A mudança em nós acontece todos os dias, com o envelhecimento e mesmo com as repercussões dos acontecimentos que qualquer existência implica.
No entanto, não damos por isso a curto prazo. Precisamos que passe mais tempo, que exista uma maior distância entre os momentos em que avaliamos os termos de comparação, como uma foto que nos permite comparar a diferença e perceber a marca do tempo a passar.
Com o mundo as coisas também acontecem assim.
As coisas mudam, mais depressa ou mais devagar, e não nos apercebemos da maior parte dessa mudança permanente a que os mais optimistas gostam de chamar evolução, progresso ou qualquer outro termo capaz de exprimir a enganosa sensação de que tudo se transforma num sentido positivo, de que andamos em frente e quase sempre para melhor.
Contudo, de vez em quando paramos para olhar a “foto” de uns tempos atrás, olhamos para as lições que a História nos dá e percebemos o quanto se repetem tantos capítulos desse livro que, cada um/a à sua maneira, com maior ou menor impacto, vamos escrevendo para gerações futuras poderem tirar as suas conclusões acerca dos marcos assinalados num determinado lapso de tempo pelas gentes que os produziram, no sentido de saberem que tipo de pessoas havia quando determinado acontecimento, quando determinada mudança se produziu.
É assim que olhamos para a Idade Média como um período sinistro, da mesma forma que lamentamos a época do Feudalismo ou realidades medonhas como a escravatura ou as guerras devastadoras que invariavelmente afectam a vida das populações em dada altura e constituem, a par com cataclismos naturais, descobertas científicas ou inovações tecnológicas perniciosas, factores de mudança nem sempre para melhor.
E é assim que rotulamos períodos da História mais as pessoas que os fizeram acontecer, da mesma forma que criámos relógios e calendários para nos servirem de pontos artificiais de orientação.
Quando tento encaixar o meu tempo sob esta perspectiva e esboço um qualquer cenário futuro para o qual a minha geração esteja a contribuir agora, enquanto o meu país definha à mercê dos abusos e dos desleixos que também eu deixei acontecer e o mundo inteiro parece caminhar sobre as brasas de uma economia titubeante, de uma tensão permanente, de uma hipoteca da maioria dos valores que definem as pessoas e as nações de bem, de um ambiente em profunda e alarmante degradação, de toda uma corda bamba cada vez mais próxima de partir, só consigo antever o pior.
E quando olho para o espelho e percebo as diferenças que o tempo vai pintando na minha carcaça irrelevante, penso nas que se produzem no mundo de que faço parte, na herança que os que partilham este momento específico da existência num espaço comum que construímos (destruímos?) e cada vez mais me preocupo e envergonho com o rasto que iremos deixar.
Até arrepia de tanta razão que tens!
ResponderEliminarEu tenho o condão de arrepiar as pessoas. :)
ResponderEliminararre piu piu :O)
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