janeiro 11, 2015

INTOLERANTES COM A INTOLERÂNCIA


Nem todos sabem, mas eu sou mesmo um rapaz natural das berças, de espírito fechado e bem tacanho, especialmente até aos 18 anos. Claro que muito devo à terra e aos meus, mas muito daquilo que eu hoje sou como ser pensante devo-o a uma pessoa que pouca gente conhece e quando falo do seu nome fora do meio académico todos perguntam: 'Alberto quê?'
No longínquo ano de 1984, segui de Lamego (de uma aldeia simples) para Lisboa, em cuja faculdade de letras tinha entrado. Foi um choque sem conto; senti-me por lá sozinho, perdido, sem saber o que por lá faria. Fui sobrevivendo e a meio do semestre fui obrigado a alterar uma cadeira de Literatura por uma de Cultura Portuguesa. Tinha duas opções: ou António José Saraiva (sim, o pai daquele meio jornalista que preferia dar os 100 milhões de euros ao Belmiro do que a 100 mil pobres) ou Alberto Ferreira, figura menos mediática, mas de uma humanidade sem limites.
Quem foi (é) Alberto Ferreira? Podem ver o seu papel na cultura portuguesa na wikipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Ferreira . Mas não é bem deste perfil que eu quero falar. Eu quero falar-vos de um homem que foi preso pela pide; um homem que caminhava todo torto; um homem que suplicava para lhe levarmos a pasta; um homem que tinha sofrido estirações na sede da PIDE e, por isso, tinha as vértebras presas com agrafos. Foi ele um homem que um dia me chamou 'diamante em bruto' (simpática maneira de dizer que eu era um saloio com potencial) e num outro dia me disse que o Homem tem de ser tolerante com tudo e com todos. Abria uma exceção: só não se podia ser tolerante com os intolerantes. E isso marcou-me muito.
Escrever, discordar, caricaturar, criticar, satirizar não é ser intolerante; ser intolerante é não permitir que o outro viva porque não tem a mesma ideia que eu tenho. Isso é ser intolerante. São esses intolerantes que algumas bestas quadradas tentam justificar. E reparem, ao chamá-las 'bestas quadradas' eu estou a ser tolerante, pois permito-lhes esse privilégio de o serem. Tolerância é isto!

8 comentários:

  1. Muito bom, ó saloio! Já não és tão bruto como diamante!

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  2. Lá tás tu a chamar nomes intolerantes a um tolerante :)

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    1. É verdade, Charlie, esta gaja só me atormenta... O que vale é que a tolerância dela é funda.

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    2. A minha tolerância pode ser funda mas não é larga!

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    3. Bem, por acaso não és a Pedra Bruta encontrada aqui------->> chamamamae.blogspot.com.br/2014/12/pedra-bruta.html

      rsss

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    4. Só vi isto agora. Sou tão bruta :O)

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  3. Bestas quadradas parece-me bem. Vê lá tu se eram redondas... Assim, sempre empancam nalgum obstáculo e já dali não saem.

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    1. Esqueces-te de um detalhe: se chegam ao poder, a quadratura também os torna de difícil remoção...

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