outubro 19, 2011

Mas aos funcionários, Senhor, porque lhes dais tanta dor?

Então, sugerida pela entrada de Ana Andrade do passado dia 14 de Outubro e a solicitação do Paulo Moura, cá segue a minha pobre achega sobre o «funcionalismo»:

A expressão «funcionário público» é, no Portugal que temos, um mero joguete argumentativo esgrimido ao bel-prazer da demagogia instituída, que conta com a ignorância histórica em que fazem por manter as massas, apelando às invejas mais mesquinhas e aos instintos mais primários da turba.  

Neste contexto, tudo aquilo a que assistimos da parte dos poderes instituídos quando se referem ao «fenómeno» do funcionalismo público é, receio-o bem, uma falácia. Aliás - e deixemo-nos de lindas palavras - é um chorrilho de aldrabices.

Porventura, motivadas pela inevitabilidade evolutiva das «coisas». Mas tanta coisa se poderia dizer das baixas retribuições «compensadas» com o pagamento em géneros…

Entretanto, o «funcionário público» não é uma realidade factual, passe a tautologia ou a redundância. Não. Um funcionário público é um ser humano que detém um emprego num organismo qualquer cuja entidade patronal é o Estado. E ponto final.

Não é mais, nem é menos. Nem velho, nem novo. Nem gordo, nem magro. Tem sobrancelhas hirsutas ou não. Por vezes é careca. Pode ter um dos diversos circunstancialismos sexuais. Utiliza diariamente a retrete, como eu e você... etc., etc.

Vive e morre como os outros e também pode ser, muito bem, precário - a minha-senhora-de-mim foi-o durante dezassete anos, como professora, sempre com vínculo ao Estado sem interrupções e com as habilitações máximas requeridas para a função! E, ainda, assim, com contrato a renovar anualmente e calcorreando as sete partidas do território nacional!

Mas o Passos e seus acólitos falam de que coelhos? Do homem da recolha do lixo? Do amanuense? Do médico? Do professor?

Isso de se ser «funcionário público» com carreira retributiva congelada durante dez anos (!!!) e apenas interrompida por demagogia eleitoral de Sócrates e seus próprios acólitos – o que, aliás, o próprio fez regredir em 2010, já invocando o flagelo da «crise», abatendo 5% aos fartos proventos dos tais «funcionários» -  será o que leva o Passos a falar dessa média remuneratória de 15% superior à dos demais seres viventes? E está a compará-los com que realidade sociologicamente análoga? E baseado em que estudos?

Não. Sejamos claros: o que ele precisa é de uns cacaus, à pressa e à fartazana, para aguentar o barco esburacado em que vogamos, porque o Estado foi levado à falência e, se os ordenados do funcionalismo não forem pagos, ele tem uma guerra civil às costas na semana seguinte.

Poder-se-ia até questionar, como mero exercício retórico, de que lado é que estarão as polícias e as forças armadas... que também são funcionalismo e auferem remunerações miseráveis. Ou Passos pagará a uns e não a outros? Este é o único «tug-of-war» que o(s) perturba, aos Passos e aos Sócrates... e aos outros da seitinha dos interesses.

Falemos, pois, seriamente: qualquer indivíduo que faça destrinça entre um «funcionário público» ou outro ser vivente qualquer que trabalhe por conta de outrem, se virmos bem, não está mais do que a falar sem saber muito bem o que diz, ou deliberadamente a impingir-nos uma aldrabice.

Podemos também imaginar a «raivinha de dentes» que assalta os teóricos do neoliberalismo e outros, perante estes últimos redutos da concentração de pessoal assalariado, concentração que facilita as movimentações reivindicativas, pois por ela é mais fácil constatar, ainda, que a união faz a força.

A táctica de dividir para reinar é velha e relha. Ele, este Passos, exerce todas estas arbitrariedades que anunciou na presunção de que, como mera entidade patronal, é o que lhe está mais à mão, a ele e ao  Estado que, por votação, representa. E é mais fácil. Mais nada!
 
Será, entretanto, também incompetência, desespero e desvario. Ausência de capacidade para criar uma nova esperança para uma nação dela tão carenciada.  

Estamos, de facto e uma vez mais, muito mal entregues!

8 comentários:

  1. Mas, mais uma vez, a quem achas que ficaríamos bem entregues?

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  2. Assim, de repente, sempre te digo que me está a ocorrer um «sem-abrigo» que eu conheço, uma moçoila que nos brinda com uns poemas, um tipo que passa por mim todos os dias, fazendo a sua caminhada matinal, etc., etc., etc. Isto é, não tenho resposta expedita e coerente para te dar...

    Mesmo que o Medina Carreira não goste da expressão, a verdade é que há que encontrar (encontrarmos) caminhos para alterar os paradigmas do mundo em que vivemos.

    Pelas nossas mãos, certamente. Com muito sangue, suor e lágrimas, seguramente. Mas onde o Homem valha por ser e não por estar ou ter.

    E, para já, para já, assim de repente, falando apenas do nosso terreirinho, por muito que não agrade a tantos, o BE e o próprio PCP - dos quais não tenho nem procuração, nem especial simpatia - andam a preconizar uma série de medidas, há uma data de tempo, cada qual mais inteligente e exequível do que toda esta catrefa que as patas-chocas institucionais nos impingem.

    Em qualquer caso, o meu problema imediato é o facto de considerar que há limites para o bom senso... como para a falta dele.

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  3. Pois... mas eu não gostaria era de passar de nabos para... nabiças...

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  4. Como eu detesto ter de concordar contigo, Jorge Castro, linha por linha... Ora fosca-se!!!

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  5. O Passos é o que eu chamo de um Nabo.
    Um nabo desses que nem para sopa serve.
    Jamais o quereria para gestor de uma empresa minha:
    Senão vejamos:
    Desde quando é que alguém com responsabilidades numa empresa, vai junto aos seus fornecedores a negociar uma matéria prima e em vez de negociar preços favoráveis e prazos de pagamento mais flexíveis, faz exactemento o contrário: paga acima do pedido e aperta o prazo de pagamento????
    Que nome damos nós se formos os fornecedores a um tipo destes?
    UM TOTÓ, um Tenrinho e há mais nomes lindos. No próximo fornecimento puxamos o preço mais um pouco que o gajo ainda dá mais.
    Ponto dois, o gajo a vender:
    Anda pelos clientes e diz: tenho aqui uma Tap, tenho uma EDP, tenho uma Caixa que dão 1.000.000 elevado ao expoente "n" e vendo tudo pelo preço que vocês oferecerem nem que seja UM €uro!!!!
    Escutem: das duas uma: não me venham com doutrinas, não me venham com ideoligias, isto é CRIME ECONÓMICO!!!!
    E mais longe indo acrecento; É TRAIÇÃO.
    Por os seus semelhantes na condição de escravos para ficar bem visto com os de fora é traição.
    Queixou-se do murro no estômago, mas eu, que vivo neste país desgraçado, sinto que ele me anda a dar murros na inteligência e queria Deus que um dia não me passe da telha e lhe devolva os ditos, com a respectiva carga de juros, no espaço que lhe fica algures entre o nariz e os queixos!!!!!

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  6. HEHEHEEEE´
    Amanhã juro que faço dois posts para ficarem agendados,.
    Depois, isto é private, mas aproveito o espaço, recebi um mail estranho datado de janeiro sobre um dos textos para o tal trabalho.
    Já leste o que te enviei há dois dias?
    Se sim manda dizer para te enviar as fotos respectivas
    Depois como tenho muito mais material para enviar preciso de ter a coisa planificada, ok?
    Amanda então.

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  7. Óptimo. Faz lá esses posts.
    Tens um rascunho "A corrupção, parte II ( a construir)"...
    Sobre o private, respondo-te private.

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