agosto 31, 2012

paralímpicos... II


este pequeno dispositivo faria toda a diferença...
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A posta nos pequenos e médios aldrabões


Da mesma forma que me revolta a tentativa torpe de descartar para cima dos cidadãos um descontrole das contas do país por, alegadamente, andarmos todos a viver acima das nossas possibilidades, uma falácia digna de gentinha sem vergonha nem maneiras se tivermos em conta o despautério generalizado por parte da banca que usou e abusou do vínculo de confiança com os seus clientes para os endividar em larga escala, não posso deixar de reparar no desaparecimento súbito de mais de cem mil crianças das declarações de IRS quando passou a ser obrigatório o número de contribuinte para a miudagem.

No momento de enfrentarmos todos as consequências de uma crise internacional que destapou o covil da multiplicação de asneiras, de maroscas e de excessos cometidos ou apenas permitidos por quem nos governou nas últimas décadas toda a gente se vira contra os políticos, e com razão, como responsáveis pelo estado a que as coisas chegaram.
Todavia, se aos governantes se podem imputar responsabilidades e culpas óbvias é preciso uma grande lata por parte de boa parte da população para apontar o dedo aos de cima e passar a esponja sobre os seus pecados individuais.
A trafulhice do cidadão comum, sem dúvida com o beneplácito ou pelo menos a distracção por parte de quem tem por missão legislar e fiscalizar, é multiplicada por milhões e tem muito, mas mesmo muito, peso no desequilíbrio das contas deste Estado em aflição.

É isso que se revela em cada uma das iniciativas destinadas a acabar com o regabofe: são sempre aos milhares os beneficiados por baixas fraudulentas, por subsídios injustificados, por pensões ilegítimas, por uma lista infindável de esquemas, de truques, de aldrabices como esta invenção de falsos dependentes a cargo que poupa uns trocos no IRS a pagar. É o Estado que estão a lesar, para além de falsearem o jogo da vida por ganharem de forma ilegítima mais do que os seus colegas de trabalho decentes e que não aldrabam o país.
E não cola a ideia de que o mau exemplo vem de cima, pois venha o exemplo de onde vier só o segue quem quiser.

Por isso já nem levo a sério as conversas de café nas quais os inocentes aos magotes se queixam dos maus, dos poderosos que enganam o povo, quando lhes conheço de ginjeira as múltiplas jogadas em que envolveram ou ainda envolvem os seus quotidianos.
Os outros é que fazem, os outros é que são e tudo de errado que fazemos é lavado com a água benta das coisas com justificação. Há sempre uma há mão, tal e qual os tais outros malandros, os lá de cima, nos oferecem as suas que são quase sempre para o bem do país.
Essa carga não pode ser aligeirada dos lombos de todos quantos se comportaram como burros, tão cegos pela ganância como os mandantes que criticam e invejosos do sucesso de outros larápios (burla equivale nas consequências a roubo). Venderam a alma por trocos, no fundo, e não têm moral para apontar o dedo seja a quem for.

Um país que não consiga encontrar defesas contra estas mentalidades mesquinhas, estas manias egocêntricas de egoístas munidos de esperteza saloia bem sucedida em tempo de vacas gordas, é ingovernável. Qualquer outra interpretação do fenómeno é um investimento irresponsável numa forma de estar que antes não nos servia e agora é quase uma traição.

E essas não se medem em função do tamanho do prejuízo causado a uma Pátria à qual já pouco resta para roubar.

agosto 30, 2012

paralímpicos...

cerimónia de abertura com mais um intruso...
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Discurso do Presidente do Uruguai, José Pepe Mujica, na Rio+20

Discurso do presidente uruguaio durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio +20.

Como recomenda o Jorge Castro, "ouçam-na, de ponta a ponta, e reflictam um pouco no conteúdo daquele discurso e da atitude de cada um perante a vida. O que queremos, o que fazemos, o quanto temos para fazer enquanto a vida se escoa em minudências que «forças alienígenas» nos vão impondo... e a vida aqui tão perto."

agosto 28, 2012

A posta que nunca mudam de canal


Uma das coisas que mais me irritam e preocupam nesta caldeirada europeia é a mania de que sempre que há assuntos urgentes por resolver reúnem-se a Merkel e o francês de serviço na liderança à la Louçã (bicéfala) que nenhum tratado consignou.
Será a realidade dos factos, sem dinheiro não há palhaços, mas constitui uma desconsideração para com nações que não se tratam como verbos de encher, entregues os destinos de todo um continente a quem exerce um poder que, por derivar da condição financeira, afinal apenas comprou.
Mas a entrevista de António Borges, na qual um gajo que ninguém elegeu ou nomeou para um Ministério ou Secretaria de Estado revela a sua decisão privada acerca do futuro do canal público, conseguiu irritar-me e preocupar-me ainda mais.

O paralelo está à vista: na Europa dita comunitária como neste desgraçado país não manda a política, recheada de figurantes, de testas-de-ferro patéticos de quem mais ordena. Manda o dinheiro.
Claro que não faltam os defensores da teoria de que sim senhor, faz todo o sentido que mande quem paga. Contudo, essa teoria esbarra no caso da RTP com o pequeno detalhe de sermos nós, a multidão de pelintras, a pagar. A mesma que ajuda a sustentar parlamentos e comissões e outras ilusões europeias de poder para o povo que paga à grande e à francesa mas acaba sempre espoliado do que seja seu ou seja de todos por quem já nem tenta disfarçar o incómodo que estas coisas da Democracia e dos Estados de Direito podem causar à livre iniciativa, ao empreendedorismo ganancioso, ao furor capitalista desastroso e descarado que já nos perdeu a EDP e agora ameaça destruir cinquenta anos de trabalho e de experiência adquirida que todos pagámos a peso de ouro, entregando-o a quem se devam favores milionários.

Na questão europeia a situação é, ou pelo menos parece, idêntica. Gregos, portugueses e outros povos do sul com menos jeito para as contas andaram séculos a contribuir para que o Velho Continente se tornasse num paraíso por comparação com a maioria e agora que a acumulação de riqueza parece ser o único critério de avaliação da grandeza e da relevância das nações (como das pessoas) são colocados num canto com orelhas de burro enquanto, nas tintas para órgãos de soberania ou mesmo para as próprias estruturas criadas para o efeito no âmbito da alegada União, alemães e franceses, os Borges desse filme, anunciam as suas decisões e impõem-nas à revelia de qualquer legitimidade que não a de serem a malta do pilim.
Ou quem a representa.

Em ambos os casos, tudo o que de importante acontece parece determinado por poderes que não os institucionais, não aqueles a quem confiamos as decisões que mais interessam a cada um de nós e ao colectivo que integramos. Tudo o que acontece, cada vez menos razoável, parece provir de quem pouco ou nada se interessa pelo impacto das tais decisões comunicadas por gente sem mandato para as tomar e ainda menos para as impor, com troikas ou com falsas tutelas legitimadas por um sistema cada vez mais difícil de entender no funcionamento e na sua lógica distorcida pelas questões marginais do lucro fácil, imenso e despudorado que rege quase tudo o que emana de quem manda. Ou de quem apenas finge mandar.

agosto 27, 2012

A posta num código penal montes de sindical

Arménio Carlos (CGTP) diz que a troika devia pedir desculpa pelo roubo organizado que está a fazer em Portugal.

Se alguém o levar a sério, vamos finalmente resolver o problema de sobrelotação das prisões...

agosto 26, 2012

saída da... crise

desconfio que meta água...
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«Emigração outra vez, não» - Jaime Ramos

No fim do anterior regime o General António de Spínola escreveu o livro «Portugal e o Futuro». Nele escreveu: perante as dificuldades “o povo, realista, por vezes ingénuo, esse emigra”…
Três décadas depois, há políticos empenhados em reincidir, condenando um povo à emigração. Estimativas indicavam em 2006 que 90.000 portugueses estavam a emigrar anualmente devido à estagnação económica. Este número subiu em 2007 e 2008 para mais de cem mil por ano.
A manutenção da aposta em baixos salários fará crescer o número de portugueses que emigrarão para fugir às dificuldades. Um novo surto de emigração acelerará a redução da população, acentuando a desertificação do interior.
Precisamos de políticas que mantenham a população garantindo a sua renovação, ocupem adequadamente o território impedindo o despovoamento, e evitem que os portugueses se transformem em deserdados da sorte a quem pouco mais resta do que emigrar.
A dificuldade é conciliar estas prioridades com o crescente défice da balança externa e com o endividamento das famílias e das empresas. Para isso precisamos da Politica e de uma estratégia nacional de desenvolvimento da nossa economia, com aproveitamento de todas as nossas potencialidades.
A emigração é benéfica porque reduz o desemprego e os custos sociais associados e aumenta as remessas vindas do estrangeiro contribuindo para aumentar o nosso RNB (Rendimento Nacional Bruto) per capita e melhorar a nossa balança externa.
No primeiro trimestre de 2010 as remessas atingiram os 508,8 milhões de euros.
Entre 1998 e 2008 quase 700 mil portugueses tiveram de emigrar para procurar uma vida melhor no estrangeiro. Lá fora procuram emprego, melhores salários, realização profissional. De 1998 a 2002 o número de emigrantes esteve estabilizado em cerca de 40 mil por ano mas este número quase triplicou em 2007 e 2008. A maioria tem ido para a Europa mas em Angola já temos quase cem mil. Sem este êxodo o desemprego já ultrapassaria os 15%.
Nestes números incluem-se pessoas altamente classificadas como Ronaldo, Mourinho e vários professores universitários… Em 2000, Portugal era o segundo país a exportar trabalhadores licenciados na OCDE. Há uma fuga de cérebros, devido à exportação de jovens com ensino superior, facto que não é necessariamente negativo, embora não seja o ideal.
O ideal seria garantir em Portugal oportunidades para todos, pleno emprego e capacidade para atrair imigrantes de todos os continentes, de preferência com boa formação técnica.
No exterior, estes licenciados aumentam a rede de portugueses bem colocados, facilitando contactos e negócios, melhoram a imagem do emigrante tradicional, e são importadores de sabedoria para Portugal. Regressam mais experientes e sabedores, idealmente com capacidade empreendedora.
A emigração é, em termos de economia nacional, um erro. Se temos capacidade de trabalho devemos rentabilizá-lo, fazê-lo produzir, aumentar a nossa riqueza e o nosso PIB. Os países ricos não exportam mão-de-obra, vendem produtos com valor acrescentado, com bom valor comercial, e importam trabalhadores. A emigração empobrece a médio prazo o país de origem, embora possa no imediato melhorar a contabilidade e as contas com o exterior. A nossa emigração contribui para enriquecer o país de destino como se comprova com o Canadá, EUA, a longínqua Austrália e alguns vizinhos europeus.

Jaime Ramos
Autor do livro «Não basta mudar as moscas»

E não abrimos os olhos...



Via Capinaremos

agosto 24, 2012

Cecília Gimenez...

contratada pelo governo de Passos Coelho para restauro de imagem...
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Que serviço Público? Não! A pergunta é: que País!?

O Governo prepara-se para levar a cabo a obsessão de colocar os órgãos  públicos de comunicação social em mãos privadas.
Dadas as péssimas condições financeiras e o relativo desinteresse  por parte de operadores privados em relação à "compra" do segundo canal, o tal que ainda é a pedrada no charco de tanta mediocridade,  este executivo prepara-se para ceder a licença de exploração da  RTP1. O segundo canal, emblemático e tradicionalmente a alternativa de qualidade, será para fechar, sem mais!
A obsessão fundamentalista destes senhores, com a entrega de todo este património aos caprichos dos negócios privados, leva-nos a duas conclusões: ou existe uma perturbação mental colectiva no executivo, ou estão compremetidos com arranjinhos de bastidores cozinhados como compromissos pré-eleitorais  com os tais interesses.
Portugal não pode continuar a assistir como se anestesiado estivesse ao desbaratar, ao retalhar, ao desmontar de toda a sua estrutura sob a designação eufemística de " re-estruturação".
Na verdade, o que assistimos é de facto a uma entrega de factores e empresas estruturantes a outros interesses que não os nossos.
Ao mesmo tempo que se praticamente se abandonam projectos, mais que viáveis tais como os da geração eólica, urgentes face ao aumento dos custos da energia importada, entregam-se as poucas actividades ainda sob a  chancela nacional à gula desenfreada de interesses estrangeiros.
Por todo o mundo, os Estados estão a investir fortemente nas energias alternativas, falaciosamente chamadas de mais caras, quando na verdade apenas têm um custo de investimento inicial mais alto, sendo a geração de energia totalmente gratuita e virtualmente ilimitada. A Alemanha é um dos países que mais fortemente investe neste sector e Portugal é ainda, apesar de tudo e por enquanto,  um dos seus fornecedores.
Portugal conseguiu colocar-se em apenas uma década na vanguarda da indústria dos equipamentos desta tecnologia, mas nada disto tem pesado nas decisões deste malfadado executivo, tal como ficou demonstrado na decisão tomada sobre a mobilidade eléctrica que levou ao abandono do projecto Renault- Nissan que se destinava ao fabrico e fornecimento de baterias.

Quanto ao tão falado mar e o seu recém redescoberto valor, os estaleiros de Viana que digam de sua justiça. Ao que parece, a Caixa Geral de Depósitos só tem rapidez de decisão quando o objectivo é o BPN ou a alienação criminosa de acções de forma a privilegiar de alguma forma um concorrente a mais uma privatização. Para colocar algum dinheiro em empresas com contratos assinados que trariam um retorno assinalável, tá quieto macaquinho, como dizia o outro. O abandono do projecto turístico no Alqueva liderado por José Roquette, é só mais um triste exemplo de um Governo que se revela poderoso para determinar a alienação de todo o património estratégico, mas totalmente impotente para alterar o sentido da gestão do que resta no banco ainda sob a esfera pública... a não ser que, e da suspeita não se livram,  os gestores da Caixa tenham indicações superiores para as decisões que tomam, adiam e deixam de tomar.
Disto se podem queixar centenas de empresas, aflitas não por não terem clientes, mas por não terem crédito que permita satisfazer as encomendas desses clientes. A entrada de divisas que se comprometem deste modo, não parece sensibilizar o executivo que acredita, não sei por que estranhas teias de raciocínio, de que o contribuinte dispõe dos recursos infinitos  que ao Estado falta.
Perante este quadro que o País vive, que sentido tem a obsessão com o desmontar do serviço público de radio-difusão? Que sentido faz alienar a RTP, o fecho da RTP2 e da Antena 3?
Por vezes parece-me estar a viver uma passagem de Franz Kafka, onde me querem fazer sentir ser apenas  uma barata perdida num enredo interminável ao qual chamam de processo e que só eles entendem.
Comparações à parte, é urgente fazer-se algo antes que o país desapareça, absorvido  e transformado em subúrbio " de facto", do resto da Europa.

morreu o homem...

que pedia para morrer...
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agosto 22, 2012

O Último Comício


As palavras cambaleavam como que embriagadas pelo cheiro nauseabundo das ideias exumadas no nexo de uma causalidade arbitrária, predestinada ou não, de uma constante aleatória, que as arrastava a custo pela pista feita palco de danças que todos em volta rotulavam de imenso intelectuais.
Mal se endireitavam, as palavras circunstanciais que se atropelavam pelo desespero de causa, perdida a deixa na memória que restava da história de vida de um péssimo orador, porque eram palavras perdidas, palavras cuspidas no momento de êxtase de um exorcismo qualquer praticado naquele palanque improvisado do qual emanavam uns sons que as palavras dançavam sobre as pernas vacilantes das mentiras que não as tinham para andar.
Piruetas extraordinárias e cambalhotas involuntárias, sem atenção ao ritmo marcado pelo que, à distância, parecia o rufar de tambores na exigência de dias melhores por parte da audiência que escutava as palavras atiradas à parede como barro que não colava porque a parede parecia ter ouvidos e rejeitava também ela, estupefacta, a lógica putrefacta das ideias exumadas da sepultura onde as arquivavam, nas valas (dos lugares) comuns, tantos enganados por apenas alguns que se revelavam agora desastrados com as palavras a utilizar.

As palavras tropeçavam sem cessar nas raízes da insensatez plantada mesmo à beira daquela estrada sem fim que se impunha percorrer, naquela terra deitada a perder num jogo com regras a fingir, muito pouco no entanto na cotação dos aprendizes de espertalhão cuja música ecoava em fundo como a banda sonora de uma comédia sem vontade alguma de rir.
O som de palavras desequilibradas pelas ideias desenterradas à pressa para cavarem afinal a própria sepultura, escravas da lucidez que lhes matava à nascença a ilusão da confiança que pretendiam inspirar.
O ruído assustador de um comboio de palavras a descarrilar, carruagens atafulhadas de palavras desperdiçadas na viagem sem regresso a uma terra prometida no baile de uma história encantada onde a música de fundo não deslustraria em velórios, ou mesmo em funerais.
Palavras tristes demais com a sua desdita, na expressão oral que depois era escrita e as envergonhava e parecia que cada ideia as embriagava para as ajudar a esquecer o lado abjecto da sua condição de reféns daquele grupo de artistas, prodigiosos malabaristas de modelos e de conceitos, de planos que pareciam perfeitos quando o barulho das luzes se sobrepunha ao de cada palavra que se expunha ao embaraço daquela humilhação porque a demagogia as transformava numa cacofonia sem sentido algum.

Tantos enganados somente por um, o mais convincente no poleiro, tantos atraiçoados pelo poder do dinheiro que comprava aquelas palavras malditas que eram palavras desditas em função do tamanho da ondulação no mar onde o naufrágio já acontecia mas a bordo ninguém parecia saber. Mesmo quando, à vista desarmada, já mal se avistava o último salva-vidas ao dispor.

agosto 21, 2012

«a crédito» - bagaço amarelo

Quando eu era criança, a minha mãe fazia as compras lá para casa essencialmente na mercearia do senhor Orlando, perto do ainda existente café Convívio, em Aveiro. Ia lá praticamente todos os dias, enchia um ou dois sacos reutilizados pela enésima vez e depois pagava no fim do mês. Eu, nos dias em que tinha sorte, trazia um ou dois rebuçados de oferta. Desembrulhava o primeiro, enquanto o via a tirar o lápis detrás da orelha e apontar num caderno a despesa, e guardava o segundo no bolso.
Algumas vezes, enquanto a minha mãe fazia as compras lá dentro, eu ficava cá fora, junto aos caixotes da fruta e dos legumes, a brincar com a filha duma outra cliente que costumava ir lá à mesma hora. Não me lembro do nome dela, mas lembro-me que tinha o cabelo preto e comprido, olhos escuros e soltos como o voo duma borboleta. Costumava arrancar algumas uvas que dividia comigo e, apesar de ter na altura apenas uns seis ou sete anos de idade, foi ela que me ensinou como é que das uvas podíamos fazer passas.
Fascinava-me, aquela miúda. Aliás, como eu não tinha coragem de roubar uma única uva que fosse, foi com ela que comecei a perceber que as mulheres são demasiado corajosas para quem é do sexo fraco, e que os homens são demasiado cobardes para quem é do sexo forte.
O caderno do senhor Orlando seria, aos olhos de qualquer estudante de Economia dos dias de hoje, um produto financeiro de alta rentabilidade. Ali estavam promessas de pagamento da despesa mensal em alimentação de inúmeras famílias aveirenses, ou seja, de muito dinheiro. Esse produto financeiro seria, assim, nos dias que correm, alvo de especulação em bolsa e uma forma de cobrar juros pela demora no pagamento. O senhor Orlando, no entanto, limitava-se a abrir o caderno de vez em quando para informar os clientes em quanto é que ia a conta.
Com o tempo, todas as lojas pequenas como a do senhor Orlando foram substituídas por grandes superfícies comerciais. Simultaneamente, o caderninho onde se apontavam as despesas foi substituído por cartões de crédito. Ao contrário do senhor Orlando, os hipermercados não acreditam na palavra de pessoas como a minha mãe, por isso os bancos passaram a servir de garantia desse pagamento cobrando uma taxa a uns e outros.
Essa taxa chega, diz o grupo Jerónimo Martins, aos cinco milhões de euros por ano, por isso quer acabar com os cartões de crédito (e débito também) para despesas inferiores a vinte euros nos supermercados Pingo Doce. O senhor Orlando não faz ideia do dinheiro que deixou de ganhar por nunca ter cobrado taxa nenhuma aos seus clientes e eu, como não acredito que os supermercados Pingo Doce venham a ter empregados de caixa com um lápis atrás da orelha, nem acredito que uma mulher qualquer simpática venha a roubar uvas para dividir comigo, vou continuar a não ir lá.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
e
Blog a funda São

Revolução em curso no México, ignorada pela comunicação social


México, 11 de julho de 2012. O maior protesto da história da humanidade. Governos dos EUA e do Reino Unido pressionaram a imprensa para nada publicar. A Google censurou vídeos no YouTube e restringiu palavras-chave sobre este evento.
A comunicação social mexicana fez black-out aos protestos contra o seu novo governo, formado pelo PRI (Partido Revolucionário Institucional), que foi acusado ​​de fazer tudo, desde a compra de votos até comprar os media.
Se a comunicação social corporativa não vai espalhar essa história, então vamos nós espalhá-la, ajudando a apoiar o movimento pela democracia no México.

Via meu amigo Bernard Perroud

Alguns links úteis:
Mexico: Movement fights 'imposition' of PRI’s Enrique Pena Nieto
Mexico in a State of Revolution Following the Presidential Election
MEXICO IS HAVING THE LARGEST PROTEST THE WORLD HAS EVER SEEN MEDIA BLACKED IT OUT (video)

Assange... II

Nem dentro de uma mala diplomática...
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agosto 18, 2012

touradas...

este deveria ser o projecto para a praça de touros em Viana do Castelo cuja construção foi viabilizada
pelo tribunal administrativo...
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A posta no poder sem açaime


Chamam teorias da conspiração a todas as acusações por parte de muita gente com credibilidade e argumentos relativamente à actuação de Estados (ditos) democráticos no que respeita ao exercício do poder, nomeadamente pelos abusos cometidos sobretudo em nome da segurança, da estabilidade que não passa de uma paz podre que muito interessa aos mandantes do mundo inteiro.
Muitas dessas acusações põem em causa as motivações dos governantes, cada vez mais suspeitos de alimentarem verdadeiras réplicas das cortes feudais à custa de um fenómeno crescente de corrupção, de compadrio, de alianças de conveniência supra-partidárias e nada ideológicas que visam perpetuar o esquema de manutenção de uma elite intocável.
Quando alguém se destaca da multidão que prefere organizada em rebanho, o poder reage como um cão pastor e recorre aos meios colocados ao seu alcance para defender os cidadãos das muitas ameaças que uma sociedade produz. Esses meios, polícias de todo o tipo e a Lei devidamente aligeirada na interpretação por juízes com imensa flexibilidade na coluna vertebral, são afinal utilizados sem hesitações contra as próprias populações que os sustentam.
Um trio de exemplos recolhidos de diferentes pontos do planeta confere outra cor às tais teorias da conspiração: a caça impiedosa a Assange, a condenação vergonhosa das Pussy Riot e a chacina odiosa dos mineiros em greve na África do Sul.
Se as consequências dos três episódios diferem pelo grau de tragédia dos mesmos, as motivações reúnem-se em torno de um perigoso paralelo, de um ponto em comum que é o de constituírem reacções do poder a actos de revolta de pessoas com coragem para lutarem por convicções ou apenas por desespero de causa.

Assange rima com revenge

Assange colocou a cabeça a prémio no dia em que ousou desafiar alguns pressupostos que constituíam vacas sagradas da apatia generalizada que tanto agrada a qualquer líder nacional por o poupar a beliscadelas na imagem heroica que, de uma forma ou de outra, sempre tentam impingir.
Só como verdadeiros salvadores de pátrias conseguem legitimar todo o conjunto crescente de privilégios que parasitam, tantas vezes com tanta voracidade que acabam por destruir nações inteiras, as suas e as dos outros e por isso reagem por instinto com a força mais à mão.
Para o australiano mais temido (odiado?) por governantes com esqueletos nos armários estão a ser mobilizados todos os recursos de vários Estados, com o nítido intuito de silenciarem um indivíduo, ajustando contas, e de dissuadirem por tabela os restantes candidatos à repetição da façanha.

Free Pussy!

Um raciocínio idêntico terá presidido à gigantesca farsa judicial que culminou com a condenação pesada para a irreverência de três raparigas russas, inevitável como sinal do poder (ainda muito) soviético cujo rasto de prepotência tresanda mesmo a totalitário e sem tolerância para com qualquer tipo de contestação.
O mínimo que as jovens poderiam enfrentar seria mesmo a prisão, destino diferente do imposto a diversos jornalistas e outras figuras da oposição mas igualmente paradigmático do aviso à navegação que os poderosos sentem necessidade de emitir para evitarem males maiores que, na perspectiva de qualquer tirano ou tiranete, são o perigo de contágio das ideias mais rebeldes.
Foi a rebeldia das Pussy Riot que as tramou e não qualquer das acusações de treta com que as privaram do estatuto de preso político que Putin jamais lhes reconheceria.
E nem o tribunal escapa à suspeita de ser movido por cordelinhos invisíveis a partir de um Kremlin que se esforçou (mas pelos vistos não conseguiu) por não transformar em mártires de uma causa as artistas que apanharam um ano de pena por cada um dos tomates que exibiram aos russos de todos os géneros e às alimárias de todo o Ocidente que se deixam dormir enquanto as suas democracias descambam aos poucos para a mesma privação de liberdades por amor à estabilidade governativa de cada figurão instalado num pedestal dos que o poder constrói.

Por terrenos minados

Por fim, o extremo desta corda que ameaça partir entre populações cada vez mais desconfiadas e insatisfeitas com as lideranças que lhes tocam na rifa e estas últimas, cada vez mais descaradas no leque de abusos a que se permitem mais os favores que pagam com a sua permissão.
O massacre sul-africano, ao nível do que de pior o apartheid produziu, constitui-se exemplo da derradeira etapa de perversão dos valores e das obrigações dos líderes políticos, mais violentos quanto financeiramente mais relevantes os interesses a proteger.
A polícia atirou a matar quando podia recorrer a outros meios e esse tipo de decisão nunca é tomada sem ordens superiores. Em causa estava uma mina de dimensão mundial e uma empresas britânica sem tempo (que é dinheiro) a perder com a contestação que de imediato foi rotulada de ilegal e o presidente da África do Sul deixou bem clara a sua intenção de pôr um fim ao prejuízo em causa.
Foram mais de 30 os que conheceram o fim sob as balas de agentes da autoridade às ordens de um Governo que deixa claro que as ordens são para executar.
Correm mundo as imagens da execução de mineiros armados com varapaus e catanas com as quais fica mais uma vez bem clara a inexistência de limites para o uso da força, mesmo numa democracia de tom mais ou menos ocidental, dependendo apenas da relevância da causa, da dimensão do interesse ou do estado de degradação dos regimes a (des)proporção das reacções do poder às ameaças a si mesmo.

Perante exemplos tão flagrantes e aos quais se somam os excessos visíveis cometidos por quem manda no que é de todos mas parece propriedade apenas de alguns, os autores das teorias da conspiração soam menos... malucos.
Já aqueles que os ignoram ou tentam desacreditar, antes pelo contrário.

agosto 17, 2012

Assange...

não sai...
apesar de ter sido proposta a sua troca com V.Azevedo
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agosto 15, 2012

Clichés

"Sinto-me perdido/a, preciso de me encontrar" e o subentendido "enquanto me encontro espero que ninguém me pressione, nem a arranjar trabalho/dedicar-me ao trabalho, nem a ser excelente no que faço, nem a agir correctamente, nem a fazer o que quer que seja pela (minha) vida, porque eu não sei de mim e estou a meio de uma busca importantíssima" é a desculpa contemporânea mais usada (não possuo os dados de qualquer estudo de uma Universidade estrangeira, mas era menina para apostar umas coroas nisto) para as pessoas se demitirem de ser gente.
É um dó de alma, como diz a minha avó.

metáforas...


Embevecido (ou deveria dizer-se emboivecido...?) pelos efeitos nefastos da acção governamental nos mais desvairados sectores da vida portuguesa, reparei na sangria que, no alpercheiro que tenho em casa, sempre ocorre por esta altura do ano...

Como se pode ver na imagem acima, e comparando os dois globos resinentos, observa-se até sem necessidade de consultorias, que o do ano prévio (mais acima) é muito menor do que o do actual (mais abaixo)... 

Tenho para mim que será por esta razão que quase metade da árvore está seca e da fruta deste ano nem um alperce se safou, pois estava tudo cheio de bicho.  

A chatice é que no horto onde me abasteço de produtos para estes e outros males da fruta dizem-me que, agora, é proibida a venda de venenos contra as pragas. Alguém terá solução para este pequeno problema doméstico?   

agosto 13, 2012

A posta na aceleração perigosa de uma economia sem travões


A globalização, uma realidade aparentemente imparável, parece possuir uma característica que se destaca das demais e certamente fará as delícias de organizações e de pessoas poderosas em todo o Mundo: funciona como um gigantesco acelerador de todo o sistema capitalista, impondo ritmos de crescimento tão avassaladores que mesmo empresas de dimensão colossal acabam absorvidas pelas mega-corporações que funcionam quase como uma praga de eucaliptos nos seus nichos de mercado, gerando uma dinâmica que se pode definir como survival of the biggest.

O impacto deste fenómeno à escala global, cuja vertente mediática se cifra nas fusões ou assimilações de gigantes multinacionais, poderá estar na origem de dois conceitos, chamemos-lhes assim, que fazem escola há um par de décadas nas empresas de maior dimensão: na área comercial temos a escalada sistemática dos objectivos anuais e no sector produtivo impõem-se tempos-padrão para o completar de determinadas tarefas.
Em termos práticos, os directores comerciais vêem-se obrigados a desenharem objectivos cada vez mais altos e os seus congéneres da produção esforçam-se por conseguir que as suas unidades obtenham os melhores desempenhos em fracções de tempo cada vez mais curtas.
Isto parece lógico, razoável até.

Contudo, a realidade prática, a verdade dos factos por detrás do aparente (e seguramente temporário) sucesso desta combinação de automatismos (só as máquinas podem calibrar-se dessa forma) é o culto da frustração imposto aos comerciais que nunca chegam perto da cenoura pré-definida e da falta de brio aos técnicos a quem impõem ritmos impossíveis de abraçar sem perda da qualidade do serviço prestado. E entretanto a pressão vai dando cabo de quem trabalha, adicionada à do medo do despedimento que verga a coluna mesmo aos mais contestatários.
A realidade apresenta-se como a de um processo descontrolado, caótico, que está a definhar à mercê da sua inviabilidade, da sua falta de sintonia com um elemento fundamental da engrenagem: as pessoas.

Desde o início, a globalização soou-me, como a imensos economistas e outros estudiosos da dinâmica da coisa, ameaçadora. De resto, não faltam na Ficção Científica os hipotéticos cenários que o futuro pode criar a partir da tendência acelerada de canibalização de empresas por parte da sua concorrência de maior dimensão, com as regras de mercado a privilegiarem os impérios com pés de barro mas cuja voracidade acaba por trucidar tudo à sua passagem, pessoas e valores, sem hesitar em destruir-se enquanto sistema se a operação for lucrativa para os que mais interessam e que ninguém sabe muito bem quem são mas mandam cada vez mais no Mundo.
A crise provoca na globalização um fenómeno semelhante ao de um animal ferido que cego pela dor desfere golpes a quem se aproxima demais, ainda que venha em seu auxílio.
Na cegueira dos gráficos, das cotações, do lucro astronómico exigido a quem tem o seu dinheiro investido nessa máquina infernal, vale tudo para manter o tal ritmo alucinante que está a criar distorções e a pressionar decisores a arriscarem todo o tipo de golpadas, the show must go on, para cada ano representar um xis por cento de crescimento como deve ser.

Estão a ser cometidas asneiras com consequências irreparáveis, pelo menos no contexto do sistema capitalista como o conhecemos, com a agravante de ninguém saber o melhor passo a dar a seguir. Cada cabeça sua sentença, mesmo entre os entendidos, com o planeta em suspenso à espera de ver cair o primeiro dos gigantes que vacilam perante uma crise cada vez mais espalhada por contágio a cavalo na tal globalização que também colabora na infecção generalizada de países ou mesmo de continentes nesta orgia de milhares de milhões que se perdem em todo o lado e ninguém parece ser ganhador excepto umas figuras difusas, sinistras, especuladores ou coisa que o valha, e o sistema parece cada vez mais próximo do fim por quanto tentem chutar para canto o espectro de um armagedão financeiro que pode mesmo arrasar a sociedade como até agora a construímos.

E nos equilíbrios de forças nivelados por baixo, à escala global acelerada demais, basta uma pequena faísca para queimar o rastilho curto que nos separa de uma implosão como nem a Grande Depressão, mais localizada e sem tantas repercussões externas, representou.

agosto 08, 2012

A posta nos que já deviam ter emigrado há muito


Revolta-me ouvir portugueses ilustres, ou simplesmente mediáticos o bastante para serem entrevistados por jornalistas estrangeiros, falarem com enorme desdém do nosso país.
Mais do que me revolta, repugna-me esse destilar das fraquezas circunstanciais de uma Nação que acaba por ser vítima do fraco nível das suas figuras de proa que tanta trampa soltam pela popa ao longo do seu percurso privilegiado no país que enxovalham perante os de fora.
Numa fase tão dramática em que até a soberania foi amputada pela gangrena provocada por medíocres que, regra geral, fazem parte da mesma elite que agora insulta o país com o seu desprezo mal contido, cai mal, muito mal, esta sede de protagonismo daqueles que apontam dedos acusadores a uma Pátria que nada fizeram para proteger dos males que a afligem.

Uma das regras mais razoáveis do funcionamento das organizações é a que recomenda que os assuntos delicados sejam tratados em sede própria, dentro de portas, e não discutidos na praça pública. É uma lógica fácil e aplica-se a organizações de qualquer dimensão, desde pequenos grupos de cidadãos ao conjunto dos que partilham uma Pátria.
Existe, por outro lado, uma diferença clara entre o impacto negativo do alardear de verdades inconvenientes para europeu ver (e atenção ao tom utilizado) e a mensagem positiva que se pode transmitir a partir dessas mesmas realidades desconfortáveis, transmitindo uma imagem colectiva muito mais favorável aos interesses do país.
Mas não são esses que preocupam os queixinhas (piegas?) mais desbocados, sempre tão deslumbrados com o destaque garantido pela presença de microfones ou de câmaras de televisão.

Afirmar o descalabro de Portugal perante os estrangeiros, denegrir a imagem do país ao enfatizar as suas misérias em detrimento das muitas grandezas ao alcance de um povo bem liderado, como este já provou, é impossível de defender enquanto gesto patriota. É um exercício desnecessário de lavar de roupa suja aos olhos de estranhos, de observadores facilmente impressionáveis por estas impressões deixadas por pequenos traidores que ocupam, neste período difícil, posições de (demasiado) relevo e (ab)usam-nas na excitação do momento, sem equacionarem sequer o efeito que as suas palavras (volto a chamar a atenção para o tom) provocam em quem não possui dados suficientes para as interpretar, para as enquadrar num contexto que possa ser benéfico, em termos de opinião pública europeia, para o nosso país.
Estes factos tornam-se ainda mais relevantes, reitero, por serem produzidos por quem possui voz e influência reconhecidas o bastante para merecer tal destaque. E essa voz e influência possuem-nas igualmente na sociedade que em nada conseguiram melhorar mas denigrem sem hesitar quando a oportunidade lhes é, inexplicavelmente, concedida.

Com o país tão necessitado de gente de bem que dele se orgulhe e queira acima de tudo libertá-lo da actual condição, revolta-me, repugna-me que os comprovadamente incapazes andem a dar a cara aos de fora como denunciantes de males a que se consideram alheios, preocupando-se mais em sacudir água do capote do que com a imagem já de si fragilizada que a situação financeira sempre implica, para os indivíduos como para as nações, como os gregos já sentem na pele.
E não, ainda não somos a Grécia no grau de aflição.

Mas parece ser esse o desejo secreto desta seita sem vergonha, desta elite impostora que tenta desesperadamente, prioridades bem definidas, descartar-se das suas responsabilidades directas ou por omissão no estado de um país do qual só lhes interessa defender uma zona restrita: a periferia apátrida dos próprios umbigos.

agosto 03, 2012

Para uma verdadeira mudança

Surgiu nestes últimos dias à luz do dia, o embrião de um movimento cívico a que o administrador deste blogue tem vindo a divulgar através da publicação de um conjunto de ideias e reflexões da autoria de Jaime Ramos, o mentor deste movimento de mudança.
Sobre o projecto, sou a dizê-lo mais do que interessante: urgente.


O importante é o que Jaime Ramos assina no final deste conjunto de ideias e que mexe com a estrada do nosso futuro colectivo, o somatório da cada um dos nossos individuais.
Que os partidos se esgotaram, é uma evidência. Que o Capital acumulado tem que contribuir para o bem social é incontornável, ainda nos anos 60 e 70 do sec XX se falava da "responsabilidade social da empresa" mas isso foi completamente cilindrado pelos yuppies que não vendo mais que a bolota em frente aos olhos, estão secar a floresta de onde engordam, culpando não a sua gula, mas a incapacidade das árvores em dar mais bolota e por isso chafurdam a terra na voragem por mais e mais enquanto por essa via lhes rebentam com as raízes....
Se o trabalho tem que capitalizar recursos, porque é que é se permite esta alergia em contrassenso onde o capital não capitaliza nada para o todo, quando esse todo é o conjunto das árvores de frutos?
Outra ideia em que estou totalmente em acordo, é a de uma comunicação social pública, referência de qualidade e isenção.
A questão dos lucros ou prejuizos são muitas vezes falaciosos ja´que consistem na engenharia financeira e contabilística que condiciona a coluna (deve ou haver) da folha onde se inscrevem as rubricas. 
No momento actual assiste-se a uma desenfreada e irresponsável vaga de privatizações, justificada por uma probreza de argumentos que - no que toca às últimas privatizações- em curto espaço de tempo ficaram desmontados, pese embora todo o esforço do executivo para mostrar sucesso onde o património colectivo escreve prejuizo e por essa via, aumento de encargos a ser suportados pelos contribuintes. De privatização em privatização, apontadas como conducentes à solução dos nossos problemas económicos e relançadores através dos investimentos, assistimos a uma progressiva perda de soberania, perda de receita para o Estado  compensada com o aumento da carga fiscal, a qual por excessiva, condiciona negativamente o tecido produtivo do país. A cegueira doutrinária, a estupidez ou pior, a corrupção, não permitem tornar  visíveis aos olhos de quem nos governa  a imensa insensatez que consiste em colocar em mãos alheias, sectores determinantes de toda a nossa economia com a consequente  perda de receitas para o Estado que decorre da alienação da sua propriedade. Energia, Transportes e Comunicação, são de tal forma importantes e estratégicos que nenhum país da Europa abre mão do seu controlo sob a tutela estatal, excepto para estes iluminados, os quais pese embora o seu deslumbrante brilho, não conseguem explicar o fracasso completo da sua estratégia que redundou no aumento -  que dizem inesperado e surpreendente, mas que outros apontaram como evidente e previsível- do défice.
No prelo está a alienação das últimas jóias da coroa, a Tap, as Águas de Portugal, o que sobra da REN e a RTP
A privatização da RTP, totalmente desnecessária e assente em justificações atabalhoadas e ainda algumas gritantes, desavergonhadas e graves inverdades,  alimenta interesses de uma minoria, clientela do poder e interessada em um público cada vez mais acéfalo. Mas isso não é conducente a uma melhor sociedade, antes pelo contrário como se sabe por isso não interessa ao interesse geral, mas os nossos braços, as nossas bocas de revolta, onde estão? 
Teremos perdido a capacidade de exprimir a nossa indignação? É admissível que o Estado suje as mãos em negócios obscuros como os da venda do BPN, os quais envolvem corrupção, privilégio de  operadores em detrimento de outros e mais encargos para os contribuintes a somar aos milhares de milhões já devorados?
E a Tap? Ficará em mãos Espanholas? Brasileiras? Ou veremos as nossas cores, as cores do nosso país, substituidas pelas de um qualquer Emirato? E baseado em que ideias peregrinas de inspiração no mínimo ingénua permitem fazer crer aos Portugueses, de que uma vez entregue a qualquer operador estrangeiro, este continuará a observar os interesses nacionais?
E depois preguntamos; . se as centenas de empresas privatizadas ao longo destas décadas, não resolveram coisa alguma, muitas até pelo contrário foram protagonistas de verdadeiras desgraças, com o fecho dessas empresas após o seu esvaziamento por parte dos adquirentes, será legítimo pensar que estes poucos aneís possam ao ser desbaratados, produzir algum efeito positivo?
Mas se é licito apontar estes desmandos e procedimentos insensatos ao actual governo, será de esperar melhor nas suas alternativas? A democracia, repartida entre opções partidárias,  no quadro actual apresenta algum potencial regenarador? Aponta alguma inflexão ou mudança de rumo?
O esvaziamento do nosso interior, tem por parte de algum partido, uma ideia de fundo que faça parte da essência da sua programação? Ninguém foi capaz ainda de ver que as excelentes estradas para as grandes capitais, que justificam o encerramento de todo um conjunto de serviços locais, se tranformarão a prazo em estradas para parte alguma e que isso corresponde à perigosa e anti-económica implosão do país?
Há entre todos nós uma sensação amarga de podridão e de falta de alternativas; cada passo noutra direcção nos parece ser de destino igual ao ponto onde nos encontramos e isso é muito perigoso para a democracia, para os braços que e vez de dizer sim dizem chão.
Importa sim e urgentemente uma mudança radical no nosso sistema democrático. A ideia de capitalizar votos nulos, brancos e abstenções de forma a dar-lhes um significado político é interessante e remete para a mensagem expressa em " o Ensaio sobre a lucidez" de Saramago, mas o melhor de tudo, é realmente um movimento supra partidário como este se propõe ser. O grande desafio, é o de saber como granjear os apoios sem que os do (mau)costume se instalem, ou saber como tratar com o perigo dos cavalos de Tróia. Mas estes últimos só deverão aparecer na altura em que o movimento começar a incomodar o Centrão, obviamente muito diferente deste Movimento de Ideias do Centro.

Neste momento, em que toda a economia europeia está subjugada à pressão de milhares de "lobbies" incontornavelmente ligados ao clientelismo partidário  e que por essa via condicionam toda e qualquer iniciativa, que futuro e que mudança do futuro previsível poderá ser protoganizada por um movimento supra partidário?
São questões como estas entre outras que coloco e que me fazem equacionar sobre os dados fundamentais de uma mudança a qual por outro lado se encontra pressionada pela urgência dessa mesma mudança.  A sensação de que é preciso fazer algo urgentemente, não pode ser geradora de fracasso por via da falta de ponderação resultante de soluções criadas à pressa. Contudo, não se pode ficar eternamente esperando que as coisas mudem por elas próprias quando a dinâmica de mudança se encontra travada pelos grupos de interesses os quais, demonstradamente, não coincidem com os da maioria dos Portugueses. Urge que o movimento cresça, se fortifique e frutifique. Temos fome de mudança, e a fome extrema pode ser má conselheira. Entre a paz podre da resignação no pântano e a utopia voadora existe de pés no chão uma terceira via....