abril 06, 2015

Direito à opinião

Gosto de Sampaio da Nóvoa. Sempre apreciei ouvi-lo, em qualquer fórum onde tive tal oportunidade. Muito longe, até, de ser candidato presidenciável. E, até, sem a noção ou necessidade de qualquer elemento prévio de comunhão de ideais.
                   
Claro que «gostar de ouvir alguém» na fase da vida em que me encontro é muito mais do que mera opinião formal. Trata-se de gostar de apurar cumplicidades, sim, mas a par da proposição de infinitos desafios. É, se quiserem, achar graça – no mais complexo significado do termo – ao que nos é exposto por uma miríade de razões onde, de súbito, nos descobrimos (pelo menos na aparência) muito próximos de alguém.

Gosto de Sampaio da Nóvoa exactamente por esse conjunto de razões que o afastam da tão desgastada fachada dos politiqueiros do costume e da nossa praça.

Já me dizem alguns que o que ele quer é tacho e, chegado ao poleiro, há-de ser igual aos demais… Pois será. Mas, até lá, convenhamos que nem todos fazem questão de pertencer à equipa dos ladrões ou traidores à pátria. Já ele corporiza algum manancial de esperança que me é útil como o ar que respiro. E que quase todos os demais proto-candidatos não contêm.

É, entretanto, um exercício de estilo curioso e não menos interessante ir apurando o que dele presumem tantos esclarecidíssimos opinadores da nossa praça. Marcelo, professor, foi nisso exímio, desde logo exercendo uma pressão estrondosa para o situar ou circunscrever, politicamente, ali algures entre os «radicais de esquerda», para que a sua candidatura pareça esgotar-se na abrangência desses mesmos sectores da nossa política nacional.

Esquecem todos eles que qualquer candidatura presidencial tem subjacente a noção de que se destina ao exercício de magistério em relação a todos os portugueses, coisa que o actual presidente não pratica, ignora ostensivamente e tem raiva a quem lho recorde.

Apontar como defeito o facto de Sampaio da Nóvoa não ser conhecido da maioria da população portuguesa – como se não tivesse já sido inventada a televisão – leva-nos a quê? À candidatura de Nossa Senhora de Fátima ou será antes à de Quim Barreiros, qualquer deles indubitavelmente melhor posicionados em termos de audiências?

Dizer-se, também, que tal candidatura não será viável sem o apoio explícito do PS também será de alguma perversidade, mesmo se admitirmos que a asserção é verdadeira. Pois que interessa isso ou que mais-valia transporta em si em prol da verticalidade do candidato?

E não conheço, na verdade, a Sampaio da Nóvoa filiação partidária de qualquer ordem. Mas isso será alguma doença? A cidadania não se esgota nos partidos, diz-se. E não há tantos locais e/ou profissões, ligadas a opções de vida, onde a cidadania é exercida de corpo inteiro? Então, em que ficamos…?

Preso por ter cão e preso por o não ter, isso sim é que me parece ser um estatuto em que Sampaio da Nóvoa não se enquadra nem se deixará cair. Por ser e saber ser, sem necessidade de muletas ou anteparas, que não sejam as de uma vida que é a sua.

Olhando para mim e apurando que há mais de quarenta anos não desenvolvo qualquer actividade de cariz partidário, venha de lá o primeiro a dizer-me que me falta estaleca opinativa ou desempenho cívico.

Enfim, sem conhecer muito bem a personagem, estou já a resvalar para o apoio sem condições a Sampaio da Nóvoa, é verdade. É verdade, sim, embora não seja democraticamente muito saudável…

Mas confesso que ouço e leio e vejo, danado, o esgravatar na lama por parte de tanto videirinho à cata de excremento argumentativo que lhe sustente a cupidez, que estou cada dia mais à vontade para assumir o lado da barricada onde me quero encontrar.  


4 comentários:

  1. É bom sabermos que não estamos sós.

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  2. se os cães ladram é porque a caravana passa...

    abraço

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  3. Quando se olha à distância, todos os quadros expressam o que são e não o que parecem quando se está no meio da convulsão das pinceladas que o tempo se encarregará de fixar.
    Algures no futuro se fará a História mais ou menos correcta e desapaixonada, embora sempre subjectiva, deste período da nossa vida colectiva.
    Ficará para a História que se perseguiu durante dez anos uma figura pública que acabou detida por suspeitas e indícios, enquanto outros sobre os quais havia certezas, nunca foram sequer indiciados de coisa alguma. Milhares de milhões em falências fraudulentas envolvem figuras muito próximas do actual PR, ele mesmo protagonista de diversas irregularidades que para qualquer cidadão seriam apontadas como graves.
    O caso da corrupção dos submarinos, onde uma década de investigações apurou centenas de documentos, será visto no futuro como uma espécie de "Caso Camarate".
    Tendo havido condenados na Alemanha, por cá foi arquivado de repente, e curiosamente pelo mesmo magistrado que detém o outro para investigação, tendo este recusado - apesar da extensa documentação que as investigações apuraram-, a reabertura do processo.
    Conclusão? A lei é igual para todos, mas há uns mais iguais do que outros.
    Os únicos culpados do caso dos Submarinos, são assim... eles próprios.
    Ficará depois do assentar da poeira dos tempos, que o Estado foi refém de uma vaga, do qual o mediático Relvas sobressairá como uma crista de espuma efémera, mas reveladora da força que sob a linha de água, tudo mexeu.

    Se acredito em Sampaio da Nóvoa?
    É preciso acreditar e não tenho razões para para perder a réstia de Fé que ainda sobra.
    Aliás, as piruetas pueri-patéticas do Marcelo e de outras figuras do mesmo quadrante em relação a ele dão-me a sensação de que o consideram e o levam a sério.
    Quem desdenha quer comprar, diz o povo.
    O que têm dito tem assim o efeito contrário ao que quiçá pretendem, e a desqualificação atirada sobre a pessoa, tem tido para mim o efeito de boomerang: quanto mais atiram mais acertam neles mesmos e mais vontade tenho de votar na diferença.
    Tenho esse direito que é mais do que isso, um dever e esta choldra já cheira mal....

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