… Já lá vai para uma mão-cheia de anos.
A verdade é que, da miríade de comentadores, economistas,
jornalistas e outros mentirosos e/ou vigaristas em que a nossa «comunicação»,
pública ou privada, é fértil, não há um só que venha a terreiro denunciar a
falácia que consiste, no que às pensões de reforma se refere, em articular aquilo
que se desconta hoje (vamos chamar-lhe assim para mais elementar
conhecimento de todos, a começar por mim…) com aquilo que se recebe hoje.
Vejamos, todo o sistema foi desenhado no sentido único e
exclusivo de que o desconto que cada indivíduo fizesse ao longo da sua vida
activa, acrescido do desconto que a referida entidade patronal seja, também,
obrigada a fazer, integram o que esse mesmo indivíduo irá receber aquando da
sua passagem à reforma.
Obviamente, este esquema acima enunciado decorre através de regras
entretanto instituídas, de suposta equanimidade, e que alguns líricos chamam
«contrato social», mas contabilizando até todos aqueles que, por vícios do
anterior regime (e que, em tantos casos, se prolongaram pelo regime actual,
diga-se) nunca tiveram sequer oportunidade de descontar mas que, chegados ao
fim da vida activa, merecem a dignidade que elementares conceitos de humanidade
o 25 de Abril nos trouxe e a Declaração Universal dos Direitos do Homem nos confere.
E a verdade é que, montado o sistema, ele sempre foi
saudável e sustentado, e, muito extraordinariamente, ao longo dos anos
revelou-se mesmo excedentário, em termos de proventos, coisa que, bem vistas
todas as circunstâncias, era motivo de orgulho nacional e, afinal, um pilar,
também, da Democracia, pelo que representava de promoção de equidade e
correlativas dignidade e coesão nacionais.
Entretanto, os sucessivos governos que têm vitimado Portugal
descobriram esta verdadeira «mina de açorda»: um fluxo de dinheirinho fresco, à
mão de semear e sem guardiões à porta. E entrou-se no fartar vilanagem que nos
é tão típico. Desde os desvios, chamemos-lhes assim, «funcionais» a bem de orçamentos dignos de contorcionistas
de circo, até investimentos em «produtos tóxicos», sem rei nem roque, eis que
se esvaziam, até à insanidade, os cofres que estavam tão confortáveis.
Agora, aqui-del-rei que há muitos velhos a receber e poucos
jovens a contribuir, situação alta e escandalosamente agravada pelas políticas
suicidárias que têm recaído sobre o mercado do trabalho por força das quais, de
súbito, aquela escandaleira se torna gritante hoje, enquanto os seus fautores apenas esperavam essa
escandaleira para daqui a uns decénios.
Carecas descobertas, há que criar um «conflito geracional»
articulado com uma «crise demográfica» para «provar» que a Segurança Social,
ASSIM, não é sustentável.
Ah, aí estamos todos de acordo! Ainda para mais se
acrescentarmos «pormenores» como as reformas principescas atribuídos aos
membros das seitas envolvidas, que em meia-dúzia de anos (por vezes, nem tanto…),
se vêem a auferir reformas impensáveis para qualquer dos demais comuns mortais
que descontaram uma vida inteira.
Mas quem diz que tem de ser ASSIM? Se o Estado, através dos
tais desgovernantes, delapidou indecente e ilegalmente o dinheiro que não lhe
pertencia, não lhe resta mais nada senão repor o que esbanjou, pelo menos com a mesma celeridade com que
acorre às maleitas de BPN, BES e quejandos.
Claro que a complexidade do assunto será bem maior, mas esta
não deixa de ser a pedra de toque de todo o problema e qualquer aldrabão que o
sonegue não é mais do que isso mesmo: um reles aldrabão que, por inconfessáveis
desígnios, fez mão-baixa do que não lhe pertencia e, agora, ainda quer roubar
(e tem conseguido…) a miséria que a imensa maioria dos reformados portugueses
aufere para tapar o buraco que ele próprio criou. Será, pois, também, nada mais
que um reles ladrão, para além do qualificativo acima.
Entendamo-nos: quando nos vêm com tretas de que aquilo que
eu pago também se destina aos desgraçados que nunca descontaram… bem, esses
desgraçados eram-no já antes de 25 de Abril e a maioria, pela ordem natural das
coisas, já não aufere nada de lado nenhum. É que, vendo bem, já passaram mais
de quarenta anos… e não há assim tantos idosos centenários.
Não, hoje, os novos «desgraçados» são muitos políticos e gestores
e banqueiros e etc., que constituem a pandilha dos interesses instalados e que
se alcandoram a chorudas reformas para as quais nunca descontaram um cêntimo,
gozando despudoradamente com a nossa cara de parvos e de conformados. E, sim, é
para esses que eu estou a pagar, sem certeza nenhuma de que, quando chegar a
minha vez de passar à reforma, tenha qualquer coisa que se aproxime sequer
daquilo que me é devido e foi anunciado.
E, sim também, são esses mesmos os que contribuem para que
as novas gerações tenham o seu futuro hipotecado, com a permanente ameaça do
esgotamento da Segurança Social, pelo que são duplamente culpados.
E se vier daí alguém perorando que esta minha opinião é
demagógica, que mo venha dizer na cara, pois eu ando com tanta raiva a essa
gente e as eleições ainda demoram tanto que eu preciso mesmo é de um bode
expiatório para descarregar frustrações e outras inquietudes…