julho 17, 2011
A corrupção e os murcões - Charlie
A propósito da posta do Shark sobre a corrupção, o Charlie fez este comentário que, por estar em férias com uma "pen da Sapo", não pode publicar:
"O importante na análise sobre a corrupção é precisamente a noção de corrupção: a fasquia. A fasquia, o ponto a partir do qual uma atenção passa a ser mais do que isso mesmo. E isso varia de sociedade para sociedade.
Ridículo que se quisesse há tempo considerar uma oferta até 50 €uros uma «não corrupção» e, a partir daí, já era corrupto quem aceitasse um relógio de 51 €uros!
Os incorruptos Alemães estão até ao pescoço enterrados em obscuridades no que toca aos negócios dos submarinos. As empresas Americanas que actuam no estrangeiro têm todas uma rubrica na contabilidade que se chama «verba para corrupção e subornos». Em África, o suborno e corrupção é o modo de vida dos funcionários públicos: mal pagos que são de modo geral, faz parte da paz social toda a gente pagar qualquer coisa para ter os assuntos resolvidos, nem poderia ser de outro modo já que o Estado, ao quase não pagar aos funcionários, fecha os olhos e conta com a motivação pessoal dos que recebem por fora para resolver os assuntos, sem que para isso tenham que aumentar os orçamentos para pagar vencimentos.
Mas... corrupção é pagar e receber. É privilegiar e preterir, é esconder e denunciar, premiar e castigar, ameaçar ou elogiar, assediar e repudiar. Tudo feito ao sabor dos interesses sem que necessariamente tenha que haver lugar a qualquer dispêndio monetário. Por isso... o que nos choca é sempre a nossa noção de corrupção. O que para nós é corrupção pode ser normal para outros povos e o seu contrário também. Eles podem sentir-se confusos e desconfortáveis com o facto de que uma pequena lembrança, oferecida em troca de um serviço, possa socialmente ser desconsiderada e mal vista.
(...) Os conceitos éticos, que variam ao longo dos tempos, esbarram constantemente com os diabos dos interesses egoístas.
Quando se compra numa loja chinesa por um baixo preço uma coisa qualquer, não saberemos que os preços se devem a exploração de trabalho mal pago, infantil muitas vezes e em condições desumanas? E falamos nós de ética? Ao preferir produtos importados, prejudicando assim os produtores concidadãos e todo o tecido económico associado, desemprego, etc., estamos a ser o quê? Teremos estofo moral para falar de ética? Ou apenas as condutas daqueles a quem se chama de corruptos é que é eticamente condenável?
Numa sociedade marcada pelo cinismo, podemos atirar pedras a quem? Acho que deveríamos fazer como os primitivos Lusos, para não cumprir serviço militar entre os Romanos e ter de combater os seus, partiam a mão direita com uma pedra. Ficavam assim «murcões» e, não podendo pegar numa arma, ficavam dispensados. Talvez fizesse falta atirarmos umas pedras a nós mesmos de cada vez que acusamos alguém de fazer algo que condenamos e não termos que gramar o nome de murcões sem termos a mão que atira as pedras devidamente assinalada com umas pedradas."
Charlie
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Ao lado das lojas chinesas e do consumo de bens importados eu ponho o caso dos produtos de marca branca.
ResponderEliminarSão produtos que os grandes distribuídores põem à venda a preço inferior aos de marca mas com a mesma (ou maior) margem de lucro, arrecadada por eles, está claro. E como é que conseguem tal proeza? Porque exigem às marcas toda a informação para fazerem produtos semelhantes sem terem que pagar investigação, estudos de marketing, publicidade, etc. Isto não é corrupção?
Eu não compro em lojas chinesas, não compro marcas brancas e com excepção do papel, dou preferência a produtos locais. Que mais posso fazer?
Como sugere o OrCa, cultivar uma couvinha...
ResponderEliminarMas isso também eu faço. Tenho o melhor azeite do mundo, vinho, fruta, horta, tudo biológico...
ResponderEliminarMade by IBM?
ResponderEliminar;O)
Gostei muito dos comentários de Margot, e claro agradeço-te o facto de teres publicado o comentário em post, deliciosa e inultrapassavelmente ilustrada com a hiper-tetada vaca.
ResponderEliminarHaverá um segundo post a propósito da corrupção, isso podes crer que´há....
not IBM, more PFM - Portuguese Family Business - at Beira Baixa
ResponderEliminarBeira Baixa? A nossa Beira Baixa?
ResponderEliminarA nossa, pois. Tua, minha e de quem me quiser comprar um talhãozinho de terra :))
ResponderEliminarMas afinal, tu és de onde?
ResponderEliminardefine ser de onde...
ResponderEliminarSei lá eu :O)
ResponderEliminarEu nasci em Caria e vivo em Coimbra...
Eu nasci na Guarda, sou de Ninho do Açôr (www.quintadaalmacheia.com), uma aldeia perto de Castelo Branco. Já vivi na Covilhã, no Estoril, em Espanha, nos Capuchos (Caparica), em Caxias e agora vivo em Lisboa...
ResponderEliminarPuxa, que intimidades ))
És da Beira Baixa mas nasceste na Beira Alta. Ou seja, és uma Beira Média :O)
ResponderEliminarCom esse talento para estatistica, deixa-me adivinhar... és economista? ))
ResponderEliminarVocês partem-me todo com os vossos diálogos...
ResponderEliminar:))))
Margot, com esse talento para a adivinhação... és bruxa!
ResponderEliminar:O)
Tragam o panelão, os rebentos e viscos de carvalho, as asas de morcego e pólvora amarela, patas de osga e rãs de saltarilho, que a poção mágica da São, tá aqui, tá a nada, tem Margot a ferver em bruxedo....
ResponderEliminarbrrrr ai que medo....
Bruxas, economistas e comentadores, eis aqui uma janela de oportunidade: vamos fundar uma agência de rating (deve ler-se rátingue)? ;-)»
ResponderEliminarhum, não sei... rátingue quase que é ratzinger e entre umas e outro...
ResponderEliminarNotícia de última hora:
ResponderEliminarA Standard & Poor's baixou o rating das 'Tias de Cascais' para 'Primas de Chelas'.
Isso não é um aumento de rating?!
ResponderEliminarSe é!!!!
ResponderEliminarToda a gente sabe, Tia Sãuxu, que as ratings de Chelas são maior cas da linha, não é?
Gente que é do finório, tem a rating sempre na medida certa, delicada e aparadinha...
Bem podada.
ResponderEliminarE ainda melhor podida...
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