maio 28, 2013

um submarino p´ra ti...♫

Portas está a ser ̶c̶̶h̶̶a̶̶n̶̶t̶̶a̶̶g̶̶e̶̶a̶̶d̶̶o̶ torturado por causa dos submarinos... 
mas também acredito que está a gostar
Raim on Facebook

maio 27, 2013

Ricardo Araújo Pereira critica Martim: "É uma espécie de Cinderela do empreendedorismo" e o Jorge Castro comenta

Exercitemos o contraditório:

Ricardo Araújo Pereira aproveitou a presença no programa Governo Sombra (TSF) para falar de Martim Neves, o miúdo de 16 anos, que ficou conhecido por intervir no Prós e Contras da RTP e rebater todas as ideias da investigadora Raquel Varela relativamente a salários baixos. [via Dinheiro Vivo]



E o Jorge Castro opina:
"Que a senhora doutora foi burra, não tenho dúvidas nenhumas. Burra, preconceituosa e - o pior de tudo - anti-pedagógica.
Agora, desculpar-me-eis, caros amigos, como eu desculpo ao moço, atendendo à idade, mas, para além da agilidade da resposta a argumento tão estúpido, não posso subscrever a tese de que vale mais um salário mínimo do que salário nenhum.
O que valeria mais seria dar cabal cumprimento àquilo que toda a legislação do país consubstancia - nomeadamente com a extinção dos «falsos recibos verdes», esse cancro social com que vamos contemporizando e que hipoteca o futuro deste nosso país...
Temos tendência a dar de barato que um estado de direito é... isso mesmo. Um estado onde as leis são para cumprir por todos e não apenas aquelas que dão jeito e àqueles a quem dá jeito.
É a lógica do «vale mais um salário mínimo do que salário nenhum», sem inspecções oficiais que regulem actividades - como cumpriria ao estado - que levam a que os nossos filhos sejam pornograficamente explorados por tudo quanto é chico-esperto, de maior ou menor peso, seja um Belmiro chuleco, seja um merceeiro de esquina. Seja, aliás, o próprio estado, como as «grandes» empresas deste país.
Não. O nosso trabalho não pode ser vendido arbitrariamente, ao desbarato e sem preço tabelado. Isso, meus amigos, sempre se chamou uma coisa só: escravatura. E creio que ela terá sido abolida - lá está: na lei - vai para uma mão-cheia de anos.
Ao moço faltar-lhe-á crescer, para além do seu indiscutível mérito empreendedor. Ah, e outra coisa, depois preencher a sua primeira declaração de IRS, à séria, e efectuar os descontos para o IVA, gostaria de ouvir, de novo, a sua opinião. Claro, se entretanto não tiver já emigrado, levando a sua capacidade de iniciativa com ele para novas paranças. :-(»
Gostaria de clarificar uma coisa: neste meu comentário não existe qualquer crítica ao moço, da minha parte. Ele faz o que muitos de nós tentam: safa-se e tenta sobreviver.
O que é lamentável é que todos nós, cidadãos adultos e supostamente produtivos, tenhamos permitido que os nossos «governantes» façam gato-sapato das nossas vidas, das nossas esperanças, das nossas ambições, dos nossos anseios e nos tenham a todos bem agarrados por uma espiral de taxas, impostos e desregulamentações de tudo, que nos mantêm reféns de nós mesmos. E, ainda para mais, com medo de tudo e de mais alguma coisa.
O que o moço nos diz, convictamente, é afinal o que todos sabíamos e sempre soubemos. O nosso grande problema é que a nossa experiência de vida mostra que isso não é exequível neste Portugal em que nos tornamos, o tal da bandeira às avessas.
Mas vêem, camaradas e amigos, como até o Ricardo Araújo Pereira - que se aproxima perigosamente da minha tese, aliás, pelo que com o que ele diz me identifico - omite ou se esquece da questão tributária.
É que o grande problema do tal «empreendedorismo», em Portugal, e logo depois da burocracia, cujas demoras levam a que algumas empresas vão à falência antes mesmo de abrir portas, é a questão tributária.
Ou seja, depois de pagar as T-shirts, a restante matéria prima, os equipamentos necessários para a impressão e as despesas de envio; depois, ainda, de tirar o necessário para o seu sustento diário e o que mais for imperativo (seguros, etc.) o jovem Martim tem, ainda o IVA e o IRS. Terá, porventura o IMI ou a renda de casa quando não forem os pais a sustentá-lo. Vai ter a electricidade e a água e o gás; a gasolina ou o gasóleo e as taxas que sobre eles incidem. E as portagens, o contrato com a MEO ou qualquer outra.
E quando chegar ao fim de tudo, talvez apure - como tantas vezes está a acontecer - que o custo final da T-shirt transformou-a num produto tão caro que poucos ou nenhuns lhe chegam. Ou, se as coisas correrem de outro modo, que na loja do chinês mais próximo se vende uma coisa idêntica por um terço do preço.
E aí terá poucos caminhos pela frente: o suicídio é um, que creio não ser o ideal. A emigração é outro, e até tem apoio governamental. A teimosia idealista um terceiro, onde engrossará as hostes dos indignados, dos precários ou outro grupo qualquer de des(en)graçados e desenganados.
Ah, claro, há outra possibilidade: ter uns pais politicamente bem colocados e, aí, a estrada da vida pode ser um paraíso e, muito provavelmente, aos 25 anos já foi administrador de dez empresas públicas e de mais cinco privadas (que vai dar ao mesmo).
E isto não tem nada a ver com o Marxismo (... ou tem tudo). É, apenas o senso comum e a tal experiência da vida.
Daí que eu vá conhecendo tantos pais que, em desnorte e desespero, obriguem os filhos de tenra idade a irem aprender futebol e as filhas a treinarem em alguma passarela da moda, para se alcandorarem a um putativo futuro de sucesso. O que, se virmos bem, será uma outra espécie de suicídio: o do bom senso."

maio 23, 2013

A atrapalhação de quem não consegue esconder a agenda

SIC Notícias - Negócios da Semana - Dívida de Portugal em mercado primário - 2013-MAI-01

José Gomes Ferreira entrevistou João de Almada Moreira Rato, presidente do IGCP.
A IGCP (Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública - IGCP, E.P.E.) é a entidade pública a quem compete, nos termos da lei, assegurar o financiamento e efectuar a gestão da dívida pública directa do Estado Português.
As expressões e a atrapalhação do senhor seriam cómicas, se não fossem trágicas.



Para melhor enquadramento, deixo-vos a síntese do currículo do actual presidente da IGCP, que aparece aqui:
Ano de nascimento — 1971.
Formação académica:
- Licenciatura em Economia na Universidade Nova de Lisboa
- Doutoramento em Economia com especialização em Finanças pela University of Chicago
Funções anteriores:
- Director Executivo da Morgan Stanley (Em 2009, o Morgan Stanley fez uma joint-venture com o Citigroup, formando o Morgan Stanley Smith Barney, o maior banco de investimentos do mundo)
- CEO, sócio gerente da Nau Capital LLP (pelo que li aqui, é um "hedge fund que tinha como objectivo chegar aos 500 milhões de euros em dois anos; a aventura terminou quatro anos depois, com a venda da totalidade do fundo ao Eurofin Capital")
- Director Executivo da Lehman Brothers (lembram-se do banco norte-americano que faliu em 2008 por causa da «crise do subprime»? Era este!)

maio 21, 2013

Um rapaz de 16 anos que dá uma lição a muitos empresários

Da página Cenas Maradas:
"No programa Prós e Contras de ontem, 20 de maio, estavam a entrevistar Martim Neves, um jovem empreendedor de apenas 16 anos que tem um pequeno negócio que está a fazer sucesso uma marca de roupa chamada «Over it».
A meio da conversa, é interrompido por Raquel Varela, investigadora do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, questionando-o despropositadamente sobre a origem das suas roupas e o salário pago a quem as faz.
Martim Neves apesar dos seus 16 anos, esteve à altura e soube responder de forma educada a alguém que aparentemente, o queria deitar abaixo!"

maio 20, 2013

Mourinho...

e o que ficou por dizer ao Cavaco...
Raim on Facebook

A posta que pró ano é que é


Ser adepto deste ou daquele clube é resultado de tantos factores aleatórios e acontece em tão tenra idade que raramente nos lembramos do momento, do tempo e das circunstâncias, em que decidimos abraçar para a vida um emblema e uma cor.
Não nascemos adeptos, mesmo quando nos inscrevem como sócios ainda antes de nos imporem outra canga que é a do baptismo. Fazem-nos adeptos ou apenas embicamos para este ou aquele amor à camisolaporque sim.

Podemos questionar ou mesmo alterar a nossa opção partidária, a nossa relação amorosa e repensar inúmeras escolhas de caminhos ao longo da vida. Porém, o clube que é o nosso agarra-se à pessoa como uma cor de olhos ou um sinal de nascença.
Perca ou ganhe, é o nosso clube. Por ele gritamos, por ele choramos, por ele torcemos uma vida inteira. E a cada novo jogo, a cada nova época, a cada nova etapa, a esperança de vencer é renovada e não existe martírio suficiente para nos vergar nessa paixão.

É impossível de explicar este apego a uma colectividade de forma racional. É mesmo de um amor que se trata, braço dado com uma fé tão inquebrantável que mais facilmente a pessoa deixa de acreditar em Deus. Sobretudo quando este último nos prega partidas tão dolorosas como as duas seguidas que o meu Benfica sofreu.
Tivemos dois pássaros na mão e ambos os casos a ave, mesmo à beira de uma daqueles voos dignos de uma águia, morreu.
Dói imenso, por quão ridículo possa soar a quem passe ao lado destes fenómenos tão estranhos como a loucura da paixão por um clube e acima de tudo, numa hierarquia inquestionável, pela sua equipa de futebol. É coisa para fazer um homem chorar, de alegria como de tristeza, sem que alguém ouse questionar por isso a sua dureza e masculinidade como ainda acontece e muito quando essa manifestação surge associada a outro tipo de emoções.

Ser benfiquista, o meu drama pessoal, é coisa de uma intensidade quase insuportável de tão perturbadora do estado normal de consciência de uma pessoa. É toda uma montanha russa de emoções arrebatadoras, jornada após jornada, taça após taça, títulos conquistados e outros, sempre demasiados, a escaparem para um qualquer dos rivais do costume.

Ser benfiquista é uma pessoa deitar as mãos à cabeça mergulhada num desalento esmagador quando se enfrenta uma derrota.
Mas também é uma constante renovação desse amor que tanto nos trai, é um renascer das cinzas, permanente, depois de perdoados todos os desgostos, de ultrapassadas todas as arrelias. Cerramos os punhos numa gana danada de pró ano é que é e defendemos a nossa dama contra tudo e contra todos, sem ponderar sequer a hipótese de uma desistência por muitas que sejam as ocasiões em que saímos a perder.

Há casamentos que resistem com muito menos do que isto para dizer.

maio 19, 2013

Até quando vamos continuar comemorando?

Co'memorando da troika, quero eu dizer...

«A grande curva de Gauss» - João

"Esqueça o Euromilhões, porque é muito provável que não lhe tenha saído, e leia isto com os pés bem assentes na terra. Lembrar-se-á, certamente, de como em criança muita coisa lhe era permitida. Com umas educações mais permissivas que outras, é certo, os primeiros anos de vida são marcados por alguma liberdade. Não deixa de ser, à sua maneira, um paradoxo: dependemos dos pais, não podemos ir sozinhos para muito longe, não garantimos por nós mesmos os essenciais da vida, e nem sequer temos uma consciência plena de tudo quanto nos rodeia – das coisas visíveis e das dissimuladas -, e no entanto somos, provavelmente, o mais livres que alguma vez seremos. Na máxima extensão da nossa ignorância, o que nos pode fazer terrivelmente felizes, não nos afectamos pelo que não sabemos, e, mais ainda, se o dom da fala já nos assiste, podemos dizer praticamente tudo quanto quisermos porque não nos levam a sério e até acham graça ao petiz. Apenas não convém relatar tudo o que se vê em casa, os pais não gostam.
Essa liberdade vai diminuindo com o tempo, mas em adolescente ainda é possível dizer tudo quanto se quer. Ser-se-á interpretado como um rebelde, como apenas mais um na grande curva de Gauss, um tipo normal, portanto. Convenhamos: os adolescentes não se levam muito a sério, pois não? Olhamos para eles – qualquer que seja a distância que nos separa dessa fase – como uns palermas que ainda não sabem muito bem o que dizem e o que querem. Esse atestado automático de idiotice é precisamente aquilo que lhes permite dizer qualquer coisa sem especial prejuízo para as suas carreiras. As que eles ainda não têm.
No momento em que se avança para o final dos vintes e se navega bem dentro dos trintas (e isto durará por boa parte dos “entas”), com as tentativas de construção de carreira e solidez do Nome, a liberdade cai a pique. Possivelmente – assim se espera – estaremos já em condições de garantir alguma subsistência. Já não dependeremos dos pais como outrora, podemos ir para longe sozinhos e chegar a casa tarde ou quando calhar, mas a nossa liberdade estará no seu mais baixo nível. Por uma razão muito simples: as pessoas não gostam de gente sincera, directa, frontal. Se dizes o que pensas, lixas-te. Já não tens a tolerância da adolescência nem a condescendência que virá com a senilidade. Já não pensam que és um palerma de ideias vagas. Passaste a ser um concorrente, e a Terra é finita, e portanto há um conjunto também finito de oportunidades interessantes. As pessoas tornaram-se dissimuladas, deram o salto de adolescentes desbocados para adultos de sorriso made in china, e preferem que lhes mintam. Mentir garante sobrevivência. Ser frontal garante dificuldades. É isso – se nada mais houver – que determina a diminuição abrupta da tua liberdade, seres avaliado pela tua conveniência e sentido de oportunidade mais do que por aquilo que sentes e sabes fazer.
Só recuperarás a tua liberdade quando estiveres perto do fim da tua vida. Nessa altura, se os sapos não te tiverem morto ainda, concluirás que já não te podem afectar grandemente. Que o que tinhas a fazer, está feito. É então que te desbocas e tornas livre de novo. E podes dizer tudo o que quiseres, podes ser frontal e directo, sem medos, sem o sentido da conveniência ou da oportunidade. Acusar-te-ão de senilidade. Mas é muito provável que essas acusações venham dessa gente que não gosta daquilo que dizes e que tem medo da nudez da verdade. As coisas que se dizem entre o fim da adolescência e o princípio da putativa senilidade, são exercícios de risco calculado, e não deixa de ser bastante aborrecido pensar-se que pouco depois da reconquista da liberdade, venha a tumba."

João
Geografia das Curvas

maio 17, 2013

«Faz tempo que...» - por Fátima Marques

A Fátima e "o mê Zé Tó"
"Faz tempo que não pego no papel e na caneta e escrevo o que me vai na alma. Não porque a alma se tenha apagado ou deixado de sentir, não porque o exercício de pensar tenha diminuído no meu ser, mas porque a luta constante de um dia-a-dia sem tréguas não deixou espaço para a escrita.
Há muito que me afastei de tudo o que gostava de fazer, há muito que abandonei o perseguir de alguns sonhos e me rendi à condição de formiga de um formigueiro estranho onde nem sempre a organização me enquadra e agrada mas é aquela onde vivo e para a qual trabalho.
Carrego o peso dos que se levantam e deitam com a angústia da lágrima contida. A lágrima de uma dor de submissão imposta por razões de responsabilidade social mas principalmente por razões de responsabilidade familiar. Escolheram ser trabalhadores porque a única opção era ser trabalhadores mas à época havia a dignidade de uma profissão. Hoje existe a indignidade da escravidão!
Levanto-me e deito-me, todos os dias, com o mesmo cansaço do dia anterior e neste acumular de cansaços vou olhando na busca de pontos de esperança, como que buscando vitaminas que me dêem a coragem de avançar mais um dia. Busco-as na família, principalmente!
Mas as famílias estão cheias de gente como eu! Estão cheias de gente que se levanta e deita com o cansaço do dia anterior!
Nesta imensidão de cansaços vamos lutando dia-a-dia tentando ganhar forças para avançar.
Eu vou guardando cada carinho, cada abraço, no alforge da vida e cá vou, pronta para mais um dia, apagando as lágrimas com sorrisos de engano até ao dia em que consiga dar um grito de libertação!"
Fátima Marques
__________________________________
A Fátima é professora do ensino secundário e colega da minha Luísa, que também se levanta e deita com o cansaço do dia anterior. E, como sempre, revolta-me ver que os professores não podem ter vida para além do trabalho. O grito de libertação deveria ser de todos os professores. Mas estão a deixar-se cozinhar pelo desGoverno da «««Educação»»», como o sapo que começou deliciado a nadar num tacho de água que foi ficando morninha e a temperatura foi subindo, subindo...

maio 15, 2013

«respostas a perguntas inexistentes (252)» - bagaço amarelo

ser pragmátic@

Existe por aí uma mania qualquer de considerar que o pragmatismo é a melhor coisa do mundo. Ser pragmático é optar pela eficiência em detrimento da emoção e do intelectual. Enfim, abdicar de tudo para ser eficiente. Ainda hoje, em conversa com uma amiga que se orgulha de ser pragmática, percebi que ela abdica de grande parte do tempo que tem para estar com quem Ama, em nome das horas extras no emprego.
Trabalha mais, vive menos. Tem orgulho nisso.
O problema das pessoas pragmáticas costuma ser a morte. Não há nada mais pragmático do que a morte, já que no fim morremos todos. Quem abdica de alguma da sua vida antes da morte está a morrer antes do tempo. É isso que é ser pragmático e é isso que o mundo nos diz para sermos hoje em dia.
Eu orgulho-me de não ser pragmático. Costumo pôr a minha vida antes de qualquer outra coisa. Desculpem qualquer coisinha, mas nem a merda do produto interno bruto, nem a dívida externa portuguesa, nem as imposições da Troika me convencem a abdicar de mim mesmo. Opto pela vida. Quando me deixam, claro.
Sou pragmático o suficiente para perceber que o pragmatismo é uma merda. É a força de quem ainda não percebeu a lógica da existência, ou seja, do Amor.
Devia ser proibido ser pragmático. Por mim, a lei devia obrigar-nos a ser líricos, inúteis e crianças de vez em quando. Não é por nada de especial. Só para sermos felizes. Só para que a vida não passe por nós sem que passemos por ela.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

maio 14, 2013

maio 13, 2013

A posta que isto já lá não vai com falinhas mansas


No visível desespero dos próprios apoiantes dos partidos da coligação que nos governa, cada vez mais desarmados para acudirem em seu auxílio e com a perda de audiências da presença televisiva de Sócrates a privá-los do renascer das cinzas de um culpado mesmo a jeito para a argumentação fácil, percebe-se o quanto as sondagens até acabam por não reflectir na sua verdadeira dimensão o esboroar absoluto da base de legitimação do actual Executivo.

Sejamos claros: já nem a malta de Direita acredita nas hipóteses de sucesso deste grupo heterogéneo de pessoas a quem o poder foi confiado nas circunstâncias que se sabe e de entre a mesma falta de alternativas que nos aguarda em futuros plebiscitos.
Falha-lhes o talento para o jogo político, a credibilidade para a mobilização popular em torno das suas medidas bizarras e, em muitos casos, simplesmente cruéis, a consistência para consolidar uma imagem de força que colmate as várias debilidades da sua forma de controlar o poder e, acima de tudo (e nem quatro Poiares bem maduros conseguem apagar o rasto de imbecilidade deixado pelo inenarrável Relvas), falta-lhes a inteligência que nos poderia valer.

Depois de assente o pó da desilusão inicial, os portugueses agitaram-se e quase roçaram a revolta chegando a haver quem temesse uma nova Grécia nas nossas ruas. Claro que foi sol de pouca dura e depressa a população acabou enfraquecida pelo próprio efeito de uma governação desastrada e desastrosa que nos obriga a centrar atenções nas questões mais elementares da sobrevivência. Quase um milhão de desempregados mais outro milhão de reformados (com pensões sistematicamente alvejadas pelos snipers da rapina estatal) a sustentarem famílias inteiras deixam pouca margem de manobra para a contestação.
Agora, encravados entre um Governo muito incapaz e uma oposição pouco convincente, oscilamos no quotidiano entre o encolher de ombros resignado, a gestão in extremis de recursos financeiros depauperados e os fenómenos quase diários de estupefação perante as asneiras, as tiradas idiotas e as medidas controversas (ou mesmo inconstitucionais) de que a Comunicação Social e o seu batalhão de notáveis desertores analistas, maioritariamente da mesma área política da quadrilha liderada por Passos Coelho, nos dão conta.

O banana no topo do bolo é uma velha glória dos dias felizes do esbanjamento dos milhões que a Europa nos ofereceu como contrapartida para abdicarmos de boa parte do controlo económico sobre o país. O Presidente da República, esse colosso do anedotário político, deveria constituir a maior esperança para uma solução mas acaba por ser uma das faces mais evidentes do problema: a triste realidade de um poder meio senil que ameaça a Democracia, destruindo-a aos poucos neste caldo em lume brando, num banho-maria de impunidade despudorada, de desorientação mal disfarçada e de um esforço concertado de estupidificação das massas por todos os meios ao alcance da seita de chicos-espertos e de palermas instalados nos diversos poderes.

Entregues a uma corja de oportunistas e de mercenários, mergulhamos aos poucos nas trevas da lei da selva, do salve-se quem puder.
E ninguém faz a mínima ideia do quanto neste período negro Portugal já deitou a perder.

A ver se conseguimos todos perceber...

 Do Diário de Notícias, com amor, apontamento acabadinho de chegar por mão amiga e atenta...

A ver se consigo perceber: 

1. Maria Luís Albuquerque era directora financeira da REFER.

2. A REFER contratou swaps tóxicos enquanto Maria Luís Albuquerque era a sua directora financeira.

3. Maria Luís Albuquerque é nomeada secretária de Estado e tutela o IGCP.

4. O IGCP, sujeito às orientações de Maria Luís Albuquerque, define o que são swaps tóxicos.

5. O IGCP, tutelado por MLA, vem dizer que os swaps tóxicos contratados pela REFER enquanto ela era directora financeira não são, afinal, tóxicos — apenas exóticos.

6. A REFER fica com os prejuízos e Maria Luís Albuquerque continua a ser secretária de Estado de Vítor Gaspar (um ministro tóxico ou exótico?).  

Lex Drewinski (Polónia) - poster «Globalização» - 2011


maio 12, 2013

«Verdades para as nossas filhas»

A malta da FEUC enviou-me o artigo «Truths for Our Daughters» da Harvard Business Review.
Achei-o tão interessante que fiz a tradução (com os meus conhecimentos básicos de inglês mas conta também a boa vontade):


Como profissional sénior de serviços financeiros - uma indústria com relativamente poucas mulheres nos cargos executivos - Passei muito tempo a reflectir por que não há mais mulheres nos lugares de mais alto nível das empresas. Eu li estudos e ouvi teorias sobre as mulheres não funcionarem bem em rede; não terem o "dom da Visão"; comunicarem de forma muito passiva; não pedirem trabalhos de maior responsabilidade e  clientes de topo; e terem menos patrocinadores que estejam dispostos a utilizar o seu capital de influência para as apoiar no seu percurso, tal como fazem para os seus colegas do sexo masculino. Há montes de concordância e repetição ao falar sobre este assunto. É quando se fala de soluções que as coisas ficam mais silenciosas.
Como mãe que vê a sua filha de 18 anos, caloira da faculdade, perante as suas opções de trabalho de verão e de carreira futura, quero que ela tenha conhecimento de histórias de sucesso - e não o que falta às mulheres, o que não fizeram ou não podem fazer - porque eu sei que existem esses sucessos e precisamos de compartilhá-los mais. Se as mulheres jovens entrarem na força de trabalho, em todo o lado, não só com a mensagem de que "não se pode ter tudo" e inundadas com dados sobre a falta de mulheres no topo das hierarquias, mas antes munidas de todos os conselhos acumulados e a sabedoria das mulheres experientes que prosperaram e desfrutaram das suas carreiras, então elas - e as organizações que as acolhem - ficariam muito melhor servidas.
Estes são os conselhos que vou dar à minha filha - e a todas as mulheres jovens como ela que anseiam construir uma carreira - numa altura em que ela começa a tomar decisões sobre a sua vida. Estas são algumas verdades que eu sei agora, com mais de vinte anos da minha carreira, e que gostaria que alguém me tivesse dito antes. E, embora eu nem sempre siga estas orientações, a minha carreira tem sido melhor sucedida - e eu cheguei onde estou hoje - por causa delas. Talvez a minha filha as vá incorporar bem cedo e ficar à frente no jogo.

  • Sê confiante. Eu vi a forma como abordaste a cadeira de cálculo multivariável neste semestre com frieza e calma. Traz esse espírito contigo, para o teu trabalho (para que conste, eu não consigo pensar numa única coisa que tenha feito em toda a minha carreira que se aproxime da complexidade do cálculo multivariável).
  • Não precisas de "saber tudo" no primeiro dia. Tal como qualquer outra pessoa, incluindo aquele colega que transpira confiança do cubículo ao teu lado. Mesmo os gestores de topo fazem perguntas.
  • Sente-te confortável em estares desconfortável. Levei cerca de uma década, se não mais, até descobrir isso. É muito fácil conteres-te por assumires que há alguém por aí que é mais talentoso, mais experiente, mais habilidoso. Tu não vais crescer na tua carreira se não te aventurares para além do que já estás a fazer de forma confortável.
  • Tu não tens ideia de aonde a tua carreira te vai levar a longo prazo. Por isso pensa nisso em etapas mais curtas e mais fáceis de gerir. As oportunidades aparecerão. Sê destemida, aproveita-as e não te preocupes tanto com o que vem a seguir.
  • Fala duas vezes mais alto do que achas que é preciso. Eu bem que gostaria que alguém me tivesse dito isto antes da minha primeira apresentação numa sala de reuniões - quando alguém realmente me pediu para "falar mais alto".
  • Está preparada. Pratica. Conhece os números por dentro e por fora. Grandes decisões de negócio desenvolvem-se com o tempo mas, desde o primeiro dia, tu podes ter os dados - e isso é muito poderoso.
  • Encontra aquela pessoa que acredita em ti - e então ouve-a, mesmo que não gostes do que te possa dizer. Vais um dia relembrar-te e sentires-te grata contigo própria por tê-lo feito.
  • Desenha riscos na areia. Apreende aquilo em que absolutamente não vais poder desistir e cumpre-o. Ninguém vai agradecer por não teres uma vida fora do trabalho, sem tirares férias. As pessoas mais bem sucedidas que eu conheço conciliam as suas vidas e e o seu trabalho ao longo da semana. Isto permite-lhes ter, em simultâneo, longevidade da carreira e realização das suas vidas.
  • Vais frequentemente sentir como se não estivesses a usar 100% da tua capacidade,  seja em casa, no trabalho, com amigos ou com outros interesses externos. Eu sinto isso a todo o momento - e está tudo bem. Grandes empreendedores sempre se esforçam para fazer mais no trabalho, com a família e amigos, com os seus outros compromissos e interesses externos à organização.
  • Faz favores em cadeia e as coisas boas acontecem. Atende a chamada ou regista o pedido de reunião quando os teus amigos e colegas contactam para negócios ou conselhos de carreira  e põe-nos em contacto com quem os possam ajudar. Eles vão lembrar-se disso e é uma maneira fácil e genuína de expandires a tua rede.
  • Está pronta - para qualquer coisa.

Está na hora de mudar a narrativa das causas por que não há mais mulheres no topo. Podemos simplesmente forçar um "como fazer" e mudar as tendências de que todos nos apercebemos? Provavelmente não - porque não existe uma fórmula X de segredo para o sucesso. Cada um de nós traz um mix variado de talentos, ideias e experiências para a equação, bem como diferentes circunstâncias da vida. É por isso que temos de começar a compartilhar as nossas histórias de sucesso, em vez de nos concentrarmos em todas as razões pelas quais as mulheres desistem ou não vivem de acordo com o seu potencial no mercado de trabalho. Neste Dia das Mães, compartilha a tua história com alguém que precise de ouvir.

Joan Solotar
10 de Maio de 2013

Joan Solotar é gestora de topo, chefe de relações exteriores e do grupo de estratégia,  membro das Comissões Executiva e de Gestão do Grupo Blackstone, empresa de investimento privado mundial e de gestão de activos.

maio 11, 2013

A posta que podia ser


Podia ser um cavaleiro em armadura reluzente, cheio de heroísmo e a galope num unicórnio porque cavalo é coisa muito vista, a caminho do ponto de encontro com uma donzela em apuros e encurralada no torreão por um mau qualquer.
Podia ser um dragão, mas padece do mesmo problema do cavalo e o horror aos clichés acaba por prevalecer quando a imagem se desenha, ou se esboça (que dá um ar muito mais elaborado ao boneco) na mente equilibrada sobre uma pessoa sentada e a quem apeteceu escrever.

Pois podia, e até dava pano para mangas se a pessoa enfatizasse o profundo drama humano implícito na condição de refém da moça indefesa (seria uma história muito antiga, pois elas hoje em dia frequentam aulas de defesa pessoal) ou, em alternativa, focasse a câmara imaginária no duro de serviço, o guerreiro destemido com a sua enorme coisa na mão (a espada, naturalmente, ou outra arma daquelas a sério que obrigavam os lutadores a enfrentarem os oponentes olhos nos olhos) ou o mau com o aspecto necessariamente medonho para que o outro, o herói, pudesse brilhar ainda mais no mérito da sua jornada.
Contudo, séculos decorridos numa sucessão de histórias com enredos desta natureza esvaziam de sentido a abordagem medieval ao amor que enchia de coragem os peitos couraçados de jovens intrépidos a quem os tempos obrigavam a conquistar as suas eleitas à porrada porque as oportunidades escasseavam para lhes deitarem a mão.
Como as histórias de príncipes e de princesas que acabavam sistematicamente casados, felizes e cheios de infantezinhos, ou os contos de fadas que transformavam abóboras em coches e nunca se popularizaram em terras onde a fome não cessa de grassar, os relatos imaginados de jovens indómitos a galope enfiados em fatiotas de metal parecem apelos ao bocejo, sobretudo para quem os vê, a maioria dos de hoje, a empunharem o telemóvel para ligarem à polícia enquanto fogem a sete pés do sarilho em que a garina se meteu.
Podia, é verdade, adaptar os cenários da fantasia tradicionais a pessoas muito actuais e inventar um cavaleiro gay capaz ainda assim de desancar sem piedade o malvado que quisesse fazer mal a uma amiga ou a uma irmã, ou caracterizá-lo como um cobardolas sem carácter a quem o mau da fita fizesse a folha e no epílogo teríamos apenas uma queca bem dada à donzela e depois até amanhã se Deus quiser, no fundo o mau até era bom e ela nem por isso curtia por aí além o bardamerdas forte na pala mas fraco na pila que lhe saíra na rifa num mero cruzamento de caminhos que, de resto, nem sempre favorece a personagem a brincar ou a sério e depois ela até tinha uma carreira fixe e divertia-se bué e filhos não estavam a dar.

Podia ser isso, agora e aqui. Mas a liberdade criativa, chamemos-lhe isso para embelezarmos o gesto, é uma maluca e nunca se sabe para o que lhe dá quando dá de trombas com um espaço em branco para preencher, pode apenas embicar para um pacato mas inócuo e inconsequente e quiçá disparatado tu cá tu lá com quem calhou ter o azar de aterrar aqui que, como bem sabem os passageiros frequentes, é terra de ninguém em matéria de linha editorial (oh yeah) e onde literalmente tudo pode acontecer.

E afinal uma posta sem mortos nem feridos nem desempregados nem reformados com pensões de miséria, nos dias que correm, acaba por ser sempre uma história com um final feliz.

maio 09, 2013

uma curiosidade

Esta semana os deputados europeus da esquerda manifestaram-se contra a troika. A revolta contra a austeridade já chegou ao Parlamento Europeu. Esta foto está a correr a Europa toda, mas alguém a viu na imprensa portuguesa?


Distracção? Falta de relevância política? Censura? Estupidez?...

maio 08, 2013

de interesse público!
- venha de lá quem desminta...

O assunto desta denúncia é aquilo a que os defensores do actual sistema (de ladroagem, claro) chamam "o mercado a funcionar".

Acontece que, pelo menos neste país, não há concorrência e não há quem defenda o cidadão.

Para além do que aqui diz este BOM CIDADÃO (não é português, claro está), é fácil verificar que em Portugal alguns produtos têm o mesmo preço, até ao cêntimo, em várias cadeias de supermercados. Como neste país não há cartelização de nada, só pode ser milagre...

Aconselha-se vivamente a leitura das cartas remetidas ao jornalista José Gomes Ferreira e à DECO, a propósito deste mesmo assunto:
- Exposição dirigida à DECO:

GEORGES STEYT
Quinta do Outeiro – Rua José Baptista Canha, 7 – 2565-116 Carmões
Tel.: 261 743 34 - georgessteyt@yahoo.fr

Carmões, 8 de Abril de 2013
DECO - Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor
R. de Artilharia Um, n.º 79, 4.º
1269-160 Lisboa

Exmas./os Senhoras/es,

Queiram encontrar em anexo um quadro comparativo de preços demonstrativo da política discriminatória de preços praticada pela LIDL em relação a Portugal, implicando a constatação de o nível de preços ao consumidor em Portugal se situar num patamar escandalosamente elevado.

Os portugueses não têm apenas os salários mais baixos e dos impostos mais elevados da UE, mas ainda, as práticas da Grande Distribuição obriga-os a pagar as suas compras a preços totalmente abusivos.

Não compreendo como é que uma organização como a vossa, em princípio existente para a defesa dos consumidores, permanece silenciosa sobre um tema tão crucial. Em Agosto de 2009, enderecei a V.Exas. uma correspondência similar (vide cópia anexa), sugerindo uma comparação sistemática entre os preços praticados pelas cadeias europeias (Auchan, Intermarché, Lidl, Aldi ...) nos seus países de origem e em Portugal.

Tanto quanto é do meu conhecimento, tal comparação nunca foi por vós feita. Ora, certamente que se trataria dum modo bem simples de exercer pressão sobre o cartel dadistribuição que se permite este tipo de abusos.

Se a Lidl se dá ao luxo de abusar de forma tão descarada do consumidor português, fá-lo muito simplesmente porque o ambiente (não)concorrencial lho permite. Neste contexto, será interessante fazer notar que, de forma quase sistemática, o abuso de margens praticado pela Lidl, em relação aos preços na Bélgica, se repete ao cêntimo na Aldi, o que deixa claramente entender existir aqui um acordo de preços.

Tendo em conta o facto de os preços praticados na Bélgica e noutros países do Norte pela Lidl (e Aldi) incluirem já uma margem que torna as suas operações perfeitamente rentáveis, somos levados a constatar que estas empresas se regalam em Portugal com uma margem SUPLEMENTAR perfeitamente exorbitante, acima dos 50%. Ora, os custos variáveis da distribuição são constituídos essencialmente pela mão de obra e pelos custos imobiliários, dois tipos de despesa claramente menos onerosos em Portugal. Este tipo de prática abusiva encontra a sua única explicação no poder dos interesses monopolistas instalados. A Lidl não é o único réu, o que está em causa é o conjunto da distribuição.

Se, a nível da Comunicação Social, a DECO, que se presume ter por vocação tal tarefa, não denunciar um tal escândalo, quem o fará?

Dedica a vossa Associação largo tempo a comparar as diferenças de preço, por vezes pouco significativas, entre as cadeias de distribuição em Portugal, perdendo de vista que é a totalidade da distribuição que é abusivamente cara. Deveriam atacar o problema a fundo denunciando este escândalo. Para tal, bastaria que procedessem às comparações por mim sugeridas.

Esperando a melhor atenção de V.Exas. para o exposto, subscrevo-me com os melhores cumprimentos,

Georges Steyt

Anexos:
Quadro comparativo preços Lidl Bélgica / Portugal
Cópia da minha carta à DECO de ...


- Exposição a José Gomes Frerreira:

GEORGES STEYT


Quinta do Outeiro – Rua José Baptista Canha, 7 – 2565-116 Carmões
Tel.: 261 743 34 - georgessteyt@yahoo.fr

Carmões, 8 de Abril de 2013
Exmo. Senhor Dr. José Gomes Ferreira
a/c SIC NOTÍCIAS
LISBOA

Exmo. Senhor,

Admiro a forma como V.Exa. não cessa de denunciar os efeitos perniciosos da prevalência da corrupção, em Portugal. Não o faz de forma fanática, mas sim, persistente, e baseando-se em factos. Daí lhe advém a força de saber convencer.

Gostaria de acrescentar um pequeno mosaico à sua argumentação, e como tal, permito-me enviar-lhe cópia de uma correspondência endereçada à DECO. Isto tanto mais porque duvido que esta associação irá dar aos factos que exponho a divulgação que merecem. Acontece que os abusos de margens de comercialização que denuncio são perfeitamente exorbitantes.

De nacionalidade belga, vivo em Portugal há mais de 15 anos. Desde o início, fiquei estupefacto com as diferenças de preço entre Portugal e o norte da Europa. Verdade é que alguns bens são claramente menos caros: restaurantes, hotéis e, dum modo geral, todos os bens ou produtos com uma forte componente de mão de obra. Facto, aliás, muito lamentável para o povo português simples, pois implica que os seus rendimentos sejam francamente inferiores.

Dito isto, o mesmo não se passa com todos os serviços, visto que estes, oferecidos pelas classes educadas (médicos, engenheiros, advogados, arquitectos, etc.) são nitidamente superiores aos preços praticados nos países da Europa do Norte. Facto que tende a comprovar a força do espirito corporativo existente nestas profissões, o qual lhe permite estes preços exagerados. Assim, enquanto uma consulta num médico generalista na Bélgica custa cerca de € 30,00, dos quais a Segurança Social reembolsa, no mínimo, € 20,00, uma consulta a um médico particular em Portugal custa, no mínimo dos mínimos, € 60,00, sem reembolso. Uma vez mais, é a população modesta que paga.

No que diz respeito aos bens alimentares, é certo que a carne, o peixe, a fruta e os legumes costumam ser menos dispendiosos por cá. Em contrapartida, os produtos embalados são nitidamente mais caros, como se comprova pelo quadro comparativo referente à LIDL. E, se tivermos em conta que a LIDL é habitualmente menos cara que as cadeias portuguesas, podemos concluir que o consumidor português desembolsa valores excessivos pelos produtos em questão. Creio, aliás, que a diferença entre o nível de preços dos produtos frescos e os produtos embalados resulta muito simplesmente do facto de a distribuição dos primeiros contar ainda com um número considerável de distribuidores independentes, enquanto que a Grande Distribuição conseguiu praticamente monopolizar a distribuição dos produtos acondicionados.

Garanto-lhe a autenticidade dos números que avanço. Fiz em 2009 uma primeira comparação deste tipo para a DECO, tendo na altura remetido cópia à LIDL que tentou (com argumentação absurda) justificar as diferenças, sem, no entanto, as contestar minimamente.

As práticas de entendimento monopolista na distribuição constituem igualmente uma forma de corrupção. A única forma de defesa é a divulgação dos factos, tal como V.Exa.o faz, de forma tão brilhante, em matéria de política e administração pública.

Grato pela atenção que o assunto lhe possa merecer, apresento a V.Exas. os meus melhores cumprimentos.

Georges Steyt

Anexos:
Carta à DECO/Proteste
Quadro comparativo preços LIDL Bélgica / Portugal

maio 05, 2013

A posta alta num cavalo perdedor


Um gajo senta-se diante do monitor e nem sempre lhe apetece cumprir um qualquer ritual, como na televisão nem sempre nos apetece o mesmo canal, e depois dá-lhe para ir dar uma voltinha pelos corredores mais ou menos iluminados do casarão em que a net se tornou.
Naturalmente, que passados alguns anos sobre o advento da coisa isto da nostalgia também já pode acontecer em ambiente virtual, uma das tentações é a de sacudir o pó aos “favoritos”, essa ferramenta que tínhamos como imprescindível quando jovens e imberbes exploradores do fenómeno.
E embora raramente nos dê para aí, é ponto assente que perdemos a vontade de tão cedo repetirmos a graça.

Como qualquer pessoa que bloga desde o início da década passada, vivi os dias intensos da fase pós chat e pré facebook. A sede de comunicação era imensa e os computadores substituíam quase por completo as televisões que pouco ou nada transmitiam para nos prender a atenção. Passávamos horas diante do monitor, descobrindo nova gente e apreciando os talentos extraordinários (como nos pareciam) de desconhecidas/os, acabando cedo ou tarde por estabelecer contacto com as pessoas por detrás das realidades virtuais que nos esforçávamos por construir.

Era giro, admito, e mexia com uma pessoa. Era quase como um regresso à adolescência, pelas emoções de geração espontânea suscitadas por alguém cujo rosto, cuja voz, cujo género desconhecíamos e que nos surpreendiam pelo seu vigor.
A alma latina fazia-se sentir através de um computador, nas discussões acaloradas como nos flirts à descarada que partilhávamos com quem passou a viver parte da existência naquele mundo à parte que fomos construindo com a mesma expectativa de uma relação a dois, com a esperança da eternidade que qualquer paixão consegue alimentar.
E isso aplicava-se a qualquer tipo de relação que nascia desse contacto distante que se transfigurava próximo pelo exagero nas revelações protegidas por um anonimato que aos poucos começou a desaparecer.

Foi essa a mudança que deitou tudo a perder. Jantares, convívios, encontros marcados sob a pressão da curiosidade que sempre matou gatos e na internet vitimou imensos corações.
Amizades de aparência sólida e amores clandestinos de caixão à cova brotavam como cogumelos a partir das caixas de comentários, dos emails e do messenger, enxurradas de palavras sentidas e acreditadas que nos faziam presumir uma intimidade e laços tão fortes que o impulso da proximidade física acabou por vencer.
Sim, foi isso que deitou tudo a perder. Ou pelo menos arrefeceu o entusiasmo juvenil que nos prendia à cadeira, como hoje é fácil de constatar na triste decadência da blogosfera enquanto rede social e a que o facebook apenas deu o golpe de misericórdia.
Ao vivo e a cores, há um brilho qualquer que se extingue e as emoções (como as imagens) artificiais sucumbem à verdade dos factos que os olhos nos olhos não conseguem disfarçar.

Os meus favoritos não passam de um extenso rol de blogues extintos ou ligados à máquina da teimosia dos poucos que como eu ainda vão aparecendo para fazer a cama e mudar os lençóis. Das pessoas que faziam o meu quotidiano virtual nos dias loucos de 2004 e foram entrando aos poucos na dimensão analógica restam apenas vagas memórias e um ou outro contacto esporádico, residual, distante como seria suposto neste ambiente. E isso abrange amizades “para a vida” como paixões que nos faziam chorar.

Contudo, e nisso a vida tem sempre a última palavra, dou comigo a navegar pelos restos dos meus rastos dessa etapa que tanto coloriu a minha entrada na crise da meia-idade e a constatar o quanto de ilusório se constrói nestes canais de comunicação modernos.
Mas no balanço desta nostalgia de pacotilha também descubro o pragmatismo que a passagem dos anos nos traz quando percebo que aquilo que me ocorre no final do périplo virtual é uma conclusão de SEO: o contacto pessoal com gente que bloga tem um preço a pagar, uma espécie de castigo para as nossas ilusões, e é a forma mais desastrada de dar cabo da popularidade dos nossos espaços virtuais.

Quem nos conhece pessoalmente e por algum motivo desatina é garantido que não nos linca mais.