setembro 05, 2011

Conspiração da teoria

Venho, de há longo tempo a esta parte, defendendo a tese, apenas sustentada em conhecimento empírico e elementar senso comum – o que reconheço sem qualquer rebuço –,  de que a perversidade maior que cruza as sociedades do «mundo ocidental» é o facto de os representantes do estado – seja ele qual for – se terem demitido das suas funções de regulador-mor dos interesses em presença de cada respectiva comunidade abrangida para passarem a actuar como pontas de lança dos interesses privados e, nestes, dos GRANDES interesses privados – os tais muito, mas muito, mesmo, globalizados e globalizantes.

Vem isto à colação pela atitude impávida e serena com que, por exemplo, os nossos lusos (?) governantes, ano após ano, ciclo político após ciclo político, encaram a definição dos preços dos combustíveis por parte de uma empresa oligárquica como é a GALP, e que, em Portugal, assume foros de avassalador e desavergonhado esbulho ao cidadão e às empresas, afinal os tais agentes do chamado tecido produtivo do qual depende a sobrevivência autónoma do País, como universalmente será aceite.

Desde logo, por que o Estado também se arvora não como o referido regulador que devia ser mas como parte interessada no negócio, pois cada aumento imposto pela GALP se traduz no aumento de receitas pelo fisco, na sua consabida destemperada e descontrolada gula.

Como dano colateral, estará por fazer, por exemplo, o estudo do «interesse» em manter uma péssima e caríssima rede de transportes públicos em redor dos grandes centros urbanos, que todos conhecemos e de que padecemos, como forma de alimentar as intermináveis filas de trânsito que mais não são do que um fluxo constante e imparável de dinheiro «barato» a entrar nos cofres do Estado, para além de mais um factor gritante da ineficiência e da ineficácia nacionais.

Depois, manter a taxa mais elevada do IVA muito mais alta que a dos «nuestros hermanos» –   que, por acaso, também são os nossos principais competidores no mercado do mundo, por razões históricas e geográficas – a que também podemos adicionar a energia eléctrica das mais caras da Europa configura, necessariamente, um destino suicidário a que o pobre cidadão e pequeno ou médio empresário não tem como se furtar, a não ser desarvorando rapidamente para outras paragens, enquanto para tal não lhe faltar engenho e arte.

A outra alternativa receio bem que seja a reformulação do varapau e, até, da moca de Rio Maior, para tentar pôr em melhor ordem cabeça e costelas dos governantes que bovinamente nós vamos elegendo, mas que não temos modo, jeito ou maneira de controlar. Mas, isso, são outros «quinhentos»…

Eu sei e quando não sei posso presumir que estas matérias tenham sempre os contornos mais iniciáticos, herméticos ou mesmo obscuros aos quais o comum cidadão não consiga aceder, seja por manifesta incapacidade neuronal ou por sonegação informativa. Mas se admitirmos que a nossa burrice não é, de todo, irremediável e olhando para dados oficiais, em que é que eu reparo?

  1. Os nossos combustíveis, com a excepção de Chipre e da Dinamarca, já têm os preços sem taxa mais elevados da Europa – por exemplo, em Espanha, este preço é de 0,728, enquanto que, em Portugal, é de 0.742;
  2. Por força dos impostos aplicados num e noutro país (Espanha: ISP de 0,346 e IVA de 18%; Portugal: ISP de 0,364 e IVA de 23%) temos um valor referencial para os espanhóis de 1,267/litro, enquanto que o nosso amarinha lá para os1,361/litro.

(Fonte: Direcção Geral de Energia e Geologia - Divisão de Planeamento e Estatística - ESTRUTURA DOS PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS NA UE-27 a partir de 2008 – Valores reportados a Julho de 2011.
- http://www.dgge.pt/default.aspx?cn=6891700270037129AAAAAAAA.)    

A este nível ninguém mexe, nem quer mexer, seja em Bruxelas, na Alemanha ou ali em São Bento ou Belém.

Nesta lógica causará alguma estranheza que os iates de luxo paguem o combustível taxado ao mesmo preço que as misérrimas embarcações de pesca, ainda sobreviventes? Nenhuma!

Ou seja, não é só a Madeira que é um Jardim. Ele há Jardins espalhados por aí ao pontapé. Ao pontapé que nós não damos e que lhes e nos faz tanta falta.

NOTA FINAL – Para mim um mistério insolúvel: como é que os postos da GALP além fronteiras conseguem praticar preços idênticos aos da restante Espanha, se o seu custo de produção aparentemente é tão mais elevado? É que são 14 cêntimos de diferença, por litro! Será marquetingue?

10 comentários:

  1. E nem sequer podemos regar o jardim com gasolina... porque o preço é proibitivo!

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  2. Mas podemos perfeitamente puxar a corrente do tampão no fundo da banheira e mandar o Jardim e o défice, mais a sua buçalidade bacôca e tonta, lá para o fundo e para os peixinhos....

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  3. Como, se quem vota nele são os Madeirenses... e a maioria deles vê vantagens na postura dele e no que ele faz?

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  4. Tenho um irmão que é engenheiro e que trabalhou nas construções dos túneis que atrevessam alguns maciços e que servem actualmente as vias rápidas de que a Madeira beneficia e às quais se chamam por lá de auto-estradas. Diz ele, e a este propósito e não só, que aquando dumas eleições, o dito governante andava em campanha. Ao passar a caravana de carros Alberto-J- Jardinista por um determinado sítio, um gaiato de quatro ou cinco anos teria deixar escapar uma expressão certamente ouvida entre os seus, mas que todos por medo se coibiam de expressar em voz alta. O senhor Doutor, A.J.j.mandou parar o carro e dirigindo-se à criança, enfiou-lhe dois estalos "para aprender". -Ora toma duas galhetas para saberes quem é que manda na ^Madeira...! disse ele para quem quisesse ouvir ali diante de toda a gente.
    A atitude, em nada destoa do que o vociferar do figurão deixa transparecer como sendo caracterista sua a que a sua individualidade terá todo o direito, mas que em nada dignifica o cargo que exerce.
    A pessoa é um ser malcriado, truculento e de argumento ingénuo que apenas ganha pela chantagem levada a cabo. Na Madeira, emmprego e´sinónimo de lambe-pés do senhor do poder e da máquina montada por ele e na qual se apoia para que exerça o poder de forma eterna. O que me espanta de certa forma, é a subserviência de que a nossa classe política deixa revelada ao sucumbir, um após outro, perante as chantagens tolas do atrás A.J.J citado.

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  5. Mas tu próprio identificas a razão de ele se manter no poder.
    Eu costumo dizer que uma empresa não pode ser uma democracia porque, se fosse, a maioria dos trabalhadores poderia, se para isso estivesse virada, decidir aumentos salariais que se revelassem incomportáveis. Mas, até tudo rebentar, ficariam todos contentinhos. Certo? Certo.

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  6. Ser o «maestro» de uma qualquer comunidade é sempre um exercício de autoridade. E creio bem que assim deva ser, pois os interesses são múltiplos e variados, pelo que anda próximo da Utopia querer conciliá-los todos.

    Mas o modelo escolhido para, primeiro, a legitimidade e, depois, o exercício dessa autoridade é que foi divergindo muito ao longo da História dos homens.

    Depois, a personalidade do governante, que vai do autista ao perna-aberta, bem como da sua capacidade para se saber rodear de um escol de colaboradores que ajudem a pôr em prática as suas políticas - em democracia, supostamente previamente sufragadas pelos eleitores, em face de bases programáticas...

    Enfim, isto estão todos fartos de saber. E é uma manifestação disto o que ocorre quase-quase na Madeira. Apenas com o senão de que o Jardim se enganou no século ou se julga uma reencarnação do Rei-Sol e presumiu - pelos vistos bem - que estando rodeado de água por todos os lados não haveria imperador inimigo que lhe tocasse.

    E a verdade é que tem funcionado.

    Pelo «contenente» o que tem faltado é, exactamente, o exercício da autoridade democrática, que lhe faça mostrar quem é que está, em cada momento, a mandar nisto... Pelo menos até ao ponto de transformar aquele versinho que diz que a Madeira é um Jardim num outro que clame bem alto que a Madeira é Portugal. Para o bem como para o mal, entenda-se, por muito que isso custe a todos.

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  7. Eu mostrava-lhe quem está mandar nisto mas... quem está mandar nisto?!

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  8. Numa empresa o importante é saber de facto manter pirâmide de pé. E toda a gente sabe que quanto maior for a sua base, mais estável ela fica. Por outro lado, quanto mais alta, mais longe a vista do topo alcança. Mas sem base estável, mais depressa cai e desfaz ao mínimo toque. Gerir o recurso humano é a coisa mais complicada que existe....quando os outros recursos entram em crise. Mas porque haveriam de ser excepção? Num ambiente de crise geral, porque razão seriam os recursos humanos uma ilha verde e tranquila no meio dum oceano de intermpéries?

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  9. É precisamente isso que eu digo no post curtito de ontem: o governo está tão preocupado com os recursos de capital do país... e marimba-se para os recursos humanos.

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