Após os atentados de sexta-feira, dia 13 de novembro,
numa cidade de onde emergiram, não sem a violência associada à revolução de
1789, os ideais fundadores dos estados modernos: a liberdade, a fraternidade e a igualdade, comovi-me com a onda de
solidariedade que se espalhou pelas areias das redes sociais, quanto mais não
fosse pelo relativismo da proximidade, sobre o qual já falei numa das minhas
crónicas. Mas não disse que era Paris nem mudei a cor da minha foto. Do mesmo modo, assenti com as palavras de Hollande: o terrorismo não
vencerá; os terroristas não vão conseguir alterar quem somos; não irão
incutir-nos o medo e não vão tirar-nos a liberdade, que é tão nossa.
Contudo, observando o que desde então se tem passado
na Bélgica e ainda hoje em Paris, vemos que os terroristas venceram. A França
de agora não é a mesma, os franceses não conseguem ser os mesmos, o medo existe
e a liberdade não está no mesmo volume de outrora. Ao trípode da cidadania liberté, fraternité e égalité
sobrepõe-se a máxima sécurité, sendo,
então, os três valores da divisa francesa reduzidos a um.
Um país que está em estado de emergência durante três
meses perde essa identidade e os cidadãos veem secundarizados os seus direitos
em favor de um ‘bem maior’: a segurança do estado. Qualquer pessoa pode ser
intercetada e revistada na rua; qualquer casa pode ser invadida sem mandato do
ministério público e todas as formas públicas de manifestação estão proibidas.
Perante o estado, todos os cidadãos são agora suspeitos, menos quem está
envolvido no seu controlo e entre todos existe um clima de desconfiança assente
na roupa, na cor da pele, na barba e nos olhos. O Papa Francisco alerta-nos
para o pior que pode acontecer se da diferença nascer o ódio, e isso já está a
acontecer. Na minha visão do mundo, estas formas consubstanciam a perda de
liberdade, a quebra da fraternidade e impossibilitam a igualdade.
A letra da Marselhesa não encontra hoje eco e neste
último domingo de novembro não faz sentido gritar ‘Aux armes, les citoyens!’
porque o que se vê é ‘Aux armes, la police et les militaires!’ A
segurança de um povo a isto obriga e caberá aos líderes encontrar o meio-termo,
o fiel que permita equilibrar essa balança de quatro pratos de modo a
garantirem a segurança sem obliterarem os princípios fundadores dos direitos
humanos.
É por isso que quando ouço e volto a
ouvir Hollande a garantir que os terroristas não vencerão e a França não cederá
ao terror, me vejo a questionar: Como? Importa-se de repetir?
A França não está nada a cumprir os seus ideais, por estes dias...
ResponderEliminarHá estes efeitos perversos (ou estudados) nestas coisas dos terrorismos à la carte. Bush era atrasado mental? Ah, lá vêm as Torres Gémeas para «salvar» uma popularidade inexistente. Hollande era menos do que uma eminência parda? Ah, que lá veio o Bataclan e tanto sangue derramado para lhe proporcionar uma imagem de dureza pós-desgraça... E não se vai muito além disto, aparentemente... Dizes, caro Antonino, que na tua «visão do mundo, estas formas consubstanciam a perda de liberdade, a quebra da fraternidade e impossibilitam a igualdade» e eu assino por baixo.
ResponderEliminarEu assino por todo o lado.
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