dezembro 29, 2011

Do engano e da dúvida

Se há coisa que nos passa com a idade é a certeza das certezas, sobretudo das nossas. Se não passa, é porque não crescemos, porque não soubemos amadurecer nem, como dizem os outros, to put things in perspective ou, como dizemos nós, relativizar. E relativizar é o contrário de absolutizar, de rotular, de formar dogmas. E o dogma dá segurança, constrói chão.
Viver sem certezas absolutas e aberta ao engano é uma canseira, um peso nos ombros, um perfeito disparate. E, todavia, é o que nos espera a todos os que tenhamos a ousadia de pensar (que me seja permitida a paráfrase livre de I. Kant), o atrevimento de pôr em causa, a insanidade de supor como seriam outras realidades, que não as que escolhemos e, se necessário, fazer opções diversas.

Ou então desejar que o nosso PR oferecesse uns workshops à malta sobre como nunca se enganar e raramente ter dúvidas. Poderia ser que, sendo uns socos dogmáticos, uns autistas incomportáveis, uns idiotas de primeira apanha, dormíssemos melhor e sem apertos no estômago ou noutro lado qualquer.

7 comentários:

  1. Sabes, Ana, que esses cheios de certezas são uns carenciados de espírito, uns sem-abrigo de ideias, enfim, os tais pobres de espírito que - disse-o alguém - deles há-de ser o reino dos céus.

    Ora, nós, que nos vemos constrangidos a viver com os pés na terra, para que melhor nos voem as ideias, passamos a vida inteira em busca dos caminhos que nos permitam corrigir rotas.

    Ainda que eu receie muito aqueles que afirmam trilhar sempre uma linha recta, nas suas vidas: os «cidadãos exemplares». Mas que dispõem de várias dessas linhas, paralelas umas às outras, e para as quais vão saltitando sempre que os ventos não vão de feição.

    Procurar, procurar sempre, e ousar pensar, como dizes, ziguezagueando pela vida ao som de cada alento e das batidas do coração...

    - Olha, a tua reflexão até me deu para a poesia... ;-)»

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  2. Verdade seja dita que a ti tudo dá para a poesia :O)

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  3. :) Os comentários do OrCa deixam-me sempre com a certeza (há que haver algumas, caramba!) de que não penso sozinha. E isso é de um aconchego poético, é sim senhores. :)

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  4. Eu, se um dia tiver o espaço da minha colecção, quero ter um conselho consultivo... a que vou chamar Colinho...

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  5. Já o Albert, ( O Einstein...) dizia que tudo é relativo... Embora prefira a pelicula colorida, não deixei de gostar de "filmes" a preto e branco...sobretudo quando todas as gamas de cinzento lá estão expostas. O Absoluto é uma chatice, o incontestável uma invenção dos preguiçosos, eu gosto mas é de beber uns copos e discutir ideias, ( ou será que é beber umas ideias e discutir uns copos???)

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  6. Eu só discuto copos quando me põem a beber cerveja ou vinho em copos de plástico.

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  7. Pessoa disse ( e já que falamos em poetas) tudo numa frase quando se referiu ao desassossego.
    De outra forma, como se pode transformar a inquietação em prazer? Os que se rodeiam das suas torres de marfim, das vacas sagradas, do conforto das certezas, esses jamais saberão que apenas a dúvida é viagem; substantiva e perene e a certeza não mais do que uma pedra na calçada parada na estrada por onde a dúvida avança

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