dezembro 16, 2012

Wikileaks e Anonymous: algo mudou para pior


Nutri simpatia pelas suas causas desde o dia em que tomei conhecimento da sua existência e não escondo a minha desilusão por perceber que nenhuma das duas organizações resistiu a dois pecados mortais para as boas intenções: o diabo da arrogância e o demónio da tentação capitalista.
Mas se me caiu mal a paywall com a qual a Wikileaks entendeu a dada altura impor a venda dos seus serviços sob a capa de generosas doações, limitando o acesso à informação aos que possuam poder de compra para lhe aceder, a guerrinha entre os Anonymous e uma igreja evangélica norte-americana que os hostilizou esclarece-me quanto à falta de controlo na mira daqueles a quem admirava pelo tiro certeiro.

Num mundo no qual temos razão para temer tanto a inépcia como o abuso de quem detém o poder, e sobretudo neste último caso, acolheria sempre com agrado uma reacção da sociedade civil como a Wikileaks e os Anonymous protagonizam.
Mas atenção: estou a falar dos princípios que pareciam representar e agora, no meu entender, violaram.
Não faz sentido para mim que a Wikileaks tenha nascido para oferecer ao mundo o livre acesso a informação confidencial que precisamos conhecer para sabermos com que lidamos no poder político e, talvez em desespero de causa mas ainda assim, esse acesso passe a gozar de uma liberdade condicionada pela carteira dos cidadãos.
Contudo, a retaliação anunciada como bem sucedida pelos Anonymous contra a Westboro Baptist Church (WBC) arrisca transformar uma organização de defesa de valores primordiais numa milícia capaz de intimidar pelo medo qualquer cidadão ou instituição que os hostilize.

A minha desilusão é sincera, pois começam a rarear as causas e os projectos capazes de nos fornecerem a esperança de equilibrar a parada com quem oprime ou tenta silenciar os seus opositores.
Nesse aspecto, os Anonymous constituíam para mim um bastião sagrado, um recurso valioso para contrabalançar a degradação das democracias e manter vigilância apertada sobre os abusos de poder, nomeadamente sobre as tentativas para silenciar os cidadãos. Nada menos do que isso.

Como posso, depois do episódio WBC, apoiar uma organização que acaba de me provar que, em caso de discordância com alguma das suas operações ou mesmo por ter acordado num dia mau, amanhã o silenciado posso ser eu? 

5 comentários:

  1. Pois... os Anonymous são... muito dispersos...

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  2. Todas as formas de contra-poder transportam esse pecado original, esse perigo de tornarem-se também Poder

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  3. Infelizmente, não são os únicos, nem os exemplos nem as organizações. O contra também é Poder e deve estar sujeito à mesma ética e mesmos princípios. E quanto mais anónimas as organiz-ações, menos escrutináveis.

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    Respostas
    1. O que a gente faz
      É por debaixo dos pano
      Prá ninguém saber
      É por debaixo dos pano
      Se eu ganho mais
      É por debaixo dos pano
      Ou se vou perder
      É por debaixo dos pano...

      Ney Matogrosso

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