outubro 14, 2011

À paulada, minha gente, à paulada!

Esta cambada de sonolentas mentes auto-anunciadas brilhantes, iluminadas e refulgentes, muito (a)mestradas e invariavelmente pós-graduadas até à inclemência, que frequentaram os mais altos e internacionais recessos da arte de bem aliviar toda a carteira alheia, em recônditos de economia e gestão, não nos apresentam, afinal, como panaceia para o descalabro a que a parentela que os antecedeu levou Portugal, senão o estafado e piroso número de ilusionismo fatela do coelho dos impostos – em peluche e da loja do chinês – a sair da cartola de papelão do défice.

Ora, para isso, também eu, sem qualquer domínio na Economia ou na Gestão e, de certezinha, por um preço muito mais baixo do que aquele que cada uma dessas mentes nos custa. E, também, sem precisar de estar reunido onze horas para concluir a habilidade.

Seria capaz de o fazer, mas creio bem que não o faria, porque os meus educadores me incutiram – porventura estupidamente – a noção de que roubar é um acto muito, muito feio. Há quem diga, até, pecaminoso.

Mas eles, não. Eles, os frequentadores dos sancta sanctorum das mais apuradas Salamanticae mundiais, mais não aprenderam, afinal, que a elementar arte do carteirista, ainda para mais com a agravante de que nem sequer dominam a técnica!

Bestas brutas, frias, cruéis e desordenadas, habituadas ao uso da calculadora desde a tenra infância, em que apenas balbuciavam grunhidos a pedir mama, saem dos seus covis fedendo à putrefacção das suas vítimas, em noites como a de ontem, de Lua Cheia, para descarregarem ondas atrás de ondas de impostos, taxas, coimas e demais malfeitorias com que hoje substituem o sangue das vítimas de ontem, sem lançarem uma única elementar medida de retoma, de ânimo ao desidério nacional, à esperança.

Mas a mãe que ao balcão de uma qualquer transportadora urbana abre mão de cerca de 250 euros para adquirir três passes «sociais», para si e para dois filhos que estudam, e que, cheia de estupor e espanto, reclama ingenuamente ao cobrador por lhe estar a entregar mais de metade do seu magro salário, é o produto mais acabado do que todos estes malfeitores do «centrão» andaram a perpetrar com as suas gestões iluminadas.

E pouco os apoquenta a contradição de quem tanto apregoa que há que manter no Estado o que ao Estado pertença, mas libertar a iniciativa privada para os mais altos voos, e vir, logo depois e afanosamente, imiscuir-se no dia-a-dia das empresas, subvertendo as leis e as regras que sedimentam as relações produtivas, das quais, aliás, o Estado deveria ser o primeiro garante.   

Para esta corja, não há leis, nem regulamentos, nem regras, no seu afã de prestar vassalagem aos seus mandantes. São, assim, os principais mentores da desobediência civil que, supostamente, tanto receiam.

E invocam, desgraçada e demagogicamente, que os novos paradigmas da economia mundial não se compadecem com a «rigidez» de tais leis, regulamentos e regras, quando todas as partes interessadas estão fartas, fartinhas,  de saber que não são os custos do trabalho que impedem a progressão das empresas ou do país, mas sim todos os demais custos de produção, aliados a estratégias passadistas ou inexistentes de gestão dessas mesmas empresas.

Nos intervalos do delírio, propõe-se a criação de hortinhas nos grandes centros urbanos, talvez como frustre e ridícula panaceia contra a fome que se adivinha, a breve trecho, nesses mesmos centros urbanos. E ainda havemos de ver uns tanquezitos ou algumas piscinas transformadas, nas traseiras dos prédios, para a criação de enguias ou de perninhas de rã, porventura preferencialmente para exportação, que é, pelos vistos, o único remédio para a crise.

Mas até isso, ó deuses das coisas pequenas, acaba por incrementar a «economia paralela», não trazendo, portanto, qualquer equilíbrio saudável para as contas públicas.

Eu cá, creio que vou dar livre curso ao meu espírito empreendedorista e abrir uma escola de jogo do pau. É tradicional, pelo que será subsidiada, decerto, e prevê-se negócio com futuro, pois a paciência do cidadão há-de ter algum limite. E quando ele for chegado, pelo menos um varapau há-de dar jeito.

E que, a mim, não venha nenhum dos palhaços-ricos dizer que a crise é culpa de todos nós, que eu cuspo-lhe na cara e mudo de passeio. Depois da paulada que lhe darei, claro…

Negativa esta crónica? Ora, adeus! Toda a gente está marreca de saber quais as soluções para inverter este estado de coisas!

6 comentários:

  1. "À paulada" soa tão parecido a "aplauda"...

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  2. Um dos "custos" de produção consiste na habilidade de inscrever uma parte do lucro que empresa tem que dar como uma despesa.
    Ou seja, supondo que a empresa é já lucrativa facturarno 2 milhões.
    Dá-se esse valor como custo operativo, e põe-se os gestores tenrinhos a fazer quatro ou cinco milhões a todo o custo.
    No ano seguinte, a despesa da empresa, embora tenha reduzido pessoal, alargado horários, mexido nos equipamentos e fechado serviços, é inscrita pelo valor dos tais quatro ou cinco milhões. Habilmente inventam-se engenharias de forma a apresentar sempre lucros à mingua, ou no pior dos casos, sucessivos prejuizos, quando na verdade sacam milhões e milhões.

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  3. Em alguns casos, os prejuízos são reais... porque os custos são mesmo à fartazana.

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  4. Isso.
    Ainda hoje li num dos jornais da desgraça, a noticia de uns carros de luxo supercoiso e tal, adquiridos pelas e para as suprainteligentes chefias cuja habilidade consiste em fazer a empresa pública, dividida entretanto em duas, não apresentar metade dos prejuizos da anterior, mas cada uma o dobro....

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