dezembro 17, 2011

Vampiros

Durante a minha vida, tenho-me cruzado com umas tantas pessoas que gostam tão pouco de si, que se prezam em tão diminuta monta, que, para não darem o tilt nem trabalharem a sua personalidade (o que constuiria uma canseira e isso é mal a afastar desde logo), aproximam-se de outras que, de algum modo, acham que as podem tornar seres melhores por contágio e laboram no sentido de lhes sugarem o que querem para si.
À primeira vista e numa primeira (mas curta, porque o tempo urge) fase, são seres dedicados, que parecem dar tudo quanto têm pela felicidade daquele/a a quem querem sugar o sangue e o resto e não descansam enquanto não lhes conquistam a confiança, o que passa por exaltarem o muito que têm em comum com o alvo que têm na calha, por lhe proporcionarem momentos surpreendentes e por concordarem com todas as suas opiniões, elogiando ad nauseam estes e outros atributos.
Mais tarde ou mais cedo, com mais ou menos trabalho, atingem o seu primeiro objectivo: o alvo cede e decide-se a confiar. E como o dito alvo não foi escolhido ao acaso, a confiança é absoluta e a entrega total.
Depois da presa bem envolta numa rede de mentiras e máscaras criadas para o efeito, mantêm a patranha durante uns tempos, para a cisão não ser tão notória; todavia, esta é a meta menos bem conseguida: a persona criada, ávida do alcance do seu objectivo primeiro, crava o dente e começa a sacar tudo quanto pode, de bom e de assim-assim. Cria na presa sentimentos de culpa e de compaixão, manipula-a à exaustão e a teia começa a ficar mais densa, sendo difícil escapar-lhe.
O que este tipo de vampiro nunca perceberá é que é manifestamente impossível retirar tudo quanto tem de bom quem tem, de facto, bem dentro de si. E, um dia, a presa começa a espernear, a reivindicar, a querer voltar a ser inteira. E não há casulo que prenda quem sabe o que é ser livre de demónios e feliz à sua custa, pelo que se libertará seja lá como for.
Uma vez liberta, poderá ainda ser alvo do predador, porque demorará até que perceba a razão pela qual, logo ela, que nunca devolveu a amargura e até cedeu sangue do bom em consciência, para limpar o do outro, já putrefacto, tinha de passar por tanta provação.
Mas o ser humano é uma coisa extraordinária e tem uma capacidade de sobrevivência quase mágica: o sangue começa a limpar-se de impurezas, os ataques não são mais do que alfinetadas menores e a certeza de que de um erro (mesmo dos graves) se podem tirar ilacções (e não só) positivas prevalecem.
O vampiro... o vampiro continuará a atacar almas boas. E a magoá-las. Mas, se pensarmos bem, não passa de um pobre ser quase acéfalo (no sentido em que jamais perceberá que a quimera de se tornar melhor é uma batalha perdida, salvo se alterar a metodologia e partir de dentro para fora), que nunca conseguirá retirar de ninguém aquilo que o tornará melhor: integridade, honestidade, respeito, valores e princípios.
Provavelmente, se algum vampiro me lê, nem saberá em que consistem os conceitos. É que estes, meus amigos, nem por contágio se transmitem, a gente que não possui coluna vertebral.

8 comentários:

  1. E não se pode marcar-lhes os pensamentos com um ferro em brasa...

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  2. Hmmm...
    Por acaso não és A rH+?
    (Prefiro com sabor a framboesa...)
    :)

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  3. Os vampiros humanos, nesta metafórica antropomorfização, estão presentes por toda a sociedade humana e em diversos estratos. Reparamos neles mais facilmente quando observamos de fora determinados relacionamentos, mas quem está presa de eles sofre muitas vezes uma espécie de anestesia, como se houvesse um véu a toldar a objectividade.
    Os tais vampiros actuam realmente na penúmbra da consciência, conseguindo criar um universo interior na vítima, onde o explorador assume a posição de ícon. Dito de outra forma, por mais que o vampiro explore e magoe, é como amigo a quem muito se deve que surgirá na escala de valores daqueles a quem tudo suga.
    Podemos perguntar e concluir: se uma relação magoa, então saia-se dela quanto antes. Dá-se a circunstância contudo, do efeito de anestesia associado ao enfraquecimento. Por mais que se dê e que se sacrifique, ficar-se á sempre aquém daquilo que o icon "merece".
    Assim, o complexo de culpa instala-se, insidioso, silencioso, redutor.
    Por vezes estes relacionamentos duram toda uma vida sem que haja aquele "clique" que faça despertar.
    Mas não julguemos que esta situação se confina e se circunscreva aos relacionamentos pessoais e mais centrados na esfera dos afectos.
    Por toda a sociedade os vampiros estão presentes, em todas as situações. Todo um povo pode estar sequestrado por uma elite sugadora, parasita e que exerce muito bem o seu mister através - e precisamente - pelo mecanísmo da culpa instigado aos que eufemisticamente se chamam de "contribuintes".
    E assim mais uma vez a "Culpa" ,esse pecado original, cumpre a sua missão: perpetuar a posição dos vampiros que sugam, roubam, prejudicam e reduzem e a quem ainda se ficam a dever impagáveis favores...
    Até que um dia...

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  4. Nova regra de Persuacção: comentários com mais de um parágrafo (e não vale esticar parágrafos!) devem ser escritos logo como posts.
    Capisce?

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  5. São - Apoiado!!! :))

    Shark - Olha que não sei, mas a framboesa não me parece que saiba. ;))

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  6. Ele há vampiros que precisavam mesmo era de uns chupa-chupas de arsénico... Só para sublimação de tendências. ;-)»

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  7. Tu diz-me que nunca dás nada às crianças...

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