novembro 15, 2013

«TV para que te quero» - António Pimpão

A notícia que se comenta [Governo de Valência responde a ordem de tribunal com fim da televisão pública] pode ter muito que se lhe diga.
Em julho de 2012 o governo valenciano (a Generalitat Valenciana), altamente endividado, teve que reduzir o nível das suas despesas e proceder a uma reestruturação dos seus serviços, entre os quais da sua televisão pública autonómica (RTTV), que tinha acumulado elevados prejuízos e estava muito endividada. Isso implicou o despedimento coletivo de 1.295 trabalhadores (dos 1.700 que empregava), assim permitindo manter o emprego aos restantes cerca de 400.
Uma das alternativas ao despedimento seria o pagamento de mais impostos pelos valencianos, ou maiores transferências do poder central (e mais impostos para todos os espanhóis) ou cortes noutros serviços para manter a deficitária TV pública (RTTV).
O Tribunal Superior de Justiça considerou nulo o despedimento coletivo e mandou reintegrar os 1.295 trabalhadores.
Sem possibilidade, alegadamente, de manter a TV e suportar os encargos resultantes da decisão, que implicaria o gasto de 72 milhões de euros só em pessoal, o governo decidiu encerrar a RTTV.
Em resultado da decisão, em vez de 1.295 serão 1.700 os trabalhadores sem emprego.
Perder o emprego é um drama incalculável para quem disso for vítima. Por mim, teria preferido que, em vez de o governo valenciano ter despedido todos aqueles trabalhadores, tivesse negociado uma redução dos salários e mantido a maior parte deles. Haveria, assim, uma socialização do problema, em vez de um salve-se quem puder.
Alguns acharão que seria preferível aumentar os impostos a despedir o pessoal. Quando não é visível e não se sente o que pagamos para que certas coisas funcionem, achamos que tudo deve continuar a ser-nos servido. Aqui, refiro-me sobretudo a serviços que foram criados no tempo em que a economia era mais forte ou, não o sendo, em que havia crédito fácil. Mas têm que se manter todos, tal e qual, numa altura em que a riqueza gerada é claramente insuficiente para acudir ao essencial? Ou há que definir prioridades?
É claro que custa sempre regredir, ao longo da nossa vida as aquisições históricas foram sempre para melhor, por isso não nos conformamos com ter que dar agora um passo atrás. Infelizmente, não vejo mais forma de as nossas vidas voltarem à situação de há 5 ou 10 anos atrás, não só porque a riqueza criada não dá para alimentar isso como, por outro lado, ainda temos que pagar as dívidas que alimentaram o trem de vida dos últimos 10 anos e os respetivos juros, anos esses em que o desequilíbrio já existia mas estava a ser mascarado à custa da contração de empréstimos.
Por outro lado, muitas famílias encontram-se endividadas e uma parte do que ainda vão ganhando destina-se a amortizar empréstimos contraídos e, consequentemente, não vão animar a economia.

António Pimpão

4 comentários:

  1. Quando nos já longínquos sixties estudei umas coisas sobre Economia, havia algo a que se chamava " Responsabilidade Social das Empresas".
    Estava-se então em plena ascensão do wellfare Europeu que durante os últimos cinquenta anos, descontando os dez últimos portanto até ao mítico ano 2000, produziu na Europa o mais elevado estado social de que há memória.
    Que tem custos?
    Nada é grátis. Quando se comparam os benefícios sociais na Europa do Norte, estes são generosos, mas assentam obviamente em pesados impostos que o Estado devolve aos cidadãos em serviços e sentimento de segurança em relação ao futuro.
    Portanto, os cidadãos descontam, não para "eles" que são os gajos que estão instalados no Estado, mas para "eles", os que de facto descontam.
    Dito de outro modo, são eles que produzem o seu bem estar através da capitalização do trabalho.
    Lá ainda existe a cultura da empresa como coisa "nossa". Uma empresa tem orgulho nos seus quadros e funcionários, colaboradores e clientes.
    Lá não são "eles" que estão a construir uma estrada, mas somos nós que estamos faze-la
    Não é "eles" que vão projectar um novo automóvel, mas sim a "nossa" fábrica que vai investir numa modernidade, somos nós que vamos construir um coisa linda na qual nos vamos empenhar.
    Se a isto se pode chamar persuacção? Acho que sim.
    O contrário disso é o que temos por cá.
    As empresas que passam a olhar para os colaboradores como "uma coisa chata" que "tem custos", e os outros que vendem o seu trabalho para as empresas, a olharem para os donos, como os chulos que só querem sacar o máximo dando o mínimo, e se possível nada. Recorrendo a todos os expedientes, contratando a prazo, cortando no máximo em direitos mínimos etc.
    É de admirar que nada de bom saia destas posturas?
    De empresas com este tipo de procedimentos não é de esperar funcionários que lhe vistam a camisola.
    É por outro lado um cadinho formidável para se instalarem sindicatos oportunistas e tão canalhas como estes tipos de patrões. E se todas as empresas fizerem o mesmo, a quem é que vendem o que produzem? É de admirar que a míngua de dinheiro faça o sucesso de produtos de qualidade inferior e importados e que por essa via minam as empresas?
    Quando numa empresa a que todos chamam nossa, se faz um plenário que seja inclusivo de toda as equipas, desde chefias até aos porteiros, e se explanam razões para que haja uma diminuição da distribuição da riqueza pois esta está a ser produzida em quantidades mais reduzidas, é sempre possível chegar a soluções de consenso e baseadas ao menos no mínimo de racionalidade.

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  2. Contudo, temos assistido a uma viragem lenta e insidiosa na última geração.
    O individualismo, o "cada um por si" como estratégia passou a ser cada vez mais a marca de conduta colectiva. O nosso actual Presidente, na altura Primeiro ministro, inaugurou então no seu consulado a viragem de uma sociedade que fruto do 25 do A. ensinava nas escolas as virtudes do colectivo.
    Embora de forma exacerbada e fortemente conotada com a ideologia de esquerda, tinha a virtude de ensinar nos bancos da escola que não somos ninguém sem os outros que são nossos semelhantes e que uma sociedade deve ser a harmonia dos indivíduos, que o bem estar é um jardim sem muros pois o meu vizinho vive tão bem quanto eu....
    Este individualismo conduziu naturalmente ao estado em que nos encontramos: apenas o "eu" e o imediato importa, um condimínio fechado de muros altos não importando se sim ou não rodeados de probreza
    Esta atitude anti-social e por isso a prazo (estamos lá) anti económica, se já é má em relação ao tecido empresarial, é terrivel se o seu benchmarking se projectar à dimensão de um páis, de um projecto comunitário.

    Vem-me à memória a armadilha com que se apanham macacos: dentro de um oco muito apertado põem uma guloseima irresistível. O macaco vai no encalce do seu cheiro e de água na boca, mete a mão no oco, pega na dita mas agora com a mão fechada sobre o tesouro não consegue tira-la. O punho fica grande demais para o oco. E assim fica, lutando com o oco, sem nunca lhe ocorrer que apenas o pode fazer se abrir a mão e largar a armadilha.

    Sinto que estamos todos a fazer esse papel e bem podem chamar à guloseima o Euro, ou aos produtos Chineses, que eu não me importo nada, mas tenho a certeza de que muitos aflitos responderiam a quem quisesse ajudar: "Queres o quê?, Que eu largue isto,? Era o que faltava, não querias mais nada..."

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    1. E lá estás tu a escrever em comentário o que devias pôr num post.

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  3. Prontes, prontes, vai já pra post,

    <--! não me castigues agora com greve sexual...ok ? -->

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