setembro 16, 2012

Dupla moeda. (um)A outra Alternativa


...Bastaria quiçá ao robótico Gaspar, que deve andar extremamente confuso, acrescentar ao seu brinquedo, a folhinha Excell, umas colunas com umas quantas variáveis...


O recente e ainda quente dia de manifestação, essencialmente pacífica mas onde a violência esteve a um passo de se generalizar, que Portugal viveu contra as últimas medidas anunciadas pelo Governo e postas em palavras pelo Primeiro Ministro Pedro Passos Coelho, pôs em evidência que há uma linha clara a não ultrapassar sem que seja a própria democracia a entrar em perigo.
As medidas que o primeiro ministro revelou, a par de um horizonte previsível, nas palavras dele,  de quinze a vinte anos de crescentes sacrifícios, teriam como efeito e de facto a destruição de todo um modelo de vida tal como a conhecemos e que se insere no viver médio das sociedades europeias. Apenas com uma ditadura feroz seria possível reprimir o caos social e obrigar a maior parte da população a viver em condições do Séc. XIX. A folha de salva  ou de alfazema nos sovacos fariam a vez do desorizante, mal menor se considerarmos o banhito regular relegado para o campo do luxo, o preço do petróleo para o candeeiro se ter tornado inacessível e a agravante agora de nem transportes ferroviários se ter ao dispôr.
A contínua lógica implosiva da CP e suas derivadas eufemísticas, pode nos seus efeitos práticos, exemplificar bem o que aconteceu ao País no seu todo após apenas um ano desta governação: menos linhas, menos serviços e cada vez mais dívida, tal e qual como  agora ao a que se chama de Portugal que pôs em mãos estranhas as linhas mestras da sua economia. Bastaria quiçá ao robótico Gaspar, que deve andar extremamente confuso, acrescentar ao seu brinquedo, a folhinha Excell, umas colunas com variáveis extirpadas da CP, - já não vamos mais longe -, para que as suas continhas batessem certo. As continhas, não o País. Estas dar-lhe-iam então a desgraça em que tudo isto ficou, tão diferente dos modelos perfeitos de laboratório universitário onde ele e os seus  semelhantes brincam às economias.
Mas para bater nos ceguinhos, - e eles ou são
ceguinhos ou são perversos, e prefiro chamar-lhes o primeiro-, já basta e nada resolve; há que encontrar uma solução e entre sair do €uro e as que Passos queria levar por diante, esta outra bem pode passar pela criação de nova (velha) moeda. Uma moeda interna para as transacções correntes a par do €uro como moeda de referência e comércio externo. A ideia já foi apresentada por mais de uma vez, mas posta de lado como sendo estapafúrdia. No entanto, os que estavam tão lestos em aplicar medidas  - terríveis - que nunca foram experimentadas, não tiveram uns momentos de humildade inteligente para indagar as consequências da circulação de dupla moeda em locais onde isso de facto acontece.  E na verdade, em muitos locais do mundo, a circulação de várias moedas funciona e funciona muito bem. É aliás o paradigma da lei de Gresham, quando duas moedas circulam em simultâneo, a má moeda "expulsa" a boa ficando ela a circular. Ou seja, a moeda mais forte é poupada. Esta forma de utilizar várias moedas é corrente nas Caraíbas. Dirão alguns de sorriso superior e condescendente, que isso são umas ilhas com pouca expressão e bla bla bla, mas a esses eu respondo-lhes que ilhas somos todos e Portugal no contexto mundial é - apesar da megalomania que os cépticos desta solução deixam transparecer - entre as outras ilhas, com os nossos dez milhões, apenas uma ilhota...
Não é preciso ser génio, nem ser uma eminência académica, para entender o efeito imediato de o Escudo a circular em Portugal a par do Euro, nem esta solução é nova por cá. Portugal usou desta estratégia nas suas ex-colónias. A moeda corrente local era então apenas para uso interno e estavam obrigadas a um câmbio com o Escudo para os comércios com o exterior, mas era eficaz e a economia florescia.
No caso presente, a quarenta anos de distância do último hastear da bandeira em terras ultramarinas, estamos numa situação em que a solução de então pode ser recuperada hoje e com  vantagens económicas, a começar pelo mais importante.  As importações teriam de ser pagas em Euro, logo, aí ficariam resumidas ao essencial e na mesma medida em que o Estado tivesse os Euro ou outra moeda de referência. Toda a distorção de mercado provocada pelos artificiais preços baixos face a uma moeda demasiado forte para a nossa economia, tenderia à correcção natural. Não é possível que comprar uns alhos vindos da China, com todos os custos de transporte e comercialização associados, fique mais barato do que colhê-los no meu quintal mas é isso que tem vindo a acontecer e que tem destruído todo o nosso tecido produtivo, contribuindo fortemente para o desemprego e a dívida ao promover a importação.
Esta tremenda distorção, uma vez implementada a moeda nacional, ficaria de forma natural corrigida.  A necessidade actual da compra de víveres, que é quase toda coberta com produtos importados, passaria progressivamente e de forma rápida a ser coberta pela produção local com os reflexos imediatos na criação de emprego, da circulação de moeda e de cobrança de impostos, com os quais o Estado paga as despesas internas.
A exportação beneficiaria, pela desvalorização da moeda,  de custos mais baixos de produção, sem que isso implicasse uma significativa perda de qualidade de vida dos cidadãos nacionais, presas fáceis da sofreguidão de uma máquina fiscal que, não podendo recorrer da produção e gestão de moeda própria, tem de contar com um mecanísmo de dívida constante ao precisar de importar €uros. Uma outra consequência seria ao nível das poupanças. Tal como no caso do Escudo antes do Euro, muita gente tinha poupanças em moeda forte para se precaver da perda de valor da moeda nacional.
Mas obviamente não há bela sem senão: termos que viver - pelos preços mais elevados - com menos computadores e telemóveis  Ipad's e Iphones, automóveis e plasmas não é agradável, mas leva certamente a um uso mais racional e duradouro dos mesmos, apesar da abertura de espaço para a produção nacional. A circulação de moeda própria levaria no entanto à garantia natural de um nível mínimo de dignidade de vida e isso é como ponto de partida o mais importante, o patamar a partir do qual se conseguem todas as outras coisas.

13 comentários:

  1. E não seria nada mal visto, não senhor.

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  2. ..e se tiverem medo de moeda dupla, podem tentar usar títulos a prazo, dívida interna, bem entendido, que é bem melhor em todos os sentidos. Nem sei porque é que quase abandonaram um mecanísmo que evita a importação de moeda, que constitui uma ferramenta de credibilidade do Estado perante o cidadão, que lhe dá alguma tranquilidade psicológica ao saber que tem um aforro. Mas existe uma resposta possivel para isso: A BANCA. Eles não gostam da concorrência, e sei bem -sabe-lo emos todos se tivermos memória- a guerra que fizeram no caso dos CTT que tinham uns títulos próprios e vendiam certifcados de aforro.

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    1. Parece simples...
      Mas sabes o que receio? Que nos "comam" tudo o que tivermos em euros, dando-nos o contravalor (calculado por génios que nos vão ao bolso mais uma vez) em "novos escudos"...

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  3. Ja tivemos esse choque mas ao contrário, quando o Euro entrou de repente e ele, em contracorrente da lei de Gresham, correu com a "má moeda". Todos os preços aumentaram indexados ao valor facial da nova moeda: um euro era igual em formato aos cem escudos e passamos a pagar a bica ao dobro do preço.
    Tal coisa não aconteceria se a introdução fosse progressiva, bem acompanhada e permitindo uma circulação dupla de moeda durante mais tempo.

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  4. Está visto que o que não faltam neste país é ideias...

    No entanto, um aspecto suscitado pela bela prosa do Charlie e que me parece muito descurado no panorama nacional é o seguinte:

    - A invasão de produtos externos comercializados em Portugal (e em muita da Europa) provem da China, maioritariamente, como é sabido. E todos sabem e falam das indecentes condições do trabalho naquele país, que tornam ridículo (para não dizer trágico) qualquer esquema concorrencial por parte da produção nacional. Mas como é que esses os produtos chegam aos nossos mercados internos? Isto é, quem importa esses produtos? E com que fiscalização ou controlo? E autorizações, há?

    Em tempos chamam-se-lhe as quintas colunas... E creio bem que estes interesses têm andado por demais encapotados. Certo é que assistimos ao pulular de lojas chinesas, como cogumelos, e nunca assistimos à abertura de alguma profusão de lojas holandesas, ou suecas, ou francesas, ou até espanholas ou alemãs, se excluirmos algumas grandes superfícies. Porquê, então, as chinesas? E aos milhares!

    Não há portugas a receber prebendas pela porta do cavalo para que se verifique e mantenha tal estado de coisas?

    Afinal, mesmo sem se considerar algum proteccionismo deslocado no tempo, que sentido faz escancarar a porta aos trapos vindos da China e assistir, impávidos, à destruição da nossa indústria têxtil, ainda para mais de muito superior qualidade? E este será um mero exemplo...

    Ora aqui está uma coisa que nunca percebi... nem ninguém explica. Querem ver que não há por aí uma boa mão-cheia de malinders (da família do Miguel de Vasconcelos) a encherem-se com a cena...?

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  5. ... Em tempos chamavam-se-lhes as quintas colunas - assim se deve ler.

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    1. Eu acho que nem sequer se dão ao trabalho de lhes enfiar o capote...

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    2. Olá Orca, um abraço amigão!. A grande invasão das lojas chineses remete-nos alegoricamente para a teoria do caos, que refere a fragilidade de equilibrio nos sistemas dinâmicos interdependentes. Em determinadas situações limite, um bater de asas de borboleta na China, pode provocar uma tempestade no outro lado do mundo. Não pelo bater de asas em si, mas pelo acréscimo mínimo mas determinante na soma de momentos críticos coincidentes e todos eles a confluir no mesmo sentido. No nosso caso, bastou uma chávena de Chá servido ao Bush, para o Barroso ser premiado com o tacho na União Europeia, e que serviu para o Malfadado Presidente Norte-Americano, se livrar da contrapartida que os Amarelos lhe exigiram aquando do negócio multi-ultra-multi-milionário: a venda de biliões de titulos de dívida do pais do Tio Sam. As lojas chinesas vieram como contrapartida dos negócios do Bush com o velho Império do Meio. E Barroso sabia de tudo, como sabia que não havia maciças nem massiças no Iraq. Mas uma vez na União Europeia e numa posição de privilégio, adivinhem lá porque é que a UE é tão exigente com a colher de pau, do pão feito artesanalmente, e do queijo de modo igual, e tão vistas grossas com as tintas tóxicas, os plásticos perigosos, as pilhas que derramam e levam mercúrio, etc etc etc???
      Tal como na teoria da borboleta, um copo de chá nos Açores pode mudar muita coisa em todo o mundo.

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    3. E parece que está tudo desligado...

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  6. Não me importa quantas moedas circulam, precisamos é que circulem muitas. De todas.
    Depressa!

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    1. Tu parece que estás com um guarda-chuva invertido a apanhar cavacas atiradas do cimo de uma igreja em Aveiro :O)

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    2. Mas um guardachuva de pastor Alentejano, que são quase uma chapeleta de um circo.

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