Declaração de interesse: sou um
espectador atento e interessado do Governo
Sombra.
Democraticamente, de um João
Miguel Tavares (JMT) ouço atentamente o argumentário elaborado e bem
arquitectado, ainda que errático e com frequência inconsistente. E isto é digno
de registo apenas porque a personagem não é um humorista, como o Ricardo Araújo
Pereira (RAP), mas um dos incontáveis opinion
makers (que melhor seria chamar-lhes opinion
shakers), em que, muito, muito, modestamente até eu me incluo, que mais não
seja neste recanto opinativo que partilho, com gosto e com gozo, do blog
Persuacção.
Ora, um comentário político não é
mera pilhéria. É coisa para levar a sério, mesmo quando emitida com boa
disposição em redor…
Vem isto ao caso de que, na sua mais
recente emissão, e a propósito da crítica jocosa e inteligente que RAP fazia ao «desafio»
alienígena de Passos Coelho para uma abstrusa revisão constitucional, JMT
contrapôs – subliminarmente, é certo, mas com insistência, por três ou quatro vezes,
ou seja, deliberadamente e com vontade de marcar presença – à argumentação
crítica de RAP o «facto» de também Vasco Lourenço ter proposto uma revisão
constitucional, esta para a possível destituição do Presidente da República.
A insistência de JMT, por demais
óbvia, levou até RAP a referi-la, expressamente, por se ter sentido coagido a
comparar ambas as propostas em pé de igualdade, em termos de disparate.
Ora, o que Vasco Lourenço disse
sobre a proposta de Passos Coelho foi e cito:
Naquilo
que considero uma tentativa de levantamento popular da chamada “maioria
silenciosa”, vem agora Passos Coelho propor uma revisão da Constituição da
República, oportunista e casuística, para abrir a hipótese de dissolução da AR
e de convocação de novas eleições.
Como
qualquer constitucionalista honesto explica liminarmente, tal hipótese é
totalmente impossível e impraticável.
O
que torna o simples levantamento dessa hipótese numa provocação desesperada e
sem sentido.
Mas
se, por absurdo, o golpe frutificar, sugiro e desafio tais personagens
que aproveitem para incluir na Constituição uma norma que permita a destituição
do PR. Solução que poderá passar pela convocação de um referendo, sob proposta
de um número mínimo de eleitores (15.000, para imitar o máximo admitido para
uma candidatura a PR ) - fim
de citação e os sublinhados são meus. Só a um lobotomizado poderá escapar a
ironia, ainda que agreste.
Como tenho a ideia de que JMT,
para além de escrever, sabe ler, a sua descontextualização daquilo que foi
escrito por Vasco Lourenço, esgrimido depois como disparate do mesmo calibre do
de Passos Coelho é um caso de elementar desonestidade intelectual.
Agravado pelo facto de ter
obrigado – é o termo – o seu companheiro de painel a assumir uma posição
errada, em programa de grande audiência.
Espero que Ricardo Araújo Pereira
lhe ferre a canelada devida em futuro programa, tão-só por uma razão elementar:
- a ética! Para além de elementares regras de convívio.
Não falando em minudências do
tipo do direito ao bom nome e da reputação, ainda que, sobre direitos
constitucionais, já saibamos que é matéria em que a direita tem tendência a despistar-se
um pouco.
Já agora, um ligeiro comentário
mais: mesmo que houvesse um pingo de verdade no que JMT disse – o que não é o
caso, como resulta claro –, subsiste uma ligeiríssima diferença entre os
cidadãos envolvidos: um é o presidente de uma associação cívica e cultural
emitindo uma opinião; o outro é só o primeiro-ministro de Portugal, ainda que
em perturbações de identidade, a pretender mudar o curso do País. Os pesos relativos não podem ser,
honestamente, comparados em pé de igualdade.
Também vi e ouvi isso. Não teve piadinha nenhuma, não senhor...
ResponderEliminarQuem é que no pleno uso das suas faculdades mentais pode dizer de forma honesta que leva Barabás, digo Passos Coelho a sério?
ResponderEliminar