Gosto de Sampaio da Nóvoa. Sempre apreciei ouvi-lo, em
qualquer fórum onde tive tal oportunidade. Muito longe, até, de ser candidato
presidenciável. E, até, sem a noção ou necessidade de qualquer elemento prévio
de comunhão de ideais.
Claro que «gostar de ouvir alguém» na fase da vida em que me
encontro é muito mais do que mera opinião formal. Trata-se de gostar de apurar
cumplicidades, sim, mas a par da proposição de infinitos desafios. É, se
quiserem, achar graça – no mais complexo significado do termo – ao que nos é
exposto por uma miríade de razões onde, de súbito, nos descobrimos (pelo menos
na aparência) muito próximos de alguém.
Gosto de Sampaio da Nóvoa exactamente por esse conjunto de
razões que o afastam da tão desgastada fachada dos politiqueiros do costume e
da nossa praça.
Já me dizem alguns que o que ele quer é tacho e, chegado ao
poleiro, há-de ser igual aos demais… Pois será. Mas, até lá, convenhamos que
nem todos fazem questão de pertencer à equipa dos ladrões ou traidores à pátria.
Já ele corporiza algum manancial de esperança que me é útil como o ar que
respiro. E que quase todos os demais proto-candidatos não contêm.
É, entretanto, um exercício de estilo curioso e não menos
interessante ir apurando o que dele presumem tantos esclarecidíssimos opinadores
da nossa praça. Marcelo, professor, foi nisso exímio, desde logo exercendo uma
pressão estrondosa para o situar ou circunscrever, politicamente, ali algures
entre os «radicais de esquerda», para que a sua candidatura pareça esgotar-se
na abrangência desses mesmos sectores da nossa política nacional.
Esquecem todos eles que qualquer candidatura presidencial
tem subjacente a noção de que se destina ao exercício de magistério em relação
a todos os portugueses, coisa que o actual presidente não pratica, ignora ostensivamente
e tem raiva a quem lho recorde.
Apontar como defeito o facto de Sampaio da Nóvoa não ser
conhecido da maioria da população portuguesa – como se não tivesse já sido
inventada a televisão – leva-nos a quê? À candidatura de Nossa Senhora de
Fátima ou será antes à de Quim Barreiros, qualquer deles indubitavelmente melhor
posicionados em termos de audiências?
Dizer-se, também, que tal candidatura não será viável sem o
apoio explícito do PS também será de alguma perversidade, mesmo se admitirmos
que a asserção é verdadeira. Pois que interessa isso ou que mais-valia
transporta em si em prol da verticalidade do candidato?
E não conheço, na verdade, a Sampaio da Nóvoa filiação
partidária de qualquer ordem. Mas isso será alguma doença? A cidadania não se
esgota nos partidos, diz-se. E não há tantos locais e/ou profissões, ligadas a
opções de vida, onde a cidadania é exercida de corpo inteiro? Então, em que
ficamos…?
Preso por ter cão e preso por o não ter, isso sim é que me
parece ser um estatuto em que Sampaio da Nóvoa não se enquadra nem se deixará
cair. Por ser e saber ser, sem necessidade de muletas ou anteparas, que não
sejam as de uma vida que é a sua.
Olhando para mim e apurando que há mais de quarenta anos não
desenvolvo qualquer actividade de cariz partidário, venha de lá o primeiro a
dizer-me que me falta estaleca opinativa ou desempenho cívico.
Enfim, sem conhecer muito bem a personagem, estou já a
resvalar para o apoio sem condições a Sampaio da Nóvoa, é verdade. É verdade,
sim, embora não seja democraticamente muito saudável…
Mas confesso que ouço e leio e vejo, danado, o esgravatar na
lama por parte de tanto videirinho à cata de excremento argumentativo que lhe
sustente a cupidez, que estou cada dia mais à vontade para assumir o lado da barricada onde me
quero encontrar.