dezembro 09, 2012

«pensamentos catatónicos (285)» - bagaço amarelo

O capitalismo é a antítese do Amor.
As pessoas casam-se para pagarem a conta da luz, da água e do gás a meias. Dizem que a vida vai mais ou menos quando conseguem manter a prestação do carro e da casa. Sorriem quando lhes é perguntado se têm as contas em dia, abanam os ombros descontentes quando lhes és perguntado se ainda estão apaixonados um pelo outro. Do Amor pode-se abdicar, do pagamento das contas não.
O Amor até é dispensável, a contabilidade é que não. Somos geridos com falta de Amor e é com ele que pagamos a factura dessa asneira. O problema é que é mesmo assim porque escolhemos viver assim.
Os Amantes deixaram de perceber que a forma como decidimos distribuir a riqueza que um país produz é uma concepção. O Amor, pelo contrário, é um impulso natural. Apaixonamo-nos e pronto. Nem sequer sabemos porquê.
Pelo contrário, sabemos muito bem porque é que pagar as contas é difícil. Decidimos que nesta vida é cada um por si e outros que se fodam. A não ser, claro, que o outro esteja casado connosco. Mas aí não é um Amante, é um sócio de capital. Podíamos ter uma lógica em que todos pagavam as contas de todos. Pelo menos aquelas que são essenciais: a da água, a do gás, a da electricidade, a da saúde, a da educação e a da mobilidade. Ficávamos todos com disponibilidade para nos apaixonarmos. Mas não.
Cada um por si significa que ninguém é por ninguém, e que um destes dias ninguém consegue pagar contas. Quando esse dia chegar, também ninguém conseguirá Amar.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
e
Blog «a funda São»

8 comentários:

  1. Mais uma crónica actual e que se irá manter assim e pior ainda é que sem amor ninguém arrisca a ter filhos e caminhamos para o fim natural desta sociedade.
    A juventude hoje não é diferente da de ontem. Somos todos iguais. As condições políticas obrigam-nos a jogar desta forma.
    Quando não se criam empregos com estabilidade e futuro os jovens não podem arriscar pois de um mês para o outro ficam sem nada e com o desemprego não podem pagar nem o pão que comem.

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    1. E os pais deles que os mantenham no ninho...

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    2. ... se tiverem com que os manter...

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    3. ... e são tantos os que não podemm... nem a eles próprios...

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  2. Se o Amor não fosse tão forte, não existiria base para o lançamento de impostos e contas.
    O conforto é a cama do amor, e pasme-se o que se sofre em desamor para que essa base se mantenha, mesmo que o amor seja só uma lembrança...

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    1. Ou seja, o Gaspar explora-nos com Amor?!

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    2. Algo assim como dizes, só que dito de outra maneira; usa esse sentimento poderoso e incontornável como elemento de suporte estratégico.

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