dezembro 30, 2015

Mais uma coisa sem importância nenhuma…

Parafraseando um conhecido eterno comentador e actual candidato, esta não lembra ao careca…

Um piropo ou uma ordinarice deliberadamente obscena? Uma questão de verbalizar uma manifestação de apreço ou um assédio sem pudor e com recurso a violência verbal para dar largas a um lamentável espírito de macho frustrado e javardo? Em suma: uma sedução ou uma violentação?

Nada me parece claro ou em vias de clarificação numa iniciativa legislativa do PSD no passado Agosto – e apenas agora divulgada, vá lá saber-se porquê… – e, conforme se pode ler no DN de 28 de Dezembro e da autoria de Fernanda Câncio, se trata «de um aditamento ao artigo 170º do Código Penal, "importunação sexual", o qual criminalizava já o exibicionismo e os "contactos de natureza sexual", vulgo "apalpões".»

Vejamos, e se alguém disser à personagem onde lhe anda focalizado o interesse qualquer coisa do género: «Senhora, a sua beleza confunde-me; faça-me um homem feliz e aceite jantar comigo…». Não será isto um caso flagrante de «proposta de teor sexual»? Em princípio, o convite para jantar não se destinará  a culminar num jogo da bisca. E, além da desgraceira de uma muito provável nega, o presuntivo e incontido amante ainda corre o risco de ser preso. E não de amores!

Eu até nem teria, à partida, grande coisa em contrário relativamente a esta iniciativa, mas sempre que se legisla sobre questões educacionais, culturais, civilizacionais, éticas, enfim, como se se pudesse alterar a correnteza da vida meramente por decreto, tenho tendência para ficar cheio de reticências e de urticária.

Interessa, entretanto, esclarecer – não vá o Diabo tecê-las… – que gosto tanto do chamado sexo oposto ao meu, considerado ele em abstracto e genericamente mas também e muito especialmente em concreto, que o meu respeito por ele é sem medida. Creio que terá sido coisa que me foi incutida pelos meus pais e, até, por outros educadores, ao longo da vida.

Talvez por isso não é meu uso proferir qualquer comentário quando uma mulher que me é sugestiva mas estranha cruza o meu caminho. Mas receio que o meu olhar possa ser algo indiscreto ou revelador de alguma saudável (pelo menos assim a reputo) perturbação que comigo ocorra… E quantas vezes a imaginação voa, desatinada e sem barreiras perante alguma evidência circunstancial mais apelativa? 

Julgo, mesmo, que, em tempos de imberbe juventude, um rubor, incómodo e indiscreto, me inundava a face com perturbadora frequência quando uma bela jovem ou mulher era, por alguma circunstância, minha interlocutora. Timidez, seguramente. Condimentada por pensamentos porventura indizíveis mas incontroláveis. Porém, se a intensidade fosse por demais intensa, poderia chegar ao ponto, como sói dizer-se, de meter conversa a esse propósito, a bem de alguma sanidade mental, que os recalcamentos nunca foram bons conselheiros.

Claro que, aqui chegados, interessa sabermos que não somos todos (nem todas) iguais e o escalonamento de atitudes será, decerto, tão diverso quanto o mundo.

Isto traz-nos à incomensurável dificuldade em apurar, então, o grau do acto criminoso em cada caso que, por acaso, não me parece, no contexto legislativo, que seja indiferente ao género, nomeadamente.

Além disso, poderei eu queixar-me do flagrante, ainda que improvável, assédio por parte de uma vizinha ou de mera passante? E que fazer, nesses casos, para obter meio de prova? Andar sempre acompanhado por duas testemunhas insuspeitas, ou ter sempre um gravador ligado no bolso, para o que der e vier?

Por outro lado, não será igualmente e socialmente perigoso entrar num elevador sem dar os bons dias a quem lá esteja? Imagine-se que a menina Ofélia, do 3º esquerdo, sofrendo de depressão profunda, leva a ausência de cumprimento à conta de agravamento da sua falta de auto-estima e, subindo ao nono andar, se suicida logo ali? Não será de acautelar legislativamente a obrigatoriedade de cumprimentar os vizinhos nos ascensores, para evitar casos análogos?

É que, nestas coisas, nunca se sabe e mais vale prevenir…

Afinal e pelo meio destas minudências, onde fica posicionado o tão estimulante jogo da sedução? Ou, até, pior: como iniciar uma relação, um namoro? Impossível! À primeira abordagem, qualquer um/a corre o risco de deparar com um/a interlocutor/a desarvorando numa grita aflitiva de que está ali um/a caramelo/a com segundas ou terceiras intenções e o/a pobre corre o risco de ir bater com os costados na cadeia, com um amor por cumprir…   

Por outro lado, deparamos nesta legislação com um manto diáfano sobre a expressão de «assédio sexual», essa, sim, coisa mais concreta, definida e nada rara, que vitima tanta mulher – e, porventura, alguns homens – e que se revela através do recurso a pretensas prerrogativas de hierarquias que, apenas por serem tal, presumem que o estatuto é extensivo ao direito de chegarem à cama… ou a qualquer esconso de conveniência.

Mas dizer-se assédio, isso é que não, que a crueza do termo não é compatível com alguns espíritos mais delicados e titubeantes.

Agora, o porquê da oportunidade de tão momentoso acréscimo legislativo, na verdade, escapa-me. E logo numa altura de crise da construção civil, área de onde é suposto emanarem algumas das pérolas javardolas…

Haverá razões que a razão desconhece nestas matérias legislativas. Mas espera-se sempre que seja para nosso bem. Ou, quem sabe e à falta de melhor, quiçá para reforçar a confiança dos mercados…
 
Ora, façam é o favor de terem todos um óptimo 2016, com piropos e, se possível, muito amor, namoro e felicidades que tais! Se possível, também, a dois que a coisa assim assume outra graça.

dezembro 21, 2015

O Natal, na visão dos indígenas.

O menino Índio Jesus nasceu.”
Vou contar a história do menino índio Jesus, na visão de um Indígena Pankararu.
Vamos celebrar esse grande feito, pois é Natal e, na grande magia que evolve esta época do ano, despertam dentro de alguns um potencial de solidariedade e compaixão, surgem as campanhas contra a fome e a miséria humana, renasce dentro de nós a esperança na humanidade e em sua generosidade.
Dizem que o menino Jesus quando nasceu era loiro e de olhos azuis, e que nasceu em Jerusalém. Mas no meu ponto de vista, na verdade ele nasceu em uma maloca na Aldeia Brejo dos Padres, especificamente nome da aldeia dos Pankararu onde a base de atividade é a agricultura. A principai atividade é a plantação de feijão, do milho e da mandioca. Também sobrevivemos da comercialização de diversas frutas, como a pinha,   típica da região, e temos também o artesanato como uma fonte de renda complementar. A fabricação de farinha de mandioca, nas casa de farinha é, ainda, uma atividade comunitária entre nós indígenas Pankararu.
Nós, em maioria, cultuamos a Religião Católica, observamos o calendário de festas populares religiosas, mas mantemos também os rituais, danças e folguedos próprios da nossa cultura Pankararu.
Temos diversas festas típicas, as  mais importantes são a Corrida ou Festa do Umbu e a do Menino do Rancho. Não posso esquecer de mencionar o Toré, que é dançado ao ar livre por homens, mulheres e crianças, de preferência nos fins de semana. O ritmo é marcado pelo som dos maracás feitos de cabaças. Os versos dos cânticos são cantados em Português, misturados com expressões do nosso antigo dialeto do tronco Pankararu. É nas danças e nos rituais que a nossa cultura do Pankararu está mais bem representada.
Por estarmos no Natal muitas famílias, independente da cultura, crença, credo ou religião passam juntas esta noite,. Pessoas perdoam-se mutuamente, desentendimentos são desfeitos, compartilha-se a emoção e a alegria que envolve a história do menino Indígena Jesus e a lenda do bom velhinho que nada mais é do que um dos nossos Tronco Velho. Tudo gira em torno do amor e da paz. É o aval que algumas pessoas precisavam para demonstrar seu carinho e sua gratidão às pessoas que querem bem, e conosco não é diferente.
A figura do indígena simboliza a capacidade humana de ser humilde, generoso, de amar, compartilhar, preocupar-se com o outro e principalmente respeitar as pessoas, independente de classe social, ou mesmo das próprias crenças pois sempre prevalecerá a vida em comunidade.
De forma geral, fomos educados dentro de uma concepção filosófico-religiosa onde aprendemos a valorizar o ser generoso, aquele que oferece toda a sua disponibilidade e bens para o outro, sem pedir nada em troca. Só podemos oferecer o que temos A generosidade é uma capacidade emocional, que se relaciona ao desprendimento e a auto-estima.
Quando você oferece algo para alguém esperando algo em troca, a isto se chama, na verdade, investimento e, portanto , você não está dando nada; quando você oferece algo e cobra o pagamento, isto é venda e, portanto, o outro tem direito de saber o que está comprando e qual o preço do produto para decidir se o quer ou não.
Mas não podemos esquecer que vivemos numa sociedade capitalista e competitiva ,como a nossa, onde muitos tiram a vida dos outros para se beneficiar, como, por exemplo, os latifundiários e posseiros, invadem nossas terras e matam nossas famílias.
A sociedade ainda tem muito que aprender com o Índio Jesus, pois podemos ser generosos sem necessariamente termos dinheiro, podemos oferecer gratuitamente amor, atenção, solidariedade e principalmente respeito, aprendendo a olhar as pessoas que estão à nossa volta como seres humanos, não apenas enxergando seus defeitos, mas as suas qualidades e potenciais pessoais.
Portanto,  não esqueçam que o indígena é capaz, basta acreditar e não susurpar nossos direitos constitucionais!
Desejo a todos um Natal generosamente fraterno e um próspero Ano Novo de conquistas e que a força encantada prevaleça sempre.
 
 

 
 
Chama Mamãe

dezembro 11, 2015

tempo de dar...

milho aos pombos
Raim on Facebook

vergonha? pouca
ética? nenhuma

Tendo assistido a ambas as entrevistas, pareceu-nos, cá por casa, que uma delas teria acabado cedo demais... Mas, enfim, como imaginar tal malfeitoria quando tantos holofotes se centram neste momento político? Seria uma insensatez da SIC, tanto mais que, se não estou em erro, cada candidato parte de um pé muito democrático de igualdade plena (?). 

Mas, afinal, parece que não. Para um, altas fachadas, envolvência gongórica, como se as eminências pintadas em redor caucionassem o discurso e a personagem, e 43 minutos de debate. Para outro, um ambiente despojado, porventura até mais consentâneo com a personalidade do candidato, pouco dado a fogos fátuos... e 23 minutos de entrevista.

Assim sendo, ora, toma lá, que é democrático! E se isto não é objectividade e isenção, venha de lá alguma velha rameira que lhes atire a primeira pedra. 


Assim se constroem «clarividências» como aquelas que desembocaram em dez anos de cavaquismo à solta. E que não se diga que os amigos de direita não são para as ocasiões, que ali, sim, se cultivam os grandes valores...

Valha-nos a mulher de César!

dezembro 10, 2015

novembro 30, 2015

Uma direita refém de si própria ou de um Marcelo Rebelo de Sousa em más companhias

Ocorreu-me o conhecidíssimo poema de Carlos Drummond de Andrade, Quadrilha (honni soit…), ao atentar no imbróglio de afectos em que a direita institucional se enredou e da qual apenas um grandíssimo golpe de asa lhe permitirá libertar-se. Senão veja-se:

- Cavaco Silva não gosta nem nunca gostou de Passos Coelho;
- Passos Coelho apenas mantém uma relação de conveniência com Paulo Portas;
- Paulo Portas nunca morreu de amores por Passos Coelho e menos ainda por Cavaco Silva;
- Cavaco Silva sempre lhe pagou, aliás, na mesma moeda;
- Nenhum deles gosta, um bocadinho que seja, de Marcelo Rebelo de Sousa;
- Marcelo Rebelo de Sousa tem pregado ferroadas ao rés do achincalhamento a todos eles, desde sempre e muito particularmente nos mais recentes anos da desgovernação Passos-Portas;
- Seria de esperar que um outro alguém pudesse emergir deste caldo, mas que nada tivesse a ver com eles – o que não se antevê, para breve, coisa fácil.

Posto isto ou apesar disto, estão todos eles confrontados com a necessidade urgente, imperiosa e absoluta de apoiar, no imediato, Marcelo Rebelo de Sousa na campanha para a Presidência da República… no que nenhum deles, francamente, parece estar a empenhar-se com um pingo de convicção, até pela inexistência (aparente) de um qualquer projecto comum.

Marcelo conta, para esta campanha, com a certeza da lebre que, afinal, perdeu a corrida com a tartaruga. Isto porque conta com a simpatia e o apoio da direita, enquanto pensamento político, mas conta também com o indisfarçável antagonismo dos protagonistas do poder dessa mesma direita.  

Personagem mediática, simpática q.b., e, daí popular bastante, no entanto com uma equidistância mais do que periclitante ou duvidosa face ao espectro político nacional - o que sempre esteve claro na sua longuíssima campanha através da TVI -, resta-lhe aguardar que o tempo passe, para que não perca votos de cada vez que, da sua «área política», se produza qualquer manifestação de sofrimento pelo poder perdido, a qual, inevitavelmente, lhe perturbará imagem e percurso, como já tem sido patente, público e notório, nas últimas semanas.

Isto sem considerar que haja até quem queira aproveitar, deliberadamente, o ensejo para lhe devolver, com juros, as facadinhas, os remoques, as críticas, as piadinhas e outros desvairados mimos em que o professor Marcelo sempre foi pródigo, na sua senda de «animal político».

Um certo espírito de ressabiamento militante em que a direita se encontra traumaticamente mergulhada desde que lhe abanaram a cadeira do poder, onde se considerava em segurança perene, não lhe permite enxergar para além do seu próprio umbigo em sofrimento. E, aí, pelos vistos, as quezílias internas prevalecem sobre qualquer racionalidade.

Pelo que se vai vendo, nem se equaciona a possibilidade do consabido exercício do sapo engolido. Porventura porque já não haverá, por parte da direita, espaço para mais este batráquio a engolir.

Ao professor Marcelo resta-lhe a empatia muito própria com as velhinhas e os medalhados de Portugal ou as fluidas águas dos rios de afectos que cultivou, prazenteiramente. Já ganhou, dizem? Não me parece que seja bastante… 

novembro 29, 2015

durante a tomada de posse...

tudo em standby
Raim on Facebook

Aux armes, les citoyens! ou do preço da segurança.





Após os atentados de sexta-feira, dia 13 de novembro, numa cidade de onde emergiram, não sem a violência associada à revolução de 1789, os ideais fundadores dos estados modernos: a liberdade, a fraternidade e a igualdade, comovi-me com a onda de solidariedade que se espalhou pelas areias das redes sociais, quanto mais não fosse pelo relativismo da proximidade, sobre o qual já falei numa das minhas crónicas. Mas não disse que era Paris nem mudei a cor da minha foto. Do mesmo modo, assenti com as palavras de Hollande: o terrorismo não vencerá; os terroristas não vão conseguir alterar quem somos; não irão incutir-nos o medo e não vão tirar-nos a liberdade, que é tão nossa.
Contudo, observando o que desde então se tem passado na Bélgica e ainda hoje em Paris, vemos que os terroristas venceram. A França de agora não é a mesma, os franceses não conseguem ser os mesmos, o medo existe e a liberdade não está no mesmo volume de outrora. Ao trípode da cidadania liberté, fraternité e égalité sobrepõe-se a máxima sécurité, sendo, então, os três valores da divisa francesa reduzidos a um.
Um país que está em estado de emergência durante três meses perde essa identidade e os cidadãos veem secundarizados os seus direitos em favor de um ‘bem maior’: a segurança do estado. Qualquer pessoa pode ser intercetada e revistada na rua; qualquer casa pode ser invadida sem mandato do ministério público e todas as formas públicas de manifestação estão proibidas. Perante o estado, todos os cidadãos são agora suspeitos, menos quem está envolvido no seu controlo e entre todos existe um clima de desconfiança assente na roupa, na cor da pele, na barba e nos olhos. O Papa Francisco alerta-nos para o pior que pode acontecer se da diferença nascer o ódio, e isso já está a acontecer. Na minha visão do mundo, estas formas consubstanciam a perda de liberdade, a quebra da fraternidade e impossibilitam a igualdade.
A letra da Marselhesa não encontra hoje eco e neste último domingo de novembro não faz sentido gritar ‘Aux armes, les citoyens!’ porque o que se vê é ‘Aux armes, la police et les militaires!’ A segurança de um povo a isto obriga e caberá aos líderes encontrar o meio-termo, o fiel que permita equilibrar essa balança de quatro pratos de modo a garantirem a segurança sem obliterarem os princípios fundadores dos direitos humanos.
É por isso que quando ouço e volto a ouvir Hollande a garantir que os terroristas não vencerão e a França não cederá ao terror, me vejo a questionar: Como? Importa-se de repetir?

novembro 28, 2015

Urgente o TGV? Era já para ontem!!!!

....“Foi um erro deste Governo acabar com este projecto”, disse, na III Conferência da Comunidade Portuária de Sines, Luis Mira Amaral, da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), referindo-se à ligação do Porto de Sines a Espanha, pela ferrovia de bitola europeia......
Mira Amaral




Em 2010:  Portugal não precisa do TGV

Em 2014 e 2015:
O TGV é fundamental para o Porto de Sines,
 e foi um tremendo erro nãoter-se construído
a ligação em bitola europeia (TGV)
Opinei e escrevi largamente sobre este tema durante vários anos, e deixei aqui -e em vários posts- neste blogue expressas as minhas preocupações relativamente a isso.
As obras da ligação em bitola europeia, TGV, AVE, ou o que lhe quiserem chamar, não se fizeram e agora Espanha, -tal como deixei em aviso a  que ninguém liga mormente por eu ser apenas ninguém, preocupados que andam a navegar a demagogia barata e enterrando projectos que são FUNDAMENTAIS para a competitividade da nossa economia- vai levantar as linhas de bitola Ibérica. 

O que é que isso quer dizer?
Quer dizer, como muito bem disse  agora Mira Amaral repetindo o que dissera em 2014, que Portugal vai ficar uma ilha ferroviária.
Ou seja, um sítio de onde não partem nem chegam comboios vindos de fora.
Poderão os mais incautos julgar que isso é quiçá coisa de somenos importância.
Mas se atendermos a que - e volto a repetir-  no contexto actual as matérias primas  são transitadas no imediato, pois que os modelos de gestão uniformizados e globalizados, quer por gestão do espaço físico, quer por determinações de ordem económica não permitirem acumulação de stocks, então temos um grave problema a começar de imediato pela Auto Europa e o Porto de Sines.

Mira Amaral voltou a declarar recentemente o que já tinha dito em 2014, falando da primeira vez tão baixinho  que quase ninguém ouviu nem leu.
Mas as opiniões mudam e se agora é a favor, dois anos antes ainda era contra e deixo aqui para consulta o que faz memória e não pode ser desmentido.
Dizia ele então estar muito agradado com o adiamento do TGV.
A onda era a contestação ao governo de Sócrates, e à laia de molhar a sopa, tudo que era gente do contra batia fortemente nos investimentos. Uns por serem "megalómanos", outros por serem insuficientes.

Contudo, eis que ele aponta agora a necessidade urgente de uma ligação em bitola europeia, a do TGV, pois de contrário, todos os grandes investimentos e projectos, nomeadamente ligados à exportação, perdem competitividade,  e pior, correm o risco iminente de  tornarem-se inviáveis.

O TGV está definitivamente enterrado

"O povo não come TGV's"
O TGV está definitivamente enterrado, dissera Passos Coelho, pérola  repetida pela que foi depois ministra das Finanças com um orgulho pacóvio de quem vai na aldeia e não vê as casas.
Enterrado, sim está ele agora, e arrastou todos no seu enterro.
Perdeu-se muito tempo, e agora, a poucas semanas do levantamento das linhas em Espanha, as alternativas ficam-se pelas rodovias as quais atingiram, nos principais países da Europa, o limite.
Quer por questões de gestão de espaço, logística e até, ambientais, estão ser colocados fortes entraves à circulação das mercadorias por veículos pesados. O transbordo em Elvas / Badajoz, também implicará obras de vulto,  e Espanha não está disposta a fazer investimentos, prolongar linhas e criar espaços para esse efeito, nem se mostra muito entusiasmada com uma mole permanente de veículos pesados a entrar e sair constantemente de Badajoz.
Incómodos e aumento de custos e tempo, são as próximas alíneas a acrescentar nas despesas das facturas futuras.

Mas é assim. O que se poderia esperar de alguém que mentiu para ganhar as primeiras eleições, e que, sendo mentiroso, voltou a espalhar mentiras e parvoíces, tais como "o povo não come TGV's" e voltou a ganhar as mesmas?
É o País que temos, dizem muitos, mas demagogias à parte, ficamos agora mesmo a ver os comboios a passar.... ao longe...

novembro 25, 2015

as exigências de Cavaco


Raim on Facebook

a propósito dos 40 anos do 25 de Novembro

Peço-vos desculpa pela extensão desta entrada, com texto da autoria de Vasco Lourenço, mas julgo que a oportunidade e o seu nível de esclarecimento é do maior interesse e utilidade para quem aprecia estas coisas:

UNIDOS no ESSENCIAL

Quarenta anos após o 25 de Novembro de 1975, importa recordá-lo, como acontecimento fundamental na vida política portuguesa, nomeadamente na consolidação do projecto apresentado aos portugueses pelo MFA em 25 de Abril de 1974, mas importa também analisá-lo, procurando aproveitá-lo para perceber melhor o que se passa hoje em Portugal.
Após um período de luta e transformações intensas em Portugal, há quarenta anos estávamos à beira da guerra civil, com o risco de nos perdermos na maravilhosa aventura colectiva em que se transformara o 25 de Abril. A Revolução dos Cravos estava prestes a estoirar e, com isso, a desaparecerem todos os sonhos que se haviam alimentado.
Tendo, em 25 de Abril de 1974, avançado para o derrube da ditadura; para a resolução do problema colonial, com o consequente fim da guerra que há 13 anos mantínhamos em três longínquas colónias; para a instalação de uma democracia politica “tipo ocidental”; foi com enorme celeridade que o MFA desenvolveu a melhor e mais eficiente operação militar que alguma vez as Forças Armadas Portuguesas realizaram ou vieram a realizar.
Empurrados pelo povo português, que tomou em mãos a própria revolução – que saudades desses tempos participativos e entusiasmantes! –, aos militares coube fundamentalmente criar e garantir condições para que o Programa que apresentaram nessa maravilhosa madrugada libertadora se pudesse cumprir na totalidade.
No entanto, as ambições humanas não deram descanso ao MFA e, rapidamente, ele vê surgir no seu seio, um projecto pessoal à volta de António de Spínola, que tudo faz para subverter o projecto colectivo que estava em marcha.
Foi a tentativa de rasgar o Programa, logo no dia 25 de Abril; foi o “Golpe Palma Carlos” menos de três meses depois; foi o 28 de Setembro, com a própria auto resignação de Spínola; foi o 11 de Março de 1975…
Com todas essas tentativas falhadas, Spínola abriu sempre a porta ao chamado “salto qualitativo” à esquerda, o que ia provocando o não cumprimento de uma das promessas chaves do MFA, para que o seu Programa se concretizasse: refiro-me às eleições para a Assembleia Constituinte, base da democratização do Pais, objectivo primeiro dos Capitães de Abril.
Eleita a Assembleia Constituinte, nas eleições mais livres e participadas que alguma vez se fizeram em Portugal, ao MFA cabia, então, garantir as condições para que a mesma aprovasse, de forma livre e autónoma a Constituição da República Portuguesa.
A aceleração provocada pela dinâmica criada pelas sucessivas derrotas das tentativas de quem nunca aceitou um 25 de Abril libertador, criou, no entanto, movimentos e esperanças ilegítimas na sociedade portuguesa, com inevitáveis reflexos no interior do MFA.
Foi o tempo das várias vanguardas revolucionárias que, procurando imitar exemplos noutros países, se desenvolviam, preconizavam a substituição da revolução democrática que o MFA iniciara em 25 de Abril por outras revoluções mais ou menos na moda, nesses tempos de então.
Em consequência, o MFA dividiu-se em facções, cada uma procurando defender o seu projecto.
Serei suspeito nas opiniões que tenho: são as minhas, é lógico que as defenda!
Pessoalmente, continuo a considerar que a legitimidade revolucionária pertenceu sempre aos capitães de Abril que se bateram pela concretização das promessas apresentadas no seu Programa do MFA.
A partir de determinado momento, tiveram atrás de si todos os que, não concordando com o 25 de Abril libertador, não tinham coragem nem condições para impor o regresso ao “antes do 25 de Abril” ou, no mínimo, impor uma “democracia musculada”? É um facto, mas é isso que sempre acontece em todos os lugares e com todas as sociedades! Tacticamente, todos e cada um, procuram alianças para, não conseguido atingir os objectivos que pretendem, manterem as condições que lhes permitam chegar a esses objectivos, num futuro que pretendem o mais próximo possível.
Não vou aqui descrever em pormenor o que foram os tempos do PREC, Processo Revolucionário em Curso. Os enormes problemas existentes, os exageros cometidos, as divisões verificadas, as utopias perseguidas…
O facto é que tudo isso se “resolveu” com o 25 de Novembro de 1975.
25 de Novembro, que para uns é o fim do 25 de Abril, para outros , o retornar a essa data mágica da História de Portugal, repondo o verdadeiro espirito democrático e libertador. Para uns, um golpe da direita feito de provocações à esquerda revolucionária, que é atirada borda fora do processo revolucionário, para outros, uma tentativa de golpe dos esquerdistas, mais ou menos acompanhados pelos comunistas, a que se segue uma resposta firme e decidida das forças democráticas que repõem o comboio do 25 de Abril nos seus próprios carris.
Em suma, poderemos perguntar quantos 25 de Novembro existiram? Provavelmente, tal como no 28 de Setembro e no 11 de Março, também aqui cada um terá o seu. Pois, se até o 25 de Abril, apesar de inclusivo, é olhado de formas diferentes, por uns e por outros!
Quarenta anos passados, continua a ser polémica a leitura que se faz daqueles tempos tão conturbados, tão controversos, mas tão ricos e profundos.
Como um dos que neles se envolveram, um dos responsáveis por muitas decisões então assumidas, passados estes anos, confesso não me sentir arrependido de ter lutado pelos meus ideais, de ter contribuído para construir uma sociedade diferente. Apesar de alguns erros cometidos, apesar de muitas desilusões que, de então para cá, tenho enfrentado, apesar de algumas traições que então sofri e de que só mais tarde vim a tomar conhecimento, continuo a considerar que valeu a pena. Valeu a pena lutar por um país democrático, livre e aberto ao mundo e à modernidade. Um País onde o medo, a repressão, a guerra, o atraso e o analfabetismo não estivessem permanentemente presentes no seu povo.
Nem tudo foi conseguido, nem todo o mal foi erradicado, mas não tenho dúvidas de que vivemos muito melhor do que antes do 25 de Abril.
Mesmo, apesar de nos últimos anos termos vindo a assistir à destruição de quase tudo o que se conseguiu conquistar com Abril, temos ainda a liberdade conquistada que nos permite lutar contra as novas forças da reacção, os novos fascistas, as novas “maiorias silenciosas“, que querem voltar ao 24 de Abril!
Por isso, apesar de o 25 de Novembro continuar a ser uma data, um acontecimento, fracturante, temos de ser capazes de o olhar com novos olhos, para podermos dele tirar as lições que nos permitam enfrentar as novas lutas em que estamos envolvidos.
A História repete-se, afirma-se permanentemente. É uma afirmação que se ouve repetidamente, também no que à História de Portugal diz respeito.
Pessoalmente, comparando o 5 de Outubro com o 25 de Abril, considero que o 25 de Novembro é a data que faltou ao 5 de Outubro.
Isto, porque penso que se durante a 1ª República tivesse ocorrido um acontecimento como o 25 de Novembro, de que resultasse o fim da “bagunça” e da indisciplina nos quartéis, a transferência da discussão política dos quarteis, para um órgão de soberania especial, formado por militares, com a institucionalização de um período de transição durante o qual esse órgão tivesse poderes específicos e fosse o garante da consolidação democrática, talvez a 1ª República não tivesse terminado em 28 de Maio de 1926.
O 25 de Novembro será, porventura, a razão pela qual o regime implantado pelo 25 de Abril ultrapassou há muito o dobro da vida do regime iniciado em 5 de Outubro de 1910.
Em 25 de Novembro de 1975 estivemos à beira da guerra civil.
Como um dos principais protagonistas, por muitas dúvidas que possa manter, de uma coisa tenho a certeza: não aconteceu o pior.
Isto, apesar de, tal como nos outros pontos culminantes do processo revolucionário, também aqui ter havido quem, sem razões plausíveis, tenha sido injustamente mal tratado. Como costumo dizer a alguns amigos que o sofreram, a nossa virtude está em não termos assumido atitudes extremas. E o facto é que todos nós, mais cedo ou mais tarde, acabámos por sofrer injustiças e maus tratos.
Mas, para conseguir compreender o que se está passando neste momento em Portugal, impõe-se perguntar: quem venceu e quem perdeu?
Também aqui haverá mais que uma leitura: liminarmente dir-se-á que venceram os moderados, o Grupo dos Nove, e que perderam os radicais, os esquerdistas e os comunistas.
É assim tão simples?
Desde logo, há quem afirme que os comunistas venceram, pois anularam os esquerdistas e mantiveram-se na esfera do poder, não tendo sido ilegalizados.
Naquela altura os moderados foram vistos como um grupo homogéneo e declarados vencedores. Eram eles que defendiam a aprovação da Constituição da República, a entrega do poder à sociedade, a consolidação do Estado democrático e de direito.
Foi isso que se consumou, foi isso que ficou para a História.
No entanto, se analisarmos melhor, constataremos que esse grupo de vencedores era constituído, na essência, por dois grupos: o maioritário, o Grupo dos Nove que mantinha a legitimidade revolucionária do Movimento dos Capitães e se manteve fiel, cumprindo todas as suas promessas, ao Programa do MFA; outro, minoritário, o grupo saudosista do 24 de Abril, que se acobertou atrás do Grupo dos Nove, que teve mesmo algum protagonismo operacional, mas que foi vencido no seu objectivo de querer “ sangue, muito sangue”, com a ilegalização, no mínimo, dos comunistas.
Juntamente com Costa Gomes, Melo Antunes, Ramalho Eanes, Vitor Alves, Franco Charais, Pezarat Correia, Vitor Crespo, Costa Neves, Sousa e Castro, Marques Júnior e outros, fui um dos principais protagonistas dessa luta, que esteve na base da consagração inequívoca de uma democracia representativa, mas uma democracia assente na plena igualdade de direitos e deveres dos cidadãos e dos seus representantes, nos termos da Constituição da República, que viria a ser aprovada, na sequência do 25 de Novembro.
Nestes quarenta anos, estes vencedores/vencidos nunca desistiram dos seus desígnios e, temos de convir, muitos deles têm vindo a conseguir concretizá-los.
E, chegado ao fim do seu segundo mandato o actual Presidente da República, desmascara-se plenamente: depois do episódio da promoção a general do coronel Jaime Neves, “palhaçada” que indignificou as Forças Armadas e constituiu uma ofensa aos militares de Abril e ao Portugal democrático, estamos agora, passados mais de quarenta e um anos, a assistir à condecoração com a Ordem da Torre e Espada, de militares por acções desenvolvidas na Guerra Colonial. Algumas, em termos militares, até serão merecidas e se justificarão, mas, agora, tantos anos passados, que ideias estarão por detrás de quem assim procede? Justificar a guerra colonial? Aqui fica um alerta, pois os bastidores dizem-nos que se preparam condecorações que “nem ao Estado-maior lembrava” (para usar a linguagem militar).
Esses vencedores/vencidos têm vindo a recuperar e tentam, de facto, ser os verdadeiros vencedores do 25 de Novembro.
Impedidos, em 1975, de ilegalizarem o PCP, de liquidarem os seus dirigentes e partidários mais activos, ou, no mínimo colocá-lo “sob vigilância apertada”, tentam agora, através do Presidente da República, riscá-los dos partidos com direito a participarem na solução governativa do Pais. “Decretando” que podem concorrer às eleições, podem eleger deputados, mas não podem pertencer ao “arco da governação”.
Não tenhamos dúvidas: se em 25 de Novembro de 1975 se conseguiu parar o aventureirismo esquerdista e as ambições de um socialismo científico, conseguiu-se igualmente parar a tentativa da extrema-direita, de regresso ao 24 de Abril, e a da direita, de implantação de uma democracia musculada.
É esse o enorme valor, a enorme relevância que teve o 25 de Novembro, é essa a razão de continuar a sentir-me orgulhoso de ter sido um dos principais responsáveis pela solução vencedora.
E é também por isso que continuo na luta para impedir que esse grupo de vencedores/vencidos, apesar do apoio estrangeiro que possui, apesar das armas que tem, apesar dos ventos favoráveis que o neo liberalismo financeiro especulativo lhe proporciona, consiga transformar a derrota sofrida há 40 anos numa vitória para os dias de hoje.
Houve um dia um amigo que me contestou, “tendo você estado dum lado da barricada e os comunistas doutro, no 25 de Novembro, como é possível, agora, fundar a Associação 25 de Abril e estar lado a lado com eles?”
Respondi-lhe então “No 25 de Abril, nós estávamos dum lado, os fascistas estavam do outro. Você já fez um governo com o CDS, onde estão os fascistas (sim, porque eles não desapareceram de um dia para o outro…). Para mim, a barreira do 25 de Abril continua a sobrepor-se, a ser mais importante que a barreira do 25 de Novembro!”
E é isso que continuo a pensar…
Por isso, me sinto mais realizado, cada dia que passa, como responsável maior de uma associação onde convive a enorme maioria dos militares de Abril.
É de facto reconfortante sermos capazes de ultrapassar divergências, sermos capazes de colocar de lado factores menores que nos poderiam dividir e separar e, apesar de adversários em momentos difíceis e conturbados, sermos capazes de nos unirmos à volta do essencial, para continuarmos a luta iniciada em 25 de Abril, por um Portugal mais livre, mais democrático, mais justo, mais fraterno e em paz.

Lisboa, 25 de Novembro de 2015

Vasco Lourenço

uma pergunta extemporânea e sem interesse nenhum

E, agora, consumado que seja o governo do PS com o consabido apoio parlamentar do BE, do PCP, do PEV, do PAN e, muito provavelmente, do próprio PS, a coligação PàF mantém-se para quê?

novembro 24, 2015

Portugal (acróstico)

Por mares nunca dantes navegados
Ou porque tudo nele são sulcos já trilhados
Remos que nas ondas deixam rastos
Tantos como os braços e as velas e os mastros
Uns que apontam para os astros outros fundos
Guiados por se crer haver mais mundos
Além deste em que se pena e desespera


Lá ao longe há um futuro à nossa espera.

adopção aprovada


Raim on Facebook

novembro 23, 2015

e o senhor doutor Cavaco Silva, Aníbal, insiste, insiste...

Fica uma vez mais provado que um dos problemas que aflige este País é a incompetência atroz dos seus gestores. 

O senhor em funções de presidente da República quer mais esclarecimentos do senhor António Costa. O senhor de Boliqueime considera assisado o que assisado não é. 

O governo proposto é do PS. Ponto final, aqui.. e já vai para dois meses. 

Depois, vem a consideração de que tal circunstância conta com o apoio parlamentar de vários partidos. 

Não é um governo de uma qualquer coligação, chiça! É - vou dizer outra vez - um governo do PS. No caso, com garantias de apoio parlamentar maioritário.

Se será, em futuro mais ou menos longínquo, estável ou não esta solução governativa é coisa que não pertence às competências do senhor de Boliqueime nem de qualquer outro senhor que ocupe as mesmas funções. 

Será, tão-só, do foro íntimo e estrito das forças políticas envolvidas o relacionamento, presente e futuro, qualquer que ele venha a ser, que manterão entre si. Se não se entenderem, cairá o governo. Ou não será assim? O que é que não se percebe, aqui chegados? 

Por outro lado, se, um destes dias, o BE ou o PCP obtiverem uma maioria parlamentar em eleições, o que é que o senhor de Boliqueime faria se ainda cá morasse? Uma birra, a bater com as chancas no chão? Uma raivinha de dentes? Dar-lhe-ia uma sulipampa, quiçá o badagaio?

Mas que raio de abetardas nos vão caindo na sopa...! E é que, depois, com as asas ensopadas, não levantam voo nem por um decreto!

Há um Terror Maior...



Estamos assistindo, sobressaltados, a um dos males mais incompreendidos da Humanidade: A matança em nome do Ódio! Um Ódio camuflado de "amor" a alguma "coisa". 

A cada segundo àquelas atrocidades, certamente milhões se perguntavam: quem somos, imperfeitos mortais, para decretarmos Pena de Morte, indiscriminadamente, em nome de uma Fé? 

Mas há um outro tipo de Terror, que nos rodeia, tão maléfico quanto aquele que está deixando rastros nas vidas de tantas famílias enlutadas, mundo afora.

É um Terror assintomático. Cresce, de forma incipiente, mas nada percebemos. Ou fingimos não percebê-lo. Estamos ocupados demais com o nosso trabalho; com o dia a dia no salão de beleza; em adquirir um novo smarphone e tantas coisas que poderiam vir em segundo plano. Filhos sendo concebidos apenas por prazer, mas sem Amor. Filhos sendo trocados pela droga; pelas prisões; por outros relacionamentos que logo adiante também se desfazem.

Tenhamos a Família como nossa prioridade. Devemos estar atentos aos primeiros indícios de rebeldia incontrolada, e à dificuldade de impor limites e de distribuir obrigações.

Por outro lado, quando o Estado  finge que não existe a periferia; que teima em afirmar que inexiste a diferença entre ricos e pobres; que aplica suas leis  de forma desproporcional e injusta; que assola seu povo à miséria, privando-os dos seus direitos básicos de sobrevivência; que veda os olhos diante de uma corrupção que enlameia a educação, a alimentação, e até os rios, nossas fontes de riqueza... de alguma forma está criando descontentamento, e enfraquecendo a mente daqueles que poderiam apoiar esse mesmo Estado, quando aviltada a sua Soberania. 

Um Estado falido, com cenários de insegurança, onde prevalecem o conflito, as opressões econômicas, a extrema pobreza e a fome são armadilhas perfeitas para algumas "religiões", que prometem, muitas vezes, preencher essa carência do Estado, oferecendo redes de proteção e chances de ascensão social. 

E jamais  esqueçamos!

Em nome da Paz muitas "religiões" deixaram um banho de sangue em guerras, crimes e tantas atrocidades cometidos contra a Humanidade. Em nome das divindades supremas, o homem vem se matando há milhares de anos.

Cuidemos, também, desse Terror - na mesma dimensão - dentro de nossos lares. Em lugar do Respeito, do Zelo, da Admiração, do Companheirismo, as pessoas estão se alimentando de Ódio, e explodem a cada "não!". Foram acostumadas a interpretarem erroneamente o sentido exato de Liberdade.

É deste Terror maior que tenho medo. Porque ele dará lugar lugar a uma morte que não mata de imediato. É uma morte devagar. Os ossos do corpo assistem, diariamente, a carne se deteriorando. Enfraquecendo. E a mente, vulnerável, já não se sente forte para combater qualquer mal.

Nada substitui o Amor
(Imagem: Internet)


Mamãe Coruja



novembro 22, 2015

testemunhas...

afirmam que Cavaco recorreu ontem aos serviços de um conhecido vidente de Stª Comba 
Raim on Facebook

novembro 21, 2015

«Deus a falar contigo» - Espinosa

"Pára de rezar e de bater no peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.
Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. A minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso o meu amor por ti.
Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que a tua sexualidade fosse algo mau.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar o teu amor, o teu êxtase, a tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Pára de ler supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes ler-me num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... não me encontrarás em nenhum livro!
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais-me dizer como eu devo fazer o meu trabalho?!
Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... eu enchi-te de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como te posso culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso castigar-te por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar todos os meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade?! Que tipo de Deus pode fazer isso?!
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; isso são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeita o teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção à tua vida, que o teu estado de alerta seja o teu guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.
Eu fiz-te absolutamente livre. Não há prémios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um cartaz. Ninguém leva um registo.
Tu és absolutamente livre para fazeres da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso dar-te um conselho: Vive como se não houvesse. Como se esta fosse a tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.
E se houver, podes ter a certeza de que Eu não te vou perguntar se foste bem comportado ou não. Eu vou perguntar-te se tu gostaste, se te divertiste... do que mais gostaste? O que aprendeste?
Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas a tua amada, quando agasalhas a tua filhinha, quando acaricias o teu cachorro, quando tomas banho no mar.
Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja?
Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que agradeçam. Tu sentes-te grato? Demonstra-o cuidando de ti, da tua saúde, das tuas relações, do mundo. Sentes-te observado, surpreendido? Expressa a tua alegria! Essa é a maneira de me louvares.
Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para quê tantas explicações?
Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, a bater em ti."
Baruch de Espinosa
in «Ética demonstrada à maneira dos geómetras (Ethica Ordine Geometrico Demonstrata)»
"traduzido do Brasilês" por Paulo Moura

novembro 18, 2015

Paris, 13 de Novembro de 2015

não há céu nem mar
nem tanto azul
nesse tanto sangue rubro derramado
nem nos fica tanto assim
lá para o sul
a urgência do saber ser solidário

é tão rubro e é tanto o sangramento
desse jovem que estilhaços dilaceram
que o horizonte todo ele se avermelha
e inflama um olhar tão sempre à espera

e o sangue é igual nessa corrente
sem ter cor de pele
nem rosto
nem idade
e é um rio
que se espraia numa rua
qu’inda há pouco era o centro da cidade

é um rio
cujas margens em vertigem
nos fazem soar ao longe
na nascente
de Brecht
um poema recorrente:

Do rio que tudo arrasta se diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem


mas nem tudo é sempre igual
que tudo muda
só nos resta perceber
o que é diferente…

novembro 16, 2015

Um caso (elementar) de desonestidade intelectual

Declaração de interesse: sou um espectador atento e interessado do Governo Sombra.

Democraticamente, de um João Miguel Tavares (JMT) ouço atentamente o argumentário elaborado e bem arquitectado, ainda que errático e com frequência inconsistente. E isto é digno de registo apenas porque a personagem não é um humorista, como o Ricardo Araújo Pereira (RAP), mas um dos incontáveis opinion makers (que melhor seria chamar-lhes opinion shakers), em que, muito, muito, modestamente até eu me incluo, que mais não seja neste recanto opinativo que partilho, com gosto e com gozo, do blog Persuacção.

Ora, um comentário político não é mera pilhéria. É coisa para levar a sério, mesmo quando emitida com boa disposição em redor…

Vem isto ao caso de que, na sua mais recente emissão, e a propósito da crítica jocosa e inteligente que RAP fazia ao «desafio» alienígena de Passos Coelho para uma abstrusa revisão constitucional, JMT contrapôs – subliminarmente, é certo, mas com insistência, por três ou quatro vezes, ou seja, deliberadamente e com vontade de marcar presença – à argumentação crítica de RAP o «facto» de também Vasco Lourenço ter proposto uma revisão constitucional, esta para a possível destituição do Presidente da República.

A insistência de JMT, por demais óbvia, levou até RAP a referi-la, expressamente, por se ter sentido coagido a comparar ambas as propostas em pé de igualdade, em termos de disparate.

Ora, o que Vasco Lourenço disse sobre a proposta de Passos Coelho foi e cito:

Naquilo que considero uma tentativa de levantamento popular da chamada “maioria silenciosa”, vem agora Passos Coelho propor uma revisão da Constituição da República, oportunista e casuística, para abrir a hipótese de dissolução da AR e de convocação de novas eleições.
Como qualquer constitucionalista honesto explica liminarmente, tal hipótese é totalmente impossível e impraticável.
O que torna o simples levantamento dessa hipótese numa provocação desesperada e sem sentido.
Mas se, por absurdo, o golpe frutificar, sugiro e desafio tais personagens que aproveitem para incluir na Constituição uma norma que permita a destituição do PR. Solução que poderá passar pela convocação de um referendo, sob proposta de um número mínimo de eleitores (15.000, para imitar o máximo admitido para uma candidatura a PR ) - fim de citação e os sublinhados são meus. Só a um lobotomizado poderá escapar a ironia, ainda que agreste.
Como tenho a ideia de que JMT, para além de escrever, sabe ler, a sua descontextualização daquilo que foi escrito por Vasco Lourenço, esgrimido depois como disparate do mesmo calibre do de Passos Coelho é um caso de elementar desonestidade intelectual.

Agravado pelo facto de ter obrigado – é o termo – o seu companheiro de painel a assumir uma posição errada, em programa de grande audiência.

Espero que Ricardo Araújo Pereira lhe ferre a canelada devida em futuro programa, tão-só por uma razão elementar: - a ética! Para além de elementares regras de convívio.

Não falando em minudências do tipo do direito ao bom nome e da reputação, ainda que, sobre direitos constitucionais, já saibamos que é matéria em que a direita tem tendência a despistar-se um pouco.

Já agora, um ligeiro comentário mais: mesmo que houvesse um pingo de verdade no que JMT disse – o que não é o caso, como resulta claro –, subsiste uma ligeiríssima diferença entre os cidadãos envolvidos: um é o presidente de uma associação cívica e cultural emitindo uma opinião; o outro é só o primeiro-ministro de Portugal, ainda que em perturbações de identidade, a pretender mudar o curso do País.  Os pesos relativos não podem ser, honestamente, comparados em pé de igualdade.

Conclua-se, enfim, que até para se fazer uma pilhéria é conveniente ter arte, jeito e, muito convenientemente, elegância… o que não foi, manifestamente, o caso de JMT.