julho 10, 2011

A posta na mecânica da coisa

Tempos atrás um dos mais ilustres rostos da alta finança mundial concebeu um gigantesco embuste, embarretou pessoas, empresas e até nações.

Foi um safanão terrível na credibilidade do próprio sistema financeiro e o tal ilustre acabou dentro e provavelmente lá acabará os seus dias como castigo para o dispendioso pecado que cometeu.

Boa parte desta aflição, desta crise generalizada a uma escala cada vez mais global, teve início nessa Dona Bronca americana que o subprime afundou. Tem a ver com a tal confiança de que o sistema necessita para poder funcionar conforme previsto: sacar cada vez mais lucro com cada vez menos escrúpulos quanto aos meios e, se possível, de forma discreta o bastante para evitar bolsas credíveis de contestação que possam emperrar os mecanismos fazedores de fortunas que são os fins.

A coisa vista assim soa tenebrosa. E é. E os factos comprovam.

O maior sarilho que Madoff arranjou, dinheiro perdido a malta (“aquela” malta) recupera, foi ter virado os holofotes para uma debilidade do sistema que a populaça desconhecia e o deixa em maus lençóis: a ingenuidade.

De repente ficamos todos a saber que no céu onde o dinheiro a sério acontece, mesmo que para isso a vida dos pelintras cá em baixo se torne num inferno, há diabinhos capazes de aldrabarem as contas para inventarem rendimentos. E há anjinhos capazes de permitirem que isso aconteça de forma impune diante dos seus narizes que, presumia-se, teriam faro de perdigueiro para os malabarismos contabilísticos.

Mas se calhar o sistema estava constipado no sector da fiscalização...

É aqui que a crise a sério começa, quando os analistas descobrem aos poucos as incongruências de um sistema ao qual se destapam também as promiscuidades como a de existirem nas agências de rating ligações a empresas que compram a dívida pública “tabelada” pelos isentos seus associados.

Nenhum sistema, por bem montada que seja a marosca, resiste a tanta devassa das suas fraquezas quando a confiança dos investidores (as bolsas de valores, por exemplo, são muito sensíveis à prudência excessiva) é um dos pilares da sua actuação.

O efeito bola de neve transforma-se numa avalancha de ameaças para estas peças mal oleadas do mecanismo e num instante passamos da constipação fiscalizadora ao motor gripado por lhe falharem as correias de distribuição.

A dúvida instalada depois do escândalo Madoff alertou até os maiores beneficiários da oficina de fortunas para a necessidade de, talvez tarde demais, renunciar à batota e levar o mecanismo à inspecção com a regularidade e o rigor devidos.

O problema é que a dúvida, quando estão em causa as descidas bruscas das classes médias, faz arrefecer os vários entusiasmos indispensáveis para tudo funcionar na perfeição, nomeadamente o consumista que, por sua vez, é a ignição do comercial e de repente temos países inteiros a ligar para a assistência em viagem da divina misericórdia (esta última o sistema não engloba de série).

Por outro lado, quando duvidamos pode dar-nos para questionar realidades que antes nem se equacionavam.

Por exemplo: se o Madoff conseguiu enrolar tantos durante tanto tempo e o subprime com bicho apodreceu maçãs tão lustrosas como a Islândia, quem nos garante que um dia não estaremos a olhar para o passado que nos mandou para a penúria conscientes de que tudo isto da notação financeira era afinal mais uma vigarice de topo que ninguém, sobretudo os lorpas dos políticos que lhe dão o beneplácito e que são enrolados a torto e a direito pelas verrugas do sistema financeiro, topa hoje nessa condição?

17 comentários:

  1. É estranho... mas aqui neste cantinho temos todos o mesmo ponto de vista (pelo menos em termos genéricos) sobre a especulação financeira.

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  2. Estranho é não proliferarem cantinhos assim...

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  3. É mesmo...
    Isto faz-me lembrar aquele casal orgulhoso pelo filho militar que marchava na parada:
    "Já viste, Maria? O nosso filho é o único que leva o passo certo!"

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  4. :)

    Muito bem lembrado, Sãozinha!

    Dá que pensar... Será que precisamos de uma revisão?

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  5. Eu sinto-me tão bem com pouca (mas boa) gente a fazer companhia...

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  6. Eu também... e adoro este cantinho! É só gente boa (comó milho!) (E desta vez, Sãozinha querida, escapaste a que eu te fotografasse do "ângulo certo"... mas olha que não perdes pela demora... que o que é bonito é para se ver!)

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  7. Se conseguires encontrar em mim algum ângulo certo, mereces o Nobel da Fotografia!

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  8. Estás a brincar?? No dia em que eu não conseguir encontrar ângulos em mulheres como tu, mudo-me definitivamente para Marte!

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  9. Já te consciencializaste que vais ter que reaprender a respirar?

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  10. Mudar para a Marte, soa-me bem...não sei porquê....

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  11. Vossezes, melhéres, tam a falare de camizas?

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  12. Ah..... açim tou mais tescançado....
    Hera çó uma gueralha hortográfica e açim e nam hera um ingano, Sãu mejmo ço qamizaz e nam gueravatas...

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  13. É, aqui tem coisas em que somos - estava quase a dizer - homo-génios. Felizmente também há mulheres... E a graça que o cantinho tem é que é redondo. Já se encostaram a algum cantinho redondo? Dá cá um aconchego...

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  14. Já tinha ouvido cantos do Redondo...

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