O BES, instituição-pilar do
regime – seja ele qual for, na infinita capacidade adaptativa desta majestosa e
aristocrática instituição – foi atacado por um vírus de âmbito conspicuamente familiar
e apenas extensivo a escassos e estreitos círculos de relações íntimas, cujo
nome científico, ainda não estabilizado, poderá ser denominado o zanga-se-a-comadrella. A comunidade
científica tem-se visto grega (logo, com pouco crédito no mercado) para
descobrir as fontes do surto epidémico. A doença manifesta-se pelo avassalador
enriquecimento dos elementos da família Espírito Santo, enquanto os pais e os
filhos da restante trindade deste País assistem, pagando, ao descalabro
institucional promovido e aconchegado por quem, por acaso, é chorudamente pago
para evitar que estas coisas aconteçam…
Já o governo português,
porventura por contaminação dos corredores do poder, com muito menos cuidados
de higiene por força dos sucessivos cortes orçamentais e despedimentos na
função pública, até no pessoal da limpeza ou principalmente aí, tem sido
avassalado por um surto de idiotella,
cujos sintomas mais graves e notórios se fizeram manifestar em Pires de Lima,
senhor ministro da Economia, em plena Assembleia da República, sintomas esses
que se caracterizam por mudança súbita de voz, que se torna infantilmente
aflautada, raciocínio errático e de recuo muito limitado, compondo um quadro de
esquizofrenia preocupante que, como bem nos lembramos, ocasionou recentemente
comportamentos muito análogos, ainda que inconseguidos, por parte da própria presidente da Assembleia.
Do mesmo modo, a senhora ministra
da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, revela avassaladores indícios de mania da
perseguição, infundada embora, que se atribui ao mesmo vírus, o qual pode
desenvolver desvios comportamentais de diversa índole, mormente quando agravada
por recurso a plataformas informáticas – lembremo-nos da esterqueira que se
aloja, nomeadamente, nos teclados dos computadores após utilização prolongada
(unhas, migalhas de pão, cabelos, clipes usados para escarafunchar ouvidos e/ou
outras partes anatómicas…) ou, mesmo, da insegurança e ansiedade digitais
geradas pelos écrans tácteis – articulado com reformas estruturais no sistema
judicial de tal modo abissais, que nem se lhes vê o fundo…
Estas manifestações desviantes tiveram,
como é bem sabido, uma especial incidência no Ministério da Educação, numa
deriva que se prolonga há mais de dois meses sem internamentos nem fim à vista.
A Protecção Civil, por seu lado,
tem vindo a ser vitimada pelo vírus estranho e perverso denominado empanicadella no seu afã de manter os
cidadãos a par daquilo que parece ser uma portentosa e quase diária hecatombe
meteorológica… mas afinal nem tanto. A doença manifesta-se na constância e
assiduidade de avisos amarelos e laranjas espalhados pelo País de cada vez que
cai um aguaceiro em qualquer ponto do dito, passando geralmente ao lado das
autênticas trombas de água com que o cidadão comum tem vindo a ser presenteado
e para as quais há escasso ou nulo aviso. Prevê-se que em dia de problema sério
e generalizado, ninguém lhes ligue nenhuma, pensando tratar-se de mais algum
acesso viral naquelas cabecinhas preocupadas…
Por outro lado, a Presidência da
República parece infectada por um estranho e incógnito vírus, que leva o seu
principal agente a condecorar hoje personalidades por alegados altos feitos para,
amanhã, se questionar, meditabundo, sobre a gritante incompetência dessas
mesmas personalidades. Há quem lhe chame boliqueimella,
mas esta denominação carece de contorno científico… Porém, o cidadão atónito
observa que foi apenas há cerca de seis meses, em 10 de Junho, mais
propriamente, que Zeinal Bava foi condecorado com a Classe do Mérito Comercial (Grã-Cruz), que se destina a distinguir «quem haja prestado, como empresário ou
trabalhador, serviços relevantes no fomento ou na valorização do comércio, do
turismo ou dos serviços» pelo senhor presidente da República. Há
dias o mesmo senhor presidente questionou o mundo sobre «o que é que andaram a fazer os accionistas e os gestores» da PT»? Lá
está…é o vírus!
Mas um dos vírus que mais me tem
atormentado – devo confessá-lo – tem especial incidência no pão nosso de cada
dia. No pãozinho, esse mesmo, o que nos acompanha o pequeno-almoço e restantes
refeições (para quem as tenha). Um homem adquire um pão na mercearia ou na
padaria, no supermercado ou no café do bairro, e o resultado é sempre o mesmo:
o pão é um amontoado de buracos. Não se pode fazer dele a bem-aenturada
torradinha, nem espalhar uma colherzinha de mel no faneco sem que os
ingredientes se escoem por toda aquela imensidão de buracos, onde devia
encontrar-se miolo.
Eu tenho muito cá para mim que
isto se trata de uma manifestação de panditismo descarado, porventura
proporcionado por algum vírus gourmet
com especial predilecção pelo miolo do pão e que o deixa todo esburacadinho,
coitado. Já me informaram que aquilo era água a mais na massa de padeiro, que
propicia um espaventoso aspecto exterior, mas sem qualquer conteúdo, pelo que a
dar-se-lhe algum nome científico eu sugeriria, talvez, casa-da-segredella – estão a ver, não estão? Espavento exterior sem
conteúdo… eheheh, esta foi de mestre (de
obras).
Hoje mesmo, mal aberto o jornal
do dia, e salta a notícia de que diversos elementos ligados ao Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras terão sido atacados por um vírus de goldella, vírus esse que se manifesta
pelo aparecimento intempestivo de chorudas maquias de numerário de proveniência
uma vez mais duvidosa e cujo foco infeccioso não é de fácil circunscrição…
E de muito mais haveria a
referir, mas não quero incomodar-vos à exaustão.
Mas, agora, num registo sério,
pois o que para trás fica dito não passa de um chorrilho de brincadeiras com
que vamos sendo lixados, como terão reparado, deixo-vos esta reflexão:
- antes de mais, interessa saber
que não me atrevo, por razões claras e óbvias do respeito que me merece o
sofrimento alheio, a ser cínico ou, sequer, irónico referindo-me àquela
enfermidade que, na zona de Vila Franca de Xira, tem vitimado centenas de
concidadãos.
Não posso, entretanto, deixar de
considerar, a este respeito, que, se temos um governo que legisla, já em 2013,
no sentido de deixar de tornar obrigatórias determinadas auditorias ou
inspecções a instalações de empresas privadas cuja actividade é susceptível de
gerar subprodutos perniciosos para as populações circundantes, este caso, para
além de se tratar de urgentíssima situação de saúde pública, não deixa de ter
flagrantes contornos de caso de polícia. Pelo menos, assim me recomenda o
senso-comum…
Haverá, ainda, tribunais e
sistema judicial (para além de outras minudências…) a funcionar em Portugal ou
terá já tudo sido diluído nestas viroses e estamos todos ao deus-dará, como soe
dizer-se, e apenas nos resta ir sobrevivendo até ao momento da nossa medieval, desconsolada,
desprotegida, indigna e irremediável morte não assistida?