Expurgada da EDP pela cavacal figura aquando da privatização desta empresa, lá pelos idos de 90, a REN (Rede Eléctrica Nacional) sempre saltitou entre o público e o privado numa lógica sem qualquer espécie de lógica que não fosse o maná que pode constituir uma empresa de tal modo estratégica, como ela é.
Lembremo-nos, por exemplo, de que naquela fúria privatizadora inicial, também ela foi privatizada, vindo pouco tempo depois a ser «recomprada» pelo Estado, em mais um negócio de milhões onde muitos ganharam mas perdeu o país, pela liminar razão de se ter assumido que uma empresa daquele calibre e interesse estratégico não poderia estar em mãos de privados.
Sem entrar em minudências, aliás sempre muito pouco claras nestas artimanhas politico-financeiras, acompanhei com alguma curiosidade a evolução deste disparate, idêntico a muitos outros que têm vindo a ser perpetrados por todos os vendilhões que se têm entretido a delapidar este país e a que a nossa falta de bom senso se acostumou a chamar de «governantes».
É assim que, por mera cautela para convencimento dos seus trabalhadores, foi mantida a estes a assistência médica – parte integrante do Acordo Colectivo de Trabalho da EDP – quando, na verdade, o seu estatuto se tinha diferenciado significativamente e o novo enquadramento legal para tal situação, no mínimo, carecia de melhor atenção.
Certo é que manda quem pode e, havendo interesse, tudo se faz, tudo se cozinha.
Entretanto, o estatuto da REN, enquanto empresa pública, sempre vogou naquele mar de insanidade de quem colhe do público o pior e do privado o vício. De ambos se colhem os benefícios todos para alguns poucos que se sentam nas cadeiras dos mais altos patamares.
É, pois, neste contexto que se apura ter a REN, tal como muitas empresas privadas, um seguro cujos beneficiários são os seus gestores e alguns funcionários ditos «de topo», seguro esse destinado a cobrir acções decorrentes do desenvolvimento da sua acção interna.
Isto é, e se bem se entende o conceito: se um gestor desenvolve, por suposição, actos de gestão danosa e, por isso, é chamado à barra dos tribunais, tem ainda assim o respaldo de um seguro que lhe permitirá esgrimir ou «defender-se» contra os interesses da própria empresa e pago principescamente, diga-se, pela empresa que terá prejudicado.
Isto sustentado com o que será, no caso, argumento falacioso, de que um arguido ainda não é um acusado…
Ora, se isto não é, no mínimo, pornográfico, não sei o que possa ser abrangido por tal expressão.
Assim é que ouvimos, sem espanto mas com um muito mordaz sorriso, de que um gestor da REN terá accionado esse seguro, com a anuência da demais gestão da REN, e com gritante falta de pudor, para cobrir encargos decorrentes do processo em que está constituído arguido… no exercício das suas funções como gestor da REN.
Demagogicamente e para evitar algum tumulto social interno, estenderam esse seguro a mais três outros funcionários aparentemente implicados no mesmo cambalacho.
É a chamada democracia por conveniência e a martelo.
Pressurosamente, já alguém, correndo, veio dizer que, se forem considerados culpados, terão de devolver os encargos entretanto cobertos pela seguradora.
E assim vamos neste país de iniquidades: uma empresa paga a uma seguradora um seguro para um seu gestor se poder defender contra a eventual acusação de esse mesmo gestor ter andado a prejudicar essa mesma empresa.
Num momento em que mais de metade da população activa é confrontada com a demagogia barata de que temos de entrar numa «nova era de relações laborais», em que os direitos adquiridos terão deixado de fazer sentido, assistimos, por outro lado, a esta «lógica» só para elites, mas que desmascara a hipocrisia que subjaz a todos estes ditames da moda do capitalismo selvagem e descontroladamente à solta. Elites da treta, ainda assim, mas seguramente mancomunadas com os tais «governantes».
Se isto não é mais estranho do que a Alice no País das Maravilhas, é o quê?
Continuo sem entender nenhuma destas "jogatanas" que se foram fazendo nas "barbas do povo".
ResponderEliminarÉ certo e sabido que tudo se faz com a benção dos ditos governantes do país e em qualquer governo.
Aprenderam a mudar e confundir para governar. Quem se trama somos todos nós e o país cada dia mais pobre e retalhado por esses canalhas sem vergonha nem respeito....
Se isto não é pornografia, o que é pornográfico?!
ResponderEliminarPornográfica é a anedota da mudança do horário hhihihhihihih :DDD
ResponderEliminarOlha, outro :O)
ResponderEliminarEu acho que duas na velha é tarde demais, e três na nova um pouco cedo, dada a hora, tá-se mesmo a ver....
ResponderEliminarE alguém ouviu as declarações do responsável da REN a este (des)propósito nos noticiários de ontem?
ResponderEliminarConversa de débil mental para débeis mentais.
Assim nos querem. Assim nos vão fazendo.
Ouvir essas coisas aflige-me...
ResponderEliminarAmigo ºjorge Castro.
ResponderEliminarSempre que esse figurões falam para as câmaras e os microfones da grande informação, fazem-no com o único fito de DESINFORMAR.
Cumpre-se aqui falar de um dever fundamental da informação pública que não é cumprido. Desinforma em vez de informar. E desinformar é extremamente importante no contexto desta guerra quase silenciosa que estamos a viver. É na contra-informação que os estrategas militares investem para baralhar o inimigo. E aqui, neste caso, o inimigo somos nós. As poucas coisas que temos, que possuimos, vistas pelos tais 1% que tudo tem , como mais um território a conquistar.
a Ren, que é nossa, feita à nossa custa pela empresa nacional, é agora um activo a ser explorado por algum testa de ferro dos tais 1%. A exploração, já se sabe, é feita sobre a nossa desgraça.
O que me espanta, é a falta de visão estratégica desta maltinha sôfrega: não existem bons negócios se eles assentarem sobre a ruina da clientela. Ou muito estarei esquecido ou então, o conceito de "renda, e rendimento" perdeu o sentido. Esta gente, que manda nos vendidos que mandam palpites na tv, tem do longo prazo a noção exacta do peixinho no aquário, uns meros cinco minutos.
É ver os correctores esquizofrenicamente agarrados aos telefones em frente a uma plêiade de ecrans a fazer o melhor negócio da vida deles, cada trinta segundos...
E então, senhores! Que tal plantar uma árvore e esperar que ela cresça? Que tal ter um filho e fazer de cada segundo de amor, uma eternidade que levamos connosco a toda a hora? Que tal saborear um por do sol, manso ao fim de um dia de trabalho? Que tal mandar os filhos da puta à merda e fazer valer a única coisa valiosa que temos e que é esta vida, porque nao temos outra?
Na mouche, Charlie!
ResponderEliminarTu fazes isso, Charlie. E tu, também, São. E eu também tento fazê-lo, valha a imodéstia. E muitos outros o vão fazendo...
ResponderEliminarMas também sabemos que o combate é perpétuo, mesmo que «amar muito também canse».
Amar... amar assim, perdidamente...
ResponderEliminaro Paulo- a tirar a pressão à fervura- parece a mula que não para com a pata quieta, assim uma pessoa acerta, ora uma no cravo, ora na ferradura, ou como o Nelo diz, uma no calo ôtra na feshadura...melhéres...
ResponderEliminarEu sou muito franzino...
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