novembro 27, 2013

J’àgora, que aqui estou, também vou fazer pressão sobre o Tribunal Constitucional e etc.

Não iremos desfrutar, a partir deste ano e a não ser que isto mude, o feriado de 01 de Dezembro, Dia da Independência de Portugal.

Na verdade, porque haveríamos de desfrutar de algo que não existe? Existirá, apenas, na memória diluída de um bando de tresloucados que, por razões insondáveis, não se deleitam com casas dos segredos e quejandas programações de idêntico gabarito…

A independência nacional não é, em boa verdade, prioridade nem sequer preocupação de quem tudo vende ao desbarato, começando nas courelas, passando por pai e mãe e acabando nos amanhãs que nem desafinadamente cantam.

No entanto, olhando para tudo quanto se passa em meu redor, tenho para mim que, por muito menos do que aquilo a que assistimos todos os dias, houve um tempo em que um outro láparo que dava pelo nome de Miguel de Vasconcelos ensaiou, com péssimos resultados, um voo livre de uma alta janela do paço, para o que contou com a ajuda interessada de um bando de tresloucados que, por razões insondáveis, também não alinhavam nas «casas dos segredos» de então…

E correu muito sangue e grita e muita tinta. E correu muita cavalgada contra os canhões e os barões e os tubarões. E a coisa foi ‘inda além da Taprobana, à marrada, se bem calhasse, à traulitada, à pazada, ao que estivesse à mão ou ao pé.

E era 1 de Dezembro quando a coisa começou. E levou para cima de vinte e oito anos a atingir alguma acalmia.

Depois, o tempo foi passando. Acabou o ouro da Mina e o do Brasil. Foi ficando a urina de noites mal passadas e o sarro das prepotências em becos pouco recomendáveis.

Houve, depois de inúmeras monarquias, uma titubeante, ainda que assertiva, república. Houve, logo depois, a negra ditadura fascista, que se pintava de várias cores, quando era preciso – veja-se os ballets rose ou a primavera marcelista – até que nos chegou o dia claro e limpo.

E por entre tudo isto sempre se manteve, a pé firme, a nação, esse património imaterial e inalienável que nos anima, incentiva e dá esperança.

A ela sempre se agarraram, também, outras coisas insanas, como a identidade nacional – aquela que não troca, nem por nada, um magusto por uma festarola de um qualquer halloween ou valentine’s day ou doris day, ou o que for que venha importado à pressão do poder do dinheiro, ou do poder e do dinheiro.

Ah, a identidade nacional! Essa coisa tão imaterial quanto a outra e que tende a viver-nos entranhada na pele, mesmo sem querermos ou darmos por isso.

E, contra ela, os vendilhões: do templo, dos bepêenes, da ortografia, da dignidade humana, das pepepês, da saúde, da educação… De tanta coisa, meus senhores, que a memória nos fica lerda.

Digam-me lá se o Miguel de Vasconcelos não era muito menos digno de ter feito aquele histórico voo livre do que tantos destes pássaros bisnaus dos nossos dias que conhecemos…

E ainda se lembram de qual era o singelo argumento justificativo para aqueles que o ajudaram em tal voo? Lembram-se, é? Esse, exactamente: o tipo era um traidor à pátria. E zás!

4 comentários:

  1. Até poderia ser dentro de um armário do IKEA...

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  2. E a varanda senhores, onde está a varanda para atirar borda fora os condes de Andeiro..

    (não me chamem nomes como num passado recente, por supostos "apelos" inqualificáveis. Se até o Papa avisa dos males maiores que o mal traz, abram os olhos, as mentes e não matem o mensageiro)

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  3. Um «cão traidor», mais tarde ou mais cedo, cairá nas mãos da História, como cão traidor. Pelo caminho ficarão as vítimas todas da traição, aquelas de quem não reza a História.

    Uma vez por outra, lá vem uma defenestração. Também eu busco a varanda de que fala o Charlie e, apesar do peso da idade, era gajo para ir lá dar uma mãozinha...

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