setembro 21, 2011

O medo segundo Mia Couto (nas Conferências do Estoril 2011)

15 comentários:

  1. Argumentos convincentes, mas o mundo em que vivemos é este e o medo é o sentimento de fragilidade que nos invade, no mundo inteiro, perante a violência. Como trazermos a civilidade novamente aos costumes citadinos? Essa é a questão para que possamos evitar mais violência, quebra dos direitos humanos e guerras. Parabéns pela postagem dessa entrevista. Um abraço, Yayá.

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  2. Muito sábia esta apreciação. O maldito do medo instrumentalizado como arma... coisa terrível! da qual não nos livraremos senão, talvez, além do limiar a partir do qual já nada há a perder...

    Estranho paradoxo: é preciso ser-se livre para se ser livre...

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  3. Sim....muito bem Salomé, como diz a nossa colega São.
    Há um ponto de ruptura:
    Tal e qual a fábula do burro e da sardinha.
    Um comerciante tinha um burro, e ao carregá-lo de sardinhas ia pondo, ora num cabaz à esquerda, ora no outro da direita, sucessivamente uma sardinha.
    Cada dia carregava mais e mais o desgraçado até que um dia, ao colocar mais uma sardinha, o burro caiu de espargata em quatro e espalhou a carga toda pelo chão.
    -Vejam bem o estapôr da besta que nem com uma sardinha pode!!! gritou o peixeiro... danado com o animal.
    ****

    Como não queremos ser ainda mais burros do que já somos, temos que fazer recuar a fasquia de forma a termos forças para fazer ainda alguma coisa, e dizer basta, antes que o peso das sardinhas, digo, dos impostos e da caça aos nossos valores civilizacionais, estatelem com os ossos onde antes havia uma alma, no chão.

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  4. Eu seria a primeira a saltar para a frente de batalha, mas esta guerra, há que reconhecer, está perdida. Não fosse por mais, a desigualdade numérica é desconcertante. Às vezes é assim, não está ao nosso alcance interferir no que sejam os destinos do colectivo, o que não obsta a que tenhamos ainda o poder de agir sobre nós próprios... ou de tentar, ao menos, salvar a nossa própria alma... (e se possível, os ossos também...)

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  5. ... e depois do caos, virá a ordem...

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  6. O Caos é a grande mãe da ordem.
    E o pormenor curioso, no que ao viver colectivo diz respeito, reside no facto dos que se queixam dos malefícios do caos, são os mesmos que ao perverter a ordem para de forma egoísta daí tirar benefícios, esse mesmo caos promovem.

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  7. E depois acusam os filósofos de não saírem das suas «torres de marfim».

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  8. Acho que são precisamente os acusadores que se rodeiam de torres de marfim, pois o acto de pensar, filosofar é precisamente a arte de não ter limites, logo representa a abertura do espírito e e não o seu encerramento

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  9. Essa acusação é infundada, sim, mas é feita.

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  10. Concordo e reconcordo, se me é permitido inventar uma palavra. Mas de facto é como dizes. Se há gente que nunca tem a certeza de nada pondo tudo em questão, ao desenhar cenários perfeitos dando a descobrir a fragilidade efêmera das perfeições, são precisamente os filósofos.

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  11. Eu, que me confesso um ser eminentemente medroso, tenho uma dificuldade enorme em entender tanto medo à minha volta, tanta negação do ser e, até, do estar.

    E poucos analisarem que o medo não tem substância nem peso, mas habita tão só algum recôndito das nossas circunvoluções cerebrais que há-de, como diria o O'Neil, transformar-nos em ratos.

    E lá vamos, cantando e rindo, entre futebóis e outras alucinações, esquecendo quão curta é a vida e quão breve é, daí decorrendo, o tempo que temos para fazer com que ela tenha valido a pena ser vivida.

    Perdoa-me, Paulo, mas permite-me remeter este comentário para o Sete Mares (http://sete-mares.blogspot.com), onde refiro mais um daqueles - o nosso «confrade» Dionísio Leitão, que teve artes para «se ir da lei da morte libertando», exactamente porque soube crescer para além do medo, irracional e preverso, que nos faz negar, em pura e irremediável perda, o sublime de existirmos.

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