agosto 26, 2012

«Emigração outra vez, não» - Jaime Ramos

No fim do anterior regime o General António de Spínola escreveu o livro «Portugal e o Futuro». Nele escreveu: perante as dificuldades “o povo, realista, por vezes ingénuo, esse emigra”…
Três décadas depois, há políticos empenhados em reincidir, condenando um povo à emigração. Estimativas indicavam em 2006 que 90.000 portugueses estavam a emigrar anualmente devido à estagnação económica. Este número subiu em 2007 e 2008 para mais de cem mil por ano.
A manutenção da aposta em baixos salários fará crescer o número de portugueses que emigrarão para fugir às dificuldades. Um novo surto de emigração acelerará a redução da população, acentuando a desertificação do interior.
Precisamos de políticas que mantenham a população garantindo a sua renovação, ocupem adequadamente o território impedindo o despovoamento, e evitem que os portugueses se transformem em deserdados da sorte a quem pouco mais resta do que emigrar.
A dificuldade é conciliar estas prioridades com o crescente défice da balança externa e com o endividamento das famílias e das empresas. Para isso precisamos da Politica e de uma estratégia nacional de desenvolvimento da nossa economia, com aproveitamento de todas as nossas potencialidades.
A emigração é benéfica porque reduz o desemprego e os custos sociais associados e aumenta as remessas vindas do estrangeiro contribuindo para aumentar o nosso RNB (Rendimento Nacional Bruto) per capita e melhorar a nossa balança externa.
No primeiro trimestre de 2010 as remessas atingiram os 508,8 milhões de euros.
Entre 1998 e 2008 quase 700 mil portugueses tiveram de emigrar para procurar uma vida melhor no estrangeiro. Lá fora procuram emprego, melhores salários, realização profissional. De 1998 a 2002 o número de emigrantes esteve estabilizado em cerca de 40 mil por ano mas este número quase triplicou em 2007 e 2008. A maioria tem ido para a Europa mas em Angola já temos quase cem mil. Sem este êxodo o desemprego já ultrapassaria os 15%.
Nestes números incluem-se pessoas altamente classificadas como Ronaldo, Mourinho e vários professores universitários… Em 2000, Portugal era o segundo país a exportar trabalhadores licenciados na OCDE. Há uma fuga de cérebros, devido à exportação de jovens com ensino superior, facto que não é necessariamente negativo, embora não seja o ideal.
O ideal seria garantir em Portugal oportunidades para todos, pleno emprego e capacidade para atrair imigrantes de todos os continentes, de preferência com boa formação técnica.
No exterior, estes licenciados aumentam a rede de portugueses bem colocados, facilitando contactos e negócios, melhoram a imagem do emigrante tradicional, e são importadores de sabedoria para Portugal. Regressam mais experientes e sabedores, idealmente com capacidade empreendedora.
A emigração é, em termos de economia nacional, um erro. Se temos capacidade de trabalho devemos rentabilizá-lo, fazê-lo produzir, aumentar a nossa riqueza e o nosso PIB. Os países ricos não exportam mão-de-obra, vendem produtos com valor acrescentado, com bom valor comercial, e importam trabalhadores. A emigração empobrece a médio prazo o país de origem, embora possa no imediato melhorar a contabilidade e as contas com o exterior. A nossa emigração contribui para enriquecer o país de destino como se comprova com o Canadá, EUA, a longínqua Austrália e alguns vizinhos europeus.

Jaime Ramos
Autor do livro «Não basta mudar as moscas»

10 comentários:

  1. Quando um dirigente político convida as pessoas a sair do país que administra, está a passar a si mesmo um atestado de incompetência. Diz, que as pessoas estão a mais para a sua capacidade de gerir, que não tem solução para elas.
    Alias, por extensão, podemos concluir que não tam solução para coisa alguma diferente daquilo a que temos assistido: a uns, dá-lhes o bolo e o pote de mel, aos restantes nem migalhas nem ao menos um lamber de dedos diante da visão da etiqueta, põe-os simplesmente na rua. Não há país para eles, e esses "eles" somos cada vez mais "nós".

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    1. E sabes o pior? Acho que isto ainda não bateu no fundo.

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  2. E temos que fazer como os Judeus, (que depois copiaram o modelo e o aplicaram aos palestinianos) e deixar-nos levar assim, sem um balido de carneiro, para os campos de concentração?
    Quercezer.... Levar nos cornos sem ao menos dar umas marradas?

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    1. Isto soa a déjà cornu...

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    2. com? ou sem raspar de patas no chão?

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    3. Como lhe chamava o meu Pai, com "sopa de corno".

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    4. E dentro das sopas dos ditos há as variedades "manso" e "bravo" ;)

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    5. Tal como entre outras espécies, o coelho, que pode ser bravo, manso, ou ainda pateta.

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    6. e ainda a variedade transgénica que é o patetaco, misto entre pateta e velhaco.

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