo).
Se uma empresa passa a realizar mais compras a crédito do que anteriormente, ou se passa a pagar com um maior atraso, sentirá uma maior folga financeira, maior abundância de dinheiro. Mas trata-se uma situação passageira e ilusória: se não for agora será um pouco mais tarde que terá que fazer o correspondente pagamento. Mas, enquanto dura, é um facto que esteve financeiramente mais desafogada.
Outro tipo de movimento financeiro autónomo é quando a entidade (empresa, particular ou organização) recebe um subsídio. Aumenta os seus bens financeiros, sem sacrifício de bens económicos. E, neste caso, até sem a obrigatoriedade de reembolsar o dinheiro assim recebido.
Os impostos que pagamos – e que as empresas pagam - também constituem movimentos financeiros autónomos: há um pagamento – redução dos meios financeiros – sem acréscimo de bens económicos (diretos, controláveis).
Há, porém, quem defenda que a contrapartida do dispêndio financeiro, no caso dos impostos, é a partilha dos bens económicos coletivos, do estado. Só que estes não são apropriáveis nem são transacionáveis em proveito próprio.
Pode dizer-se que toda a atividade económica – em sentido lato – é coisa de doidos: tem-se dinheiro, o fundo de maneio inicial, mas não se está satisfeito, ele é aplicado em bens económicos: máquinas, mercadorias, matérias-primas, pessoal, etc. Para quê? Para produzir (ou valorizar) os bens económicos adquiridos. Para quê? Para os vender, para realizar operações económicas de saída. Para quê? Para receber dinheiro (aspeto financeiro). Para quê? Para voltar a comprar bens económicos! Para quê? Para os transformar e vender. E assim ad aeternum!
Numa empresa, o ponto de partida é a posse de meios financeiros, estes são trocados por bens económicos (com saída de meios financeiros), os bens económicos são vendidos e novamente trocados por meios financeiros (entradas de dinheiro). E logo se retoma o ciclo!
Aparentemente, a área financeira é dependente da económica. É a área económica que promove o aumento da riqueza. É ela que proporciona o lucro. Mas a área financeira pode estrangular a área económica: se não houver dinheiro, ou ele não for suficiente, não se pode desenvolver o negócio. Começa por não se poder aumentar o seu nível e, depois, por já nem sequer o manter.

António Pimpão

1 comentário:

  1. Pois....
    O pecado mortal é a subversão dos conceitos e a inversão de valores
    Não é o sistema financeiro que deve dominar a economia mas sim o seu contrário.
    E aí entra em cena o estado de fragilidade em que os Estados se encontram e, por mercê disso, reféns dos sistemas financeiros.
    São os Estados que criam o dinheiro e não os sistemas financeiros. Se determinados organismos conseguem apresentar uma elevada liquidez, é imprescindível saber-se lhe a origem.
    Mas a verdade é que existe uma espécie de manto negro a partir do qual nada se interroga. Quando um Estado precisa de dinheiro recorrem aos sistemas financeiros que se apresentam como uma espécie de caixa negra, poderosa e ditadora. Ora, mas de onde lhes vem o dinheiro? São eles que o fabricam, ou serão os Estados? Que intrincadas e mafiosas artimanhas e processos escuros utilizam para estar sempre na mó de cima da máquina infernal que a partir de determinado momento e jogo de forças, tudo arrasa e cilindra?
    Sempre defendi um sistema em que a iniciativa fosse privada mas onde a Banca fosse do Estado. Aberta sim à participação de accionistas, mas maioritariamente do Estado.
    Queria ver quem seria refém de quem em caso de crise.

    ResponderEliminar