janeiro 15, 2014

«Metro e tal» - António Pimpão

Alguns dos meus amigos integram o Movimento Cívico de Coimbra, Lousã, Miranda do Corvo e Gois que lutam pela retoma do projeto do metro ligeiro de superfície para a cidade de Coimbra e ramal da Lousã, interrompido no início do mandato do atual governo. Não irão gostar do que se segue.
A sociedade para a instalação do Metro Mondego foi constituída em 1996 tendo como acionistas o estado e os municípios de Coimbra, Lousã, Miranda do Corvo e Góis, todos servidos pelo ramal ferroviário da Lousã.
A estimativa inicial do investimento foi de 55 milhões de euros, um ano depois passou para 122 milhões e em 2011 já ia em 512 milhões. É o habitual.
Entre 1997 e 2010 os recursos humanos da sociedade integravam 7 administradores (!!!) e 5 funcionários que despenderam 3,4 milhões de euros.
Os administradores eram principescamente remunerados. Um dos vogais executivos auferia € 51.188 mais € 13.663 em despesas de representação mais € 3.000 de telefone e mais o direito a usar cartão de crédito, no que despendeu € 116.984, dos quais 2/3 em despesas pessoais.
Até agora foram investidos no Metro Mondego, ou melhor, foram gastos 140 milhões de euros sobretudo em remunerações, projetos e expropriações.
Em 2010 o Metro Mondego devia à banca 3,384 milhões de euros, tendo pago nesse ano 726 mil euros de euros de juros (corresponde-lhe uma taxa de 21%!!!).
Um dos anteriores presidentes do Metro Mondego referiu, numa apresentação que presenciei, que os investimentos em infraestruturas de transportes nunca são recuperados, não podem entrar nas contas da exploração.
Em termos de exploração, o ponto crítico (resultado zero) seria atingido com o transporte de 150 mil pessoas/dia, que não se afigura atingível. Uma estimativa realista aponta para um prejuízo anual da exploração de 38 milhões de euros.
Perante estes frios números, faz sentido pedir ao governo e municípios que aqui enterrem mais de 500 milhões de euros, ainda que fortemente subsidiado por fundos europeus, e criar mais um elefante branco em termo de exploração? E que sejam os contribuintes anónimos a suportar estas perdas?
É bem verdade que são os contribuintes anónimos que suportam as perdas da generalidade das transportadoras de Lisboa e do Porto e que há por todo o país demasiadas situações semelhantes, sem apuramento de responsabilidades, sem penalizações e com o zé sempre a pagar. E esses maus exemplos devem replicar-se, deve-se imitar o que se censura nos outros?
E quem garante que a estimativa atual do custo do investimento não volte a multiplicar-se? E quem garante que não se volte a nomear 7 administradores e continuem a sua ineficácia e os seus desmandos? E quem vai suportar as perdas anuais de exploração dos 38 milhões de euros? Se se tratasse de uma empresa privada, a ocorrência sucessiva de prejuízos levá-la-ia inevitavelmente à falência. Mas tratando-se de empresa pública isso nunca acontece porque sempre se arranjará quem pague a conta.
Quando um banco financiou uma empresa e esta entra em incumprimento, o maior dilema para o banco passa a ser se deve conceder mais algum crédito, na expetativa de que a empresa recupere, ou se o deve cortar e, com isso, precipitar o fim da empresa e a perda do financiamento já concedido.
Neste caso do Metro Mondego, o dilema está entre perder de vez os 140 milhões já gastos ou investir mais quase 400 milhões.
A decisão não será pacífica. Ela só não oferece dúvidas a quem entende que o investimento é preciso, deve ser feito e depois logo se verá. E que alguém há de pagar! Não é assim que penso!

António Pimpão

6 comentários:

  1. Vou ser excomungado mas... concordo consigo.

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  2. Pois... E aos administradores ( dos benefícios próprios?), não se pode não excomungá-los, mas... exterminá-los? Ai, Ai!!!

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    1. Era fazê-los engolir o valor das despesas que fizeram... em moedas de 1 cêntimo.

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    2. É um regabofe de oportunistas!!!!
      Mas nisto há sempre uma coisa que me faz uma confusão impressionante.
      Se entendo que muitos investimentos públicos não sejam lucrativos mas benéficos num contexto alargado pelo impacto positivo que elas podem ter na economia global, potenciando o crescimento económico donde vêm depois os lucros por essa via, já não entendo como é que é possível a haver necessidade de sete administradores a nadar em dinheiro!!!
      ~E depois vem com a história de que os Estados não tem vocação para a iniciativa, para empresas, para o negócio?
      Uma falácia!
      Onde estariam os nossos Descobrimentos e o Portugal pelo mundo, se não tivesse havido o investimento do Estado Português?

      O que se passa é que temos o Estado tomado por assaltantes, bandidos e ladrões que da Torre de Menagem penduram uns uns Idiotas Convenientes a que depois o povo olha como crianças para um teatro de fantoches e chama de governantes.

      Isto que é consentido que aconteça, e até parece pelo contrário estar a jeito de engordar amigalhaços, não é atitude de gente de Estado
      Ai janela, janela.... tão alta que vais ficando....

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    3. Ou seja, está em mau Estado!

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    4. sim....está muito alta e em tão mau Estado que está guardada por uns cordões de segurança, para que ninguém se magoe com a eventualidade de algum estilhaço poder atingir os transeuntes nos momentos em que História abra as portas das rabanadas de vento....

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