outubro 25, 2011

Pensamentos em cascata do meu colega de curso Carlos Carvalho...

... a respeito da ideia que existe da «preguiça dos trabalhadores portugueses»:

"Há cerca de 2 anos fui consultor de uma empresa gráfica dos arredores de Lisboa. Tinha 5 vendedores. Os rapazes tinham, cada um deles, um ford fiesta (2 lugares) para todo o serviço, um telemóvel com um plafond mensal de 20 € e tinham um salário de 500€/mês.
Após o diagnóstico, cheguei à conclusão que:
1- Não havia remuneração variável
2- Não havia relatórios dos vendedores
3- Não havia descrição de rota de vendas
4- Não eram transmitidos objectivos de vendas
5- Não havia contabildade analítica que informasse a margem bruta de venda de cada um dos produtos
6- Não havia "cross-selling"
7- Não havia reunião de vendas, nem liderança de vendas.
...
Não havia nada em termos de Gestão de Vendas.
Em menos de 15 dias, apresentei um plano de Acção.
Não vou explanar todos os passos propostos mas com alguns deles todos vocês certamente concordarão:
1- Criação de objectivos
2- Reuniões de vendas para controlo de objectivos
3- Remuneração variável em função do atingimento de objectivos
4- Controlo da actividade dos vendedores
etc.
Pois bem!
O Sr Empresário achava que não.
Os vendedores tinham um carro e um telemóvel que ele disponibilizava. E já era bem bom, pois muita gente não tinha estas regalias. O ordenado de 500 € era acima daquilo que a lei obrigava a pagar. Portanto, os vendedores tinham que ir à sua vida, fazer o melhor que podiam (pois as regalias já eram muitas) e tinham que trazer facturas ao final do dia. Mais nada!
Como podem imaginar, 2 anos passados, o Senhor achou o meu trabalho inócuo. As dificuldades já eram grandes. Entretanto faliu, foram mais alguns para o desemprego e eu... não recebi "um chavo" da minha prestação de serviços. Mais um onde "lerpei".
A empresários destes, não há Estado que ajude ao Crescimento.
O futuro do crescimento está nas empresas. O Estado, quando muito, poderá ser um facilitador do crescimento. Remodelando o sistema de licenças, os prazos das mesmas, remodelando a Justiça e respectivos prazos ... enfim, pôr algum óleo na engrenagem. O cerne do Crescimento está na mentalidade dos nossos Empresários. Um dos desígnios do Estado, deveria ser a criação, não das Novas Oportunidades, para indivíduos com a 4 ª classe obterem o 12º ano através de um texto escrito sobre a sua experiência de vida, mas sim de Cursos Efectivos de Transmissão de Conhecimentos e Apoio aos Empresários deste País. Sim! Eles são, efectivamente, o motor do Crescimento deste País!
E é aqui que reside o busílis da questão. Não existem Planos de Ajuda aos Empresários ... até porque Empresário que é Empresário, assume a atitude que não precisa da ajuda de ninguém. Ele é que sabe! Ele cresceu sozinho sem a ajuda de ninguém!
Pois!
E esta, hein?"
Carlos Carvalho


"Já agora, uma anedota que tem o seu quê. E muitos Empresários portugueses ainda não decifraram este enigma.
Um indivíduo de 99 kgs aprestava-se para atravessar uma ponte, sinalizada com a informação de que o limite máximo de peso era de 100 Kg. Ora, ele levava 2 melões, cada um com cerca de 1 Kg. Ele pensou que, por 1 Kg, certamente a ponte não iria ruir. Mas, à cautela, decidiu, como os malabaristas, atravessar a ponte, jogando ao ar um melão de cada vez. Desta forma, nunca ultrapassaria o limite dos 100 Kg. Pois é! Chegado ao meio da ponte , esta ruiu!
Porquê?
Porque um homem prevenido vale por 2!
Esta singela piada de salão pode ser ampliada.
O país da UE com maior índice de produtividade é o Luxemburgo. Onde, perto de 40 % da População Activa é portuguesa. Portugal é dos países com mais baixo índice de produtividade.
Das duas uma:
Ou os portugueses que emigraram para o Luxemburgo são os mais produtivos e escolhidos a dedo ( acham?);
Ou os Gestores Portugueses não sabem extrair o melhor do que o português tem.
E mais esta, hein?"
Carlos Carvalho


"Em 2004, por causa do Campeonato Europeu de 2004, o meu colega da Rotatejo, empresa da Unicer que vendia e distribuía os produtos da Unicer na Grande Lisboa, solicitou um reforço do orçamento de 70.000 para contratar pessoal temporário para esse período de acréscimo significativo de consumo. Eu, como responsável de similar unidade no Grande Porto, solicitei o equivalente para a minha dimensão. Só que não recrutei ninguém de fora. Mobilizei e fiz a festa com o meu pessoal, que trabalhou redobradamente. Todo o dinheiro das comissões das empresas de trabalho temporário também foi embolsado pelos meus colaboradores. Todos os Estádios a Norte do Mondego eram da minha responsabilidade (o Patrocinador Oficial do Euro 2004 era a Carlsberg). Como sempre, nas empresas privadas, havia a competição de quem prestaria o melhor serviço. Pois a minha equipa foi a vencedora. E só com a prata da casa. E eu não só ganhei esta competição do mês, como ganhei a competição do ano. Porque tinha o meu pessoal motivado. Trabalhou... mas ganhou. E nisto, o Português é imbatível.
Se conseguirmos fazer do português, emigrante no seu próprio País, teremos trabalhadores imbatíveis. Melhores até, que os do Luxemburgo.
E mais esta, hein?"
Carlos Carvalho

5 comentários:

  1. Um País que exporta cérebros...
    A custo zero?
    Não!
    Custa muito às mãos que ficam produzi-los com cada vez menos ajuda dos cérebros restantes...

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  2. O custo principal é a longo prazo. E é enorme.

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  3. Excelente cascata descritiva. Lá está: a inteligência emocional é que anda muito arredia dos caixotes cranianos de muitos gestores, por essa praça nacional fora.

    Entretanto, convém muito não nos perdermos em relação a duas ou três essencialidades: eu orgulho-me de falar Português; o Inglês não passa de uma outra competência adquirida. Eu orgulho-me da Literatura portuguesa; a Literatura estrangeira não passa de um saudável complemento. Eu orgulho-me da capacidade imaginativa, criadora, produtiva portuguesa; informo-me sobre o que vai sendo feito no resto do mundo apenas para maior ilustração.

    Se calhar, vão dizer que é nacionalismo. E, se calhar, eu não me ralo nada com isso.

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  4. Pois...Excelente dissertação Orca
    Mas eu recorro a um estrangeirismo incontornável: o que falta à classe política de um modo geral (e esta então que subiu ao poder, coitadidos, que tristeza) é o que se denomina, de "killer instinct".
    Do lunático voluntarísmo do Sócrates passou-se à depressiva escuridão de Agência Funerária de Passos & Gaspar Lda, especializados em liquidações e funerais.
    Está na hora de andarmos pelas ruas em pleno dia de candeias acesas à procura dos homens...

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  5. Pois... no meio estaria a virtude...

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