A partir de determinada altura (creio que a maioridade legal seria um bom
critério) e sempre que a idade de cada um viesse à baila, deveríamos estar
obrigados a falar não da nossa idade biológica (que ficaria reservada para
contextos médicos e pouco mais) mas sim da idade mental.
Parece-me evidente
que teremos várias idades mentais: a emocional, a sentimental, a estética, a
intelectual (subdividível em incontáveis outras, porque o intelecto não tem a
mesma gradação em todas as áreas),a profissional, a familiar (há gente que,
tenha a idade que tiver, nunca deixará de ter 16, neste contexto), sei lá bem...
temos infinitas idades e a tal idade mental com que deveríamos responder quanto
alguém no-la perguntasse seria uma espécia de média aritmética entre todas essas
idades ou, vá, de média ponderada, se o contexto fosse
determinante.
Complicado?!
Não acho.
Complicado é perguntarem-nos a
idade de A (ou a nossa!), termos de dizer que tem X anos e, posteriormente, de
explicar que a idade real (ou mental) é de X menos dez, em determinados campos,
mas de X mais vinte, noutros. É que a pessoa sempre fica baralhada.
Finalmente, alguém resolveu o meu problema!
ResponderEliminarO problema da São Rosas não é problema nenhum, é antes o apontar da solução muito bem posta pela posta da Ana (deiána, cumo dijem lá prá xima).
ResponderEliminarE neste particular, aprendi em África essa noção de idade. Só existem três idades somadas a mais uma que é a dimensão sobrenatural.
Nasce-se e é-se criança, depois passa-se para homem e em seguida para sábio. A quarta idade é a intemporalidade dos espíritos, a sobrevivência dos antepassados nas memórias, a idade dos sonhos.
Aquando da minha estada em Luanda motivada pelo serviço obrigatório militar conheci um funcionário, cujo nome não divulgarei por respeito a algum eventual familiar que possa ler este post, pois ele foi morto num ataque à camioneta onde ia de visita.
No dia em que cheguei, apresentei-me como é regular fazer-se e travei conhecimento com o pessoal. Entre uns e outros falei com ele soube que se chamava X e tinha 19 anos de idade.
Logo à noite, no jantar de apresentação com os colegas e superiores pus uma questão que me tinha ficado a intrigar durante a tarde e perguntei ao comandante: -ali o nosso funiconário da limpeza, fulano, tem dezanove anos, mas eu achei-o tão envelhecido...-
Ali foi risada geral e ele então explicou-me: Escute, Almeida, o nosso X tem 19 anos desde que cheguei e já cá estou há seis anos. No entanto, ele é funcionário da limpeza há pelo menos dez.
E continuou: -Isto é assim, se ele tivesse dezoito, não tinha idade legal para o emprego, mas se tivesse vinte, teria que fazer o serviço militar obrigatório. Assim, tem dezanove e está sempre na franja certa.
Claro que nos rimos outra vez.
No entanto, mais tarde e a sós pensei sobre aquela experiência que achei absolutamente enriquecedora e reveladora sobre a fragilidade dos nossos epartilhos, das ditatudaras dos relógios e calendários, no fundo da nossa liberdade.
Descobri, ainda bem moço, na verdura dos meus 24 anos, e através deste episódio simples e quase naïf, a noção perfeita do que é isso de se estar na idade da sabedoria...
Genial!
Eliminar(faz um post, que bem merece)
"...verdura dos teus 24 anos"?!? Então esse episódio é bem recente, pá!
ResponderEliminarA verdura a que ele se refere é a da farda.
EliminarAh Cãombada do catano :))))
ResponderEliminarFazer um post, ou melhor, contar uma história sobre a Luanda de 1975, em plena transição dum modelo colonial com todas as ingenuidades (dizemos hoje) que lhe era inerente.
ResponderEliminarNo fundo, o nosso viver é algo que transita entre baias (e ali também baías) e fantasmas.
Fica apontado ;)
Isso...
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