novembro 24, 2011

Greve Geral - Artigo de opinião


Porque é de mim que se trata, mas de ti, também. Do meu filho, como do teu. Das nossas famílias. Da nossa dignidade. Da nossa capacidade para enfrentar a adversidade e de lhe dar luta e resposta. De cantar já hoje pelos amanhãs que todos queremos que cantem. Porque devemos assumir a consciência de sermos essa montanha de espírito com gente dentro. Porque não basta a indignação e a revolta se elas não se traduzirem em mudanças de atitude.  

Faço greve, sim, porque HOJE é este o modo de manifestar o meu profundo desagrado pelo rumo que Portugal tomou.

Faço greve, sim, do mesmo modo que adquirirei os produtos da SICASAL como apoio ao empresário e aos trabalhadores que estão a dar um exemplo notável de ânimo, solidariedade e resistência contra a adversidade, mas partilhada por todos e para todos.

Faço greve, também, por aquele trabalhador que há quinze anos é subcontratado, com ordenado de miséria, a fazer trabalho desqualificado, em violação flagrante com tudo o que é legislação laboral e a que nenhum governo tem prestado atenção nenhuma.

Faço greve, ainda, por quantos se vêem caídos no desemprego e são constrangidos a estender a mão ao mais abjecto e hipócrita «apoio social», para matarem a sua fome e a dos seus.

Eu, felizmente, por enquanto estou bem, obrigado. Mas… e os outros? Muito melhor do que qualquer outro arrazoado e infindáveis razões que me poderiam ocorrer, deixo-vos com Brecht:     
  
Bertolt Brecht
A indiferença

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.

3 comentários:

  1. Exactamente ...
    Apenas o umbigo próprio interessa aos que se julgam o único ser importante do mundo, e que tudo o que acontece aos outros nada lhes diz respeito.
    Ainda hoje ouvi, na antena aberta, uns quantos totós a falar contra a greve, Argumentavam que estavam bem na vida, que tinham carro, casa, e um pé de meia etc, A conversa dos fascistóides do costume, que enoja e dá vómitos.
    Eu poderia dizer que tenho isso tudo também à minha medida, mas sei que não sou medida para os outros, antes o bem estar geral dos outros é que são a medida para mim.
    Mas enfim, cada um é como cada qual...
    ***
    Entretanto aí está mais um murro no estômago para estes ingénuos neoliberais. Gaspar & Coelho, €stupidez & ilimitada: apesar de todas as medidas e indo mesmo além do que as agências de rating, FMI e de modo geral todos os tontos que vem às TV'S lançar postas de pescada pseudo inteligentes, pediam para Portugal arrepiar caminho, eis que fomos agora classificados como lixo.
    Ou seja uma coisa risível tipo: BB-B-B-B_B-B-B-B-B.C-1/10000000000, elevado ao expoente n-infinito e sei lá que mais...
    Enfim, espero que os murros lhes tenham deixado as mãos sobre os estômagos durante um tempo apreciável. Talvez entendam assim na pele aquele aforismo que diz: mais marradas dá a fome que um touro tresmalhado.
    E termino com outra: ainda a procissão vai no adro....esperem pela pancada,
    Porque desconfio que é isso que vem a seguir.... :(((

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  2. primeiro foram aos isladeses, mas não nos importámos pois não somos isladeses, depois foram os irladeses e nós idem aspas aspas, depois foram aos gregos e eis que na mesma onda bateram-nos à porta e eis que nem esperaram que abríssemos a boca e vá de toda a gente a dizer que não éramos a Grécia. E caiu em moda: até o Barraca Abana, lá nas Américas descaiu-se a dizer que USA isn't Greeceland, and we are proud of our América...
    Bem poderíamos aprender com o Abana, e termos uns gajos da nossa banda que fosses prouds about a malta cá do quadrado.
    Mas o sentido de humor é fraquito, excepto quando há poucas horas o coveiro de serviço anunciou um espectacular aumento de receitas por via da subida de encargos para os utentes, e isto quando em simultâneo se anuncia a redução dos proventos desses mesmos utentes. Não faria melhor o nosso (sim, muito nosso) Luís de Matos a fazer aparecer coisas de sítios onde não há coisa alguma...

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