setembro 23, 2012

A posta que blasfémia é invocar o nome de qualquer deles em vão


No meu quotidiano não há espaço para Maomé e por isso tenho que confessar o meu profundo estar-me nas tintas para esse, como para outros profetas. Compreendo a importância de um profeta, vivo num país forrado a crucifixos, mas para fazer humor nem me passaria pela cabeça recorrer a tais figuras, tanto pela falta de piada que por norma esse tipo de estatuto implica nas pessoas e nos profetas como pelo respeito que me merecem as crenças dos outros. E também porque o meu conceito de bom senso não abarca os picanços a extremistas, fanáticos e afins.

Contudo, e porque o Marco do Bitaites me informou acerca de mais um sinal de insanidade por parte de um governante de um país tão aliado dos EUA como o CDS do PSD na actual coligação, quando as coisas chegam ao ponto de envolver ataques a embaixadas, assassinatos encomendados e outras formas de intimidação a pessoa sente-se algo forçada a tomar partidos. Nem que seja para não dar abébias à estratégia do medo tão necessária à imagem de força por parte dos gabirus que aproveitam qualquer pretexto para agitarem a turba.
Se o que está em causa é um choque ou mesmo uma guerra de civilizações, mesmo estando a minha a rebentar pelas costuras em variadíssimos aspectos basta-me uma vista de olhos rápida sobre a alternativa e o meu lado da barricada fica definido com enorme clareza.

Sou cristão, mas a minha proximidade ao lado mais praticante da coisa é nula (se exceptuarmos, uns casamentos, uns baptizados e até um ou outro funeral) e a minha ligação ao divino, o nosso ou o deles, jamais bastaria para alimentar o meu empenho em qualquer tipo de cruzada. Até porque não consigo mesmo distinguir as pessoas em função das suas crenças religiosas, excepto quando me deparo com as diferenças mais óbvias das suas opções de vida relativamente às minhas e num contexto de me tentarem impor regras que não aceito nem reconheço nessa condição.
É uma mania comum a muçulmanos e a cristãos, embora estes últimos já não tenham reunidas as condições para a evangelização à bruta nas masmorras e um lote significativo dos primeiros tentem precisamente reuni-las.

Mas estas caldeiradas só têm de religioso o estandarte preferido dos fundamentalistas islâmicos, o nosso Deus não é chamado para o assunto mas sim o líder deste mundo a Este do paraíso (que é para onde vão os mártires deles) mais os judeus em geral e os israelitas em particular.
Nós, ocidentais, não somos todos sunitas ou xiitas. Mas como até bebemos álcool e comemos porco à fartazana e deixamos as miúdas descascarem-se à grande, para além de permitirmos (mesmo sem achar piada) que os criativos debochem com os temas tabu para eles, os radicais aproveitam para juntar tudo no mesmo ramalhete para poderem fazer-se explodir em Madrid, em Londres ou na Pampilhosa e isso constituir uma grande vitória contra os infiéis americanos na mesma.

Afinal não são os deuses que devem estar loucos...

Aquilo é gente chanfrada, nisso acho que até os nascidos em terras muçulmanas mas tão agnósticos como eu concordam. Se os valores ocidentais, ou os excessos que eles permitem, começam a servir de pretexto para crimes (outra designação é eufemismo) praticados ou encorajados em nome de Alá no intuito de nos levarem a, por temor, aceitarmos que definam por nós os limites da liberdade de expressão ou outras temos o caldo entornado. Sejam Alá, Buda ou mesmo o nosso, não há pão para malucos mesmo que isso implique termos que passar revista diária às carruagens do metro ou aceitarmos que os nossos países permaneçam aliados militares de quem possa travar de alguma forma tal ameaça, sem olhar aos danos colaterais (como aliás é apanágio dos terroristas e seus mandantes).

É esse o erro de palmatória dos instigadores destas revoltas populares anti caricaturas ou anti filmes ou anti o raio que os parta a todos: os actos concretizados e as ameaças veladas têm um efeito na opinião pública ocidental que é contrário aos interesses dos próprios, pois reagimos mal à coação e abrimos mais a pestana aos verdadeiros propósitos dos que tentam dividir as tendências, aproveitando o pluralismo que cultivamos e a liberdade que o fomenta, para reinarem as trevas medievais.
Gostamos dos tais valores, mesmo com as suas fraquezas, quem não gosta que não consuma e que nos desampare a loja em matéria de obscurantismo, de intimidação e de censura.
Ninguém pode negar que, embora de inspiração cristã, já demos quanto baste para esse triste peditório...

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