maio 13, 2013

A posta que isto já lá não vai com falinhas mansas


No visível desespero dos próprios apoiantes dos partidos da coligação que nos governa, cada vez mais desarmados para acudirem em seu auxílio e com a perda de audiências da presença televisiva de Sócrates a privá-los do renascer das cinzas de um culpado mesmo a jeito para a argumentação fácil, percebe-se o quanto as sondagens até acabam por não reflectir na sua verdadeira dimensão o esboroar absoluto da base de legitimação do actual Executivo.

Sejamos claros: já nem a malta de Direita acredita nas hipóteses de sucesso deste grupo heterogéneo de pessoas a quem o poder foi confiado nas circunstâncias que se sabe e de entre a mesma falta de alternativas que nos aguarda em futuros plebiscitos.
Falha-lhes o talento para o jogo político, a credibilidade para a mobilização popular em torno das suas medidas bizarras e, em muitos casos, simplesmente cruéis, a consistência para consolidar uma imagem de força que colmate as várias debilidades da sua forma de controlar o poder e, acima de tudo (e nem quatro Poiares bem maduros conseguem apagar o rasto de imbecilidade deixado pelo inenarrável Relvas), falta-lhes a inteligência que nos poderia valer.

Depois de assente o pó da desilusão inicial, os portugueses agitaram-se e quase roçaram a revolta chegando a haver quem temesse uma nova Grécia nas nossas ruas. Claro que foi sol de pouca dura e depressa a população acabou enfraquecida pelo próprio efeito de uma governação desastrada e desastrosa que nos obriga a centrar atenções nas questões mais elementares da sobrevivência. Quase um milhão de desempregados mais outro milhão de reformados (com pensões sistematicamente alvejadas pelos snipers da rapina estatal) a sustentarem famílias inteiras deixam pouca margem de manobra para a contestação.
Agora, encravados entre um Governo muito incapaz e uma oposição pouco convincente, oscilamos no quotidiano entre o encolher de ombros resignado, a gestão in extremis de recursos financeiros depauperados e os fenómenos quase diários de estupefação perante as asneiras, as tiradas idiotas e as medidas controversas (ou mesmo inconstitucionais) de que a Comunicação Social e o seu batalhão de notáveis desertores analistas, maioritariamente da mesma área política da quadrilha liderada por Passos Coelho, nos dão conta.

O banana no topo do bolo é uma velha glória dos dias felizes do esbanjamento dos milhões que a Europa nos ofereceu como contrapartida para abdicarmos de boa parte do controlo económico sobre o país. O Presidente da República, esse colosso do anedotário político, deveria constituir a maior esperança para uma solução mas acaba por ser uma das faces mais evidentes do problema: a triste realidade de um poder meio senil que ameaça a Democracia, destruindo-a aos poucos neste caldo em lume brando, num banho-maria de impunidade despudorada, de desorientação mal disfarçada e de um esforço concertado de estupidificação das massas por todos os meios ao alcance da seita de chicos-espertos e de palermas instalados nos diversos poderes.

Entregues a uma corja de oportunistas e de mercenários, mergulhamos aos poucos nas trevas da lei da selva, do salve-se quem puder.
E ninguém faz a mínima ideia do quanto neste período negro Portugal já deitou a perder.

6 comentários:

  1. É tão triste que tenhas razão...

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  2. Grande Shark! Um retrato desabrido e triste e, ainda assim, inpirdor. Boa malha!

    Olho para a história dos meus excelentíssimos progenitores e olho, depois, para os cem metros com (muitas) barreiras do meu filho... e apenas me ocorre adquirir uma caçadeira de canos cerrados e começar a abater cirurgicamente algumas personagens deste corropio lamentável até eu próprio ser abatido ao balanço desta contabilidade canhestra em que estamos envolvidos.

    E - repare-se! - nem sequer referi ainda o meu sequencial olhar para a minha própria vida, pois então o destempero poderia cair em desespero.

    Pelo menos, pelo menos, tentemos TODOS lembrarmo-nos em quem NÃO devemos votar.

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  3. Faltou-me ali um «s» no inspirador, claro. Deve ser porque a inspiração, ela própria anda pelas ruas da amargura...

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    1. Enquanto inspirarmos e expirarmos sucessiva e alternadamente, não estará mau de todo.

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    2. Faltou-te um "s" e um "a", deduzo que já foste taxado pelos parasitas. :)
      Receio estarmos a fazer parte de um dos períodos mais negros da nossa História, ainda apenas no princípio do que nos espera.
      E garanto que vou saber exactamente em quem não votar, disso não tenhas dúvidas.

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    3. Ai isso também tenho como certeza!

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