dezembro 23, 2012

Em defesa do Dépardieu

Hoje tem sido notícia em todos os telejornais a decisão do actor francês Gérard Dépardieu: uma vez possuindo rendimentos pertencentes à categoria que François Hollande anunciou passar a ser taxada em 75%, Dépardieu decidiu mudar-se para a Bélgica (à semelhança do que fez o Pingo Doce, por cá). E, depois de criticado pelo Presidente, que lhe chamou "pouco patriota", entre outras coisas simpáticas, acabou por ir mais longe e renunciar ao passaporte francês, dando início ao processo de pedido de cidadania belga.
Agora aqui d'el rei que o Dépardieu devia era ficar no seu país natal e contribuir "como os outros" para a sua recuperação económica.

Como os outros??? Seriously?
Então o homem não roubou nada a ninguém, fez fortuna (que nunca escondeu) à custa de uma profissão que está aberta a todos (ou seja, só não faz a mesma fortuna, com os mesmos meios, quem não quer ou não tem capacidade - e quanto a isso temos pena) e agora querem taxá-lo em 3/4 dos seus rendimentos só porque mentes armadas em igualitárias crêem que o senhor ganha demais? Quantos cidadãos pagarão 75% do que recebem como salário ou outros dividendos? E que raio vem a ser isso de ganhar demais, se se ganha aquilo que é acordado entre quem ganha e quem paga? Não devíamos estar todos preocupados com quem ganha de menos, mas é...?
Esta porcaria desta mentalidade populista que não percebe que a proporcionalidade é linda (sejam aplicados x% a todos os contribuintes e quem ganha menos pagará sempre uma quantia muito inferior, porque proporcional, a quem ganha mais) e que ganhar dinheiro não é criminoso vai acabar por pôr a mexer não só o talento mas também o dinheiro.
Palermas.

23 comentários:

  1. Os Franciús não brincam. Ainda lhe cortam a cabeça. «Liberté, Égalité, Fraternité... et surtout pas de Liberté Individuelle»

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  2. Talvez ele tenha ganho dinheir a mais, ou seja, o que lhe sobra
    é o que falta ao outros.
    Dinheiro que foi em grande parte dado de boa vontade na maré alta da economia, por esses outros, a maioria a quem o Estado representa.
    Não vamos dissertar sobre o mérito ou o seu contrário, mas quando se taxa desta forma os rendimentos está-se mesmo a rapar os fundos do tacho dos que não pertencem ao centralão tachista, que esses, de uma ou outra forma, tem meios de aliviar os seus tachos das taxas que impõem aos outros.

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  3. Ganhado (e não "ganho"?) dinheiro a mais? A sério que é isso que estás a dizer, Charlie? O que o Dépardieu ganhou é o que falta a quem tem fome? Pensa lá melhor sobre isso que isso é discurso-cassete e já há muitos anos que me dei para ese peditório. O Dépardieu é actor de cinema e os seus dividendos não são alterados com a crise. Essa conversa sempre igual, seja lá qual for o post e o assunto sobre que versa começa a levar-me à conclusão que, diga eu o que disser, a resposta será sempre a mesma. Se calhar valia a pena pensar-se um nadinha mais fundo. Digo eu, que nunca gostei de discursos encomendados.

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    1. Eu não disse? Vou arranjar-vos um ringue de lama...

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    2. Venham os lamas, os iaques e os camelos, então.
      Disse, (eu), apenas um talvez, ele tivesse ganho dinheiro a mais, pois tanto se pode usar o participo como a expressão composta alternativa; ter ganhado ou ter ganho, são ambas equivalentes.)
      Quanto ao resto... o que nós ganhamos na vida através do nosso trabalho é nosso e mais nada. O meu comentário foi, se leres bem,um toque de ironia.
      Quem impõe taxas deste nível está a dizer que o taxado tem receitas absurdamente elevadas e por isso´, vá de taxar.
      É óbvio que a sabedoria milenar colocou a fasquia saudável ao processo de contribuição colectiva no 10%, a Bíblica dízima.
      Pagamos hoje muito acima disso, o que transporta a economia para um patamar onde os agentes, todos eles, são obrigados a trabalhar no campo do intangível, da projecção de cenários futuros, de receitas que hão de receber. Grande parte das crises financeiras actuais assentam precisamente sobre o desmoronar dos castelos de cartas construidos com títulos virtuais.
      A realidade no terreno não segue quase nunca as expectativas projectadas nos " bons negócios" das bolsas e quando caiem, cai tudo e cai tudo na real.
      O pior é que os grandes beneficiários dos sistemas não se conformam com as perdas e de uma ou de outra forma acabam por repercutir as suas perdas nos sistemas. Os Estados acabam por ser reféns disto tudo em vez de ser o seu elemento regulador.
      Assim, e sem força para se impor, pois quem deve teme, impõem aos cidadãos toda a sorte de sacrifícios mesmo que estes levem, como se está a ver, toda a economia num processo de arrastamento onde tudo vai de pior em pior.
      O esbulho fiscal, 75% é um esbulho, é de facto inadmissivel. Se ele os ganhou legitimamente, são dele, e deve pagar as taxas razoaveis como toda a gente. Se não são legitimos, então que se lhe levante um processo crime, e mais nada.
      Enquanto isso acontece, não sabemos o que está a acontecer aos milhares de responsáveis pela crise mundial, nos EÛA prendeu-se um entre milhares, serve de exemplo mas não resolve a crise, tal como por cá, os divendos criminosos do BPN estão algures por aí, e os seus prejuizos aqui, no bolso de cada um de nós.
      Depois e finalmente, a minha matriz de pensamento e formação política é esta que tu lês aqui, nos textos e nos comentário e quem não gosta, digo como tu dizes: paciência.

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    3. Charlie, tu estás a esquecer-te... dO saco?!

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    4. Caríssimo Charlie: ter ganho e ter ganhado não dão expressões equivalentes porque quem determina o certo e o errado, em termos linguisticos, ainda não é o apetite de cada um. Neste caso, é o auxiliar ter que indica a utilização do particípio passado regular.
      Quanto ao resto, fica lá com a tua matriz, eu sou daquelas que acha que coerência não equivale a discos riscados, e muito menos a doses injectáveis de paciência. Gosto de impaciência e dos outros não exijo concordância e muito menos de (brrr...) paciência.

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  4. Perdoem-se-me as correcções e adendas do meu inteligente telefone (como o "de" da ultima frase).

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  5. Para que conste e é a erudição dos especialistas que diz isto, não eu que não sou ninguém. As duas expressões são- no que toca ao particular do verbo "ganhar" - equivalentes.
    Quanto ao resto dos argumentos, nada a opôr, nem tenho nada que opor coisa alguma.
    No que toca a discos riscados, embora os materiais tenham apenas a agulha como elemento comum, temos aí muito pano para mangas.
    Regressando então ao que interessa, pode usar-se em alguns verbos os dois participos, regular e irregular como é o caso do verbo ganhar.

    Há bastantes verbos com duas formas de particípio, uma regular, ganhado, outra irregular, ganho. Aqui vão alguns desses verbos:


    cobrir – cobrido, coberto


    eleger – elegido, eleito


    encarregar – encarregado, encarregue


    gastar – gastado, gasto


    libertar – libertado, liberto


    prender – prendido, preso

    A regra do emprego duma ou doutra forma é a seguinte: emprega-se a forma regular com os verbos auxiliares ter e haver; e a forma irregular, com os verbos auxiliares ser e estar. Exs.:

    Aquele polícia tem prendido muita gente.

    O João e o Brito estão/foram presos.

    É, portanto, correcto empregar-se a forma ganhado com os verbos ter e haver. Ex.:

    O João tem ganhado muito dinheiro.

    Há verbos, porém, dos quais tanto podemos empregar com os verbos ter e haver a forma regular como a forma irregular. Um deles é o verbo ganhar:

    O João tem ganhado/ganho muito dinheiro.


    in: "http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=2338"

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    1. Se te dedicaste à busca da fundamentação da tua tese, terás certamente encontrado contra-argumentação, também pelos especialistas que dizes eruditos e que não passam de comuns mortais. Consenso, meu caro, nem na matemática... Ora espreita aqui, por exemplo, só para utilizar a mesma fonte: http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=23679

      Havendo duas teorias, escolhi (porque de uma escolha se trata) a que me parece mais lógica, na medida em que também há quem diga que os tais especialistas acabam por acatar o modo como o (mau) uso da língua evolui. Assim, escolho a que não abre excepções, porque a excepção pura e simplesmente não faz sentido. Tu terás escolhido a excepção pelos teus motivos, que não discuto.

      E que isto seja uma parábola para tudo: a tríade tese, antítese e (por que não?) síntese, já dizia o bom do Hegel (por quem nem sequer morro de amores), ainda são o que de mais sensato existe. Digo eu, claro, que apesar de não me julgar ninguém, sou só mais uma, entre muitas outras, cabeças que pensam e com quem se concorda, discorda ou nem por isso.

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    2. Eu hoje tive um belo de um jantar de arroz de salpicão regado a rosé do Douro de 13,5º em casa do Antonino. Ele, como sabem, é professor de Português na Universidade de Coimbra e está agora a fazer o doutoramento. A tese dele vai versar sobre as diferentes utilizações da conjunção (coordenativa adversativa) "mas".
      E posso-vos dizer que o que está aqui
      http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=30677
      é um grãozinho de areia, mesmo tendo em conta só os pedacinhos que o Antonino me deu de exemplo. Aquilo, Ana e Charlie, é mais que Português... é Filosofia. Dá luta em argumentação.

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    3. Ora... Porque dão raras as coisas na vida dar que podemos dizer "são assim e não há mais conversa". Mesmo o 2+2=4 tem discussão, para quem se mover no universo quântico...

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    4. Quanto à filosofia, um doutorado não é um PhD, ou seja, um philosophy doctor...? A língua inglesa di-lo lindamente! Ela está em todo o lado, desde que nos atrevamos. :)))

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    5. Ai é?! Ph não é de... "phoder"?!
      Já não quero!

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  6. :)))) lamento ter sido eu a portadora de más notícias...

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  7. As línguas vão assim evoluindo, dizem uns, abastardando-se, dizem outros.
    No que toca à Portuguesa, basta em excepções, tem sido ela percutida por toda a sorte de influências provindas de todo o lado mormente do outro lado do mar.
    O uso dos participos regulares e irregulares e a confusão popular entre eles em que se usam de forma indistinta quer se conjuguem com os verbos ter ou haver, estar ou ser é particularmente utilizada e aceite em muitos manuais.
    A regra é assim atropelada em nome do uso generalizado da asneira, dizemos.
    Assim, os participos correctamente conjugados são por exemplo:
    tinha ou havia aceitado, e foi ou está aceite.
    tinha ou havia anexado, e foi ou está anexo.
    tinha ou havia matado, e está ou foi morto.
    tinha ou havia pagado, e esta ou foi pago.
    tinha ou havia matado, e está ou foi morto.
    tinha ou havia imprimido, está ou foi impresso, etc

    Mas, estas regras não são utilizadas em todos os verbos.
    não se utiliza a forma regular do verbo abrir embora exista "abrido" só se utiliza " aberto".
    Também os verbos "agradecer", "atender", "corrigir", "confundir" apenas se conjugam com os verbos "ter" e "haver". No verbo "tingir", que tem as duas formas de participo, " tingido" e "tinto" apenas se utiliza "tingido" sendo a segunda forma apenas utilizada como adjectivo.
    Como é que a língua evoluiu no passado de forma a aceitar como cultas e correctas as formas de conjugação às quais chamamos irregulares?
    Certamente que no passado se utilizaram outras formas de conjugação, depois caídas em desuso, se tornaram obsoletas e deixaram de fazer regra.
    Esta pequena guerrinha em que se discute a incorrecção no participo de um verbo
    assume entretanto os contornos do alecrim e da manjerona se o commpararmos com o chorrilho de disparates que se ouve e lê nos rádios tv's e jornais.
    Desde o intragável " sekestro" em vez de seqüestro, "comprimentos" em vez de "cumprimentos", "menistros" em vez de "ministros", " ca mãe" em vez de "com a mãe". Também a asneira entre as proposições "em " e "a" é transversal a toda a sociedade onde se utiliza de forma erradíssima a expressão " bater ao irmão, ou à mãe ou ao inimigo etc" em vez de dizer, " bater na mãe, no inimigo, no irmão...". A confusão inadmissivel e grave de usar indististamente expressões nada equivalentes: não é o mesmo bater à porta ou bater em alguém em em algo.
    Recentemente, uma publicação audiofónica institucional a propósito da violência doméstica referia abundantemente o disparate a esse propósito, confundindo o acto de" bater em" com o de "bater à". Tinha o condão, a par da mensagem importante sem dúvida, de acabar por se redimir no fim, com a frase " dê um murro na mesa". Estava mesmo à espera que a voz de cama, bem colocada e formal dissesse "dê um murro à mesa", para que se ficasse à espera que ele dissesse em quê ou quem o daria.
    Perante esta enorme quantidade de atentados dos quais apenas citei uma pequena amostra e de que sabemos todos o mal que fazem ao bem falar da língua, o caso de ter ganhado ou ganho é ainda um mal menor, mas, mesmo assim um mal, pese embora ele existir já como norma em muitos manuais. Entre as consultas que fiz encontrei até um manual quem nem observada a forma "ganhado" apenas utilizava "ganho". De bradar aos céus. O idioma é uma coisa séria que tem de ser levado a sério. Eu pelo menos, nascido noutro continte, de outras falas e usos, tenho tentado leva-lo assim desse modo e confrange-me verificar serem os lusos os maiores depredadores da sua própria língua. Kslhá-de faser...

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    1. Charlie, não ia responder-te porque acho que estaríamos a afastar-nos da questão que aqui nos trouxe, mas não pude deixar de reparar numa "correcção" que fazes que, na verdade, não estará correcta: escreve-se "ministros", mas lê-se "menistros", sim (já ganhei uma aposta à pala desta, só porque chamo "Felipe" aos Filipes desta vida e cá no Norte a malta não gosta). Deixo-te com os especialistas:
      http://www.ciberduvidas.com/idioma.php?rid=2085

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    2. Gostei muito de ler o link que recomendaste - até porque sou um estudioso da obra de Leite de Vasconcelos-, e é mais um argumento contra este acordo ortogŕafico que segue de cauda a abanar as modas e manias nas pronúncias supostamente chiques e transitoriamente na moda, e de moda em moda, até que nova moda venha.
      Há algum tempo a esta parte, e decorrente de um estudo, visitei uns cemitérios onde as pedras perpetuam as memórias, não só dos entes, mas de toda uma sociedade. De facto é menistro que li num mausoleu, se por mania se começou a dizer ministro e a ortografia foi atrás, está tudo dito.
      Aqui o teu Cascão só pede é tréguas na sova de coelhinho, ouviste Mónica?
      Quanto ao resto, tu ganhaste mas eu também, porque fiquei mais sabedor. ;)

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  8. Ganhámos todos, como acontece com as boas discussões.
    (Já arrumei O Saco, pronto) :)))

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