Um quadro de Picasso (As Mulheres de Argel - versão O) tornou-se na segunda-feira a tela mais cara alguma vez vendida em leilão, ao ser adjudicada por 179,3 milhões de dólares (161 milhões de euros). Mas houve mais recordes em Nova Iorque (...).
(In http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=4562831)
Há qualquer coisa de admirável no mundo que todos ajudamos a construir. Vejamos:
Hoje, eu, afortunado cidadão de um país do mundo ocidental, almocei. Pedi uma dose de coelho grelhado (e metade do animal vinha na travessa), acompanhado com esparregado e batatas a murro; reguei tudo com um belo tinto (reserva), comi um pão e bebi o café e, chegado ao fim, custou-me esta aventura qualquer coisa como 12 (doze) euros. O restaurante é normal, bem frequentado por clientes normais. Enfim, interessa o que interessa: satisfeito, eu paguei 12 euros.
E dei por mim a magicar nestas extraordinárias transcendências:
- 161.000.000 € - e, notem bem, por UM simples quadro, ainda que de Picasso -, a 12 € por refeição, dariam para 13.416.666 refeições idênticas ou, dito de modo mais prosaico e considerando que o ser humano poderá ingerir duas refeiçõezitas destas ao dia e que o ano tem, geralmente, 365 dias (logo 630 refeições destas), 21.296 seres humanos poderiam alimentar-se, durante um ano, só com este quadro.
Por outro lado
- 161.000.000 € - e sempre o mesmo quadro de Picasso - se considerarmos que, em África, o rendimento diário per capita, em vários países, ronda UM €, poderá levar-nos à seguinte contabilização: 50 anos são 18.250 dias e, assim sendo, aquele montante permitiria que 8.822 seres humanos pudessem sobreviver durante 50 anos... e, outra vez, apenas com este quadro.
Este raciocínio é tão pornográfico, tão escabroso, tão obsceno que estou em crer que desta vez é que me encerram o blog...
OrCa... não raro me pego fazendo as mesmas reflexões, ainda mais recorrentes em datas comemorativas (comerciais), a exemplo de Natal, Ano Novo e o dia a dia de muitos granfinos (alguns que assaltaram o Erário e vivem a gastar o dinheiro do povo).
ResponderEliminarEm Copacabana, coberturas nos melhores edifícios, são alugadas, e a diária não fica por menos de 50 mil reais. Estouram champagnes, cuja garrafa não sai por menos de 10 mil. Há dias, uma emissora de TV apresentou um reality show, Mulheres Ricas,no qual relatava a vida de mulheres brasileiras com alto poder aquisitivo. E aí eu me perguntava: "Pooorrrrraaaaaa,o que dizer ao pai que sai de casa, todos os dias, ainda madrugada, para catar lixo para vender para reciclagem?";O que dizer para aquela mãe,que nem pôde chorar no dia que seu filho morreu, porque não tinha nenhum tipo de assistência médica?".
Dá nojo.
Mas não sou contra quem leva a vida na riqueza.Alguns até trabalharam mesmo, e muito, para ter o que têm. Mas...sem medo de errar... a maioria é por conta dos menos afortunados. Poucos têm regalias, sustentados por muitos miseráveis. Inclusive dos idiotas que ainda dão audiência esse tipo de programa.
FAzer o que? Há público para tudo.
O dinheiro cada vez tem menos valor de troca e mais valor de armar aos cágados.
ResponderEliminarCaríssimos, aguardem desenvolvimentos que me foram suscitados por conversa, sobre este tema, com um amigo também preocupado com a Arte e a sociedade... Seguirá dentro de breves momentos.
ResponderEliminarE fazes tu muito bem.
EliminarComo sempre disse, não sou contra o Capitalismo.
ResponderEliminarO cada um de nós faz, produz ou pensa é o capital individual o qual deverá ser permanentemente aumentado, enriquecendo o indivíduo e em consequência disso, contaminar positivamente o seu entorno humano.
Uma sociedade rica é formada pela riqueza das pessoas, riqueza em sentido lato, e não entendido como a capacidade canalizada de consumir coisas.
O que se passa contudo no mundo é uma cleptocracia global que se apropriou do capital individual o que paradoxalmente está precisamente em contraponto ao chavão da "livre iniciativa.".
Por todo o lado se repete a saga de Boy Pepper que há sessenta anos gravou numa velha garagem um single onde cantava um blue acompanhado de um contrabaixo ao qual faltava uma corda.
Com o disco debaixo do braço foi falar com Deus
E Deus estava em cima de um enorme monte de dólares.
Olhou para baixo e pensou no que iria fazer para que as pessoas lhe dessem mais dólares do que o rapaz conseguiria ganhar se fosse ele a vender o disco porta a porta e disse-lhe;
- Rapaz... o teu disco está fraquito, mas como é o teu primeiro, dou-te cinquenta dólares por ele e assinas aqui.
- Cinquenta é pouco, e tenho ainda de pagar o aluguer do gravador...
- Toma cem e não se fala mais nisso.
E o rapaz assinou, e foi à loja de penhores levantar o anel, e foi à loja devolver o gravador, resgatando a quantia de garantia que tinha deixado por mor do anel empenhado, e pôs a moeda no telefone público convidando a namorada para um jantar e uma sessão de cinema num "drive in" que acabou num motel, graças a Deus.
E Deus pegou no telefone e deu as as ordens: Copia aqui, assina ali, promove mais além, corrompe este e aquele e dá um apertão ao tal que tem a mania de ser independente...
E ao sétimo dia, Deus descansou em cima de uma ainda maior montanha de dinheiro....