janeiro 29, 2015

Um José - da grandeza das orelhas à pequenez das opiniões

José Rodrigues dos Santos achou por bem, ao comentar as eleições gregas, cair no demagógico, infantil e imbecilóide vício das generalizações ao proferir estrondosas banalidades, nomeadamente – e cito, do Sol - que «os gregos inventam mil estratagemas para não pagar impostos», ou «por exemplo, muitos dos gregos que passam a pé diante da casa do antigo ministro da Defesa - comprada com o dinheiro dos subornos do negócio dos submarinos - são paralíticos, ou melhor, subornaram um médico para obter uma certidão fraudulenta de deficiência que lhes permite receber mais um subsidiozinho».

Este exercício de tão subjectiva «objectividade» é jornalístico ou demencial?

Por si só, estas generalizações são, como já todos devíamos saber, SEMPRE injustas, bacocas e alarves. O que o JRS teria, também e por extensão, TODA a obrigação de saber enquanto jornalista encartado mas, aparentemente, faz por ignorar. Ignorância ou deliberação?

Nem TODOS os gregos são o que o JRS diz. Dimitris Christoulas, por mero exemplo que me ocorre, não o era. Aliás, teve uma dignidade que o JRS aparentemente nunca terá, pois liminarmente a «ignora». E qualquer UM, cidadão grego, que não seja o que o JRS diz dele, tem pleno direito para considerar o JRS, ele sim, como persona non grata na Grécia e enxotá-lo dali para fora, exemplarmente, por não saber comportar-se enquanto convidado de uma nação anfitriã que ele está a insultar soezmente com tais afirmações espúrias e num execrável exercício de jornalismo (se tal se lhe pode chamar...). 

Imaginemos que um qualquer jornalista grego, depois de conhecer o JRS, afirmasse, aqui em Portugal e ali a meio do Rossio, que os portugueses eram TODOS uns destemperados orelhudos e tinham o tique abstruso de piscar o olho na hora da despedida.

Lá está. Cairia o Carmo e a Trindade e com toda a razão, pois ele há, por aqui, muito boa gente que ostenta umas orelhinhas bem mais mimosas e que nem sequer pestaneja quando enfrenta um interlocutor.

Ou, sem sair da nossa Europa mas mantendo o tom imbecil da generalização, que os alemães são uns nazis, os suecos uns suicidas, os ingleses uns bêbedos, os espanhóis uns toureiros, os italianos uns mafiosos, etc., etc., etc. Será que o JRS tem andado a receber lições de diplomacia com o preclaro ministro Rui Machete?

O que subjaz, na verdade, nas vulgaridades deste repórter de meia tijela é a incapacidade para apurar uma oportunidade de esperança que o povo grego assumiu – goste-se ou não do Syriza, que nem é para aqui chamado -, pois JRS será daqueles agentes da miserável «sociedade do espectáculo» (vide Mario Vargas Llosa) para quem apenas o sangue é notícia e o foguetório é cultura.  

Entre a imbecilidade de Passos Coelho ao falar, com tanta arrogância idiota como estupidez militante, da «criancice» do programa do Syriza, até em abominável e vergonhoso desrespeito pela diplomacia que lhe competiria salvaguardar nas funções que lhe estão cometidas, até este JRS, «jornalista» de pacotilha, que nos deixa assim tão mal representados num crucial momento histórico que o povo grego atravessa, há momentos em que sinto, porventura também estupidamente, uma incomensurável vergonha por andar assim tão mal representado.  

Não se pode enxotá-los?

6 comentários:

  1. O coiso foi sempre assim

    pedante

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  2. E desculpou-se com "muitos não são todos"...

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    1. Pois... mas no momento da «reportagem» não fez essa destrinça. E no conceito de «muitos» nunca se sabe quantos faltam para se atingir o «todos». O JRS apresenta-se, então, a meio caminho entre o ignorante da deontologia convencido e xenófobo tímido inconsequente.
      Como é o que temos na televisão pública, vamos percebendo porque é que andamos muitos a embrutecer até ficarmos todos embrutecidos...

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    2. Mas temos a Casa dos Segredos, para compensar isso tudo :O)

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    3. foi o "tique" de piscar o olho aos seus donos
      como um caniche a abanar a cauda...

      abraço

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  3. Foi uma tristeza completa.
    Não sei o que é que o sr tem na cabeça.
    Falei há uns anos com ele durante uma boa meia hora e tinha uma impressão bem diferente do artista.
    Muito culto e profundamente sabedor, nada do fundamentalismo idiota e palermóide que deixou transparecer nas reportagens que fez a partir da Grécia. Mais pareciam peças encomendadas pelo outro orelhudo, o das criancices.
    Já quando foi o episódio Sócrates o achei miserável, quase mais parecia a Manuela Moura Guedes. A missão de um jornalista é informar, nunca o de fazer, fabricar, a notícia.
    A coisa da Grécia, a pseudo-reportagem, foi, como diz o Nelo, " a serveija nu cópu do tôlu"
    Uma miséria e por mim, foi mais um que deixou de ver o Telejornal quando está a ser apresentado por ele.

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